Caminha anda nas “bocas dos viajantes” há mais de dois séculos
• “Caminha Vista pelos Estrangeiros – Livros de propaganda de viagem publicados no estrangeiro entre 1820-1974”, exposição patente até 24 de outubro no Museu Municipal de Caminha
A exposição nasce de um trabalho de investigação realizado por dois docentes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vasco Ribeiro e Elisa Cerveira
Foto: C.M.C.
Infogauda / Caminha
O concelho de Caminha anda nas “bocas do mundo” há muito, muito tempo, e pelas melhores razões. E se hoje sabemos que o Turismo está consolidado enquanto forte vocação do território, agora também sabemos que essa tendência já se desenhava há pelo menos dois séculos. Quem por aqui passou, vindo dos quatro cantos do mundo, não ficou indiferente e a experiência ficou documentada, num espólio que pode agora ser admirado no Museu Municipal de Caminha, na exposição “Caminha Vista pelos Estrangeiros – Livros de propaganda de viagem publicados no estrangeiro entre 1820-1974”, que resgata um acervo essencialmente particular, mas não só, e o abre ao público, até 24 de outubro.
A exposição nasce de um trabalho de investigação realizado por dois docentes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vasco Ribeiro e Elisa Cerveira. Os investigadores partilham há muito o estudo científico de inúmeros temas, de que se destaca a investigação sobre propaganda de viagem e história da promoção turística de Portugal.
Na apresentação da mostra, sábado, Vasco Ribeiro contou que esta exposição partiu de um desafio lançado pelo Presidente da Câmara, Rui Lages, logo que tomou conhecimento da investigação. Na verdade, revelou o investigador, a análise dos múltiplos documentos cedo mostrou que Caminha parecia sobressair, até porque muitos forasteiros destacavam no Alto Minho dois concelhos: Caminha e Viana do Castelo, o que também é visível nos mapas antigos do território, que acompanham a mostra.
O Presidente da Câmara apoiou de imediato a ideia de partilhar com o público esta investigação, de carácter científico, que mostra um concelho diferenciador, um concelho de Caminha que deixou e deixa uma marca nos turistas e visitantes. Rui Lages recordou que as potencialidades turísticas se têm afirmado, hoje de um modo diferente e estrutural, lembrando que, desde 2013 “crescemos no número de dormidas 158%”, fruto de um trabalho de parceria, com os empresários da hotelaria e com o Turismo do Porto e Norte, cujo Vice-Presidente, Cancela Moura, participou na inauguração deste sábado.
A intenção é “alavancar estes nossos territórios, sublinhar o fator de atratividade e desenvolvê-lo”, disse o Presidente da Câmara, frisando a importância da exposição na promoção da Cultura.
A presente exposição resulta assim da consulta de duas mil obras, maioritariamente do espólio particular de Vasco Ribeiro, que tem por hábito visitar alfarrabistas por qualquer lugar onde passe nas suas deslocações, sejam profissionais ou de lazer. Esse trabalho foi complementado pela consulta de outras obras na Biblioteca Nacional, na Biblioteca Municipal do Porto e em fundos digitais como os da UNESCO.
Os comentários dos investigadores evidenciaram um enorme entusiasmo no trabalho realizado. A visita à exposição foi amplamente comentada, tendo-se destacado algumas descrições e algumas obras que se encontram nas vitrines.
Conforme referiu Elisa Cerveira, esta é uma exposição essencialmente bibliográfica, fruto maioritariamente de uma coleção que foi nascendo quase por acaso, hoje com mais de dois mil livros, mas revela uma visão do estrangeiro sobre Portugal: é uma perspetiva única, quando fazemos qualquer análise, porque tem a virtude de ser uma visão não enviesada pelo olhar pessoal e nacionalista, esta é uma visão isenta, de quem está fora e olha para Portugal, sublinhou.
Entre os livros analisados há os que fazem a descrição de viagens maioritariamente. A investigadora lembrou a prática inglesa, entre os mais abastados, de realizar uma viagem pela Europa e de que existem hoje livros – livros de viagem. Explicou que alguns são continuações das cartas que os viajantes enviavam para familiares e amigos, descrevendo a viagem, e que agora ajudar a suportar esta mostra.
Há muito para descobrir nos documentos, desde a descrição das mulheres, e das gentes, o acolhimento, as referências a Caminha, Moledo, Vila Praia de Âncora, Seixas e outros locais. O concelho de Caminha aparece descrito, nos documentos mais antigos citados, como um território de duas mil almas. Mas há também empresas e unidades identificadas e avaliadas pelos visitantes, como o Hotel Luso Brasileiro ou a Pensão Meira, muito destacada, de resto, na década de 50/60, o antepassado mais remoto do Hotel Meira.
Como referimos, a mostra é essencialmente bibliográfica, mas dela resultou um livro, que reúne os aspetos essenciais recolhidos a partir da investigação, e que será apresentado dentro de cerca de duas semanas.