30 de xul. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia
(103ª parte)





ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   


 "RMO" tem de dar algumas satisfações à Carta Europeia de Abadías Cistercienses, ao roteiro na íntegra do Caminho Português e à normativa internacional relativamente à paisagem. O "interface" luso-galego interrompeu-se por causa das cábalas desta consignatária, que não hesitou em reinventar ou reformular a natureza continuista do "caminho monacal" ao seu belo prazer. Deviamos sempre ter em conta o espírito universal dos caminhos a Compostela, bem como a idiossincrasia cisterciense da qual prendem-se muitas outras considerações que a "RMO" quer esquecer propositadamente. Para além disso, "lei do caché" vai prevalecer sempre sobre outros supostos neste "Verán no mosteiro", furtando-se assim um debate real sobre as condicionantes paisagistas e de espacialidade inerentes à problemática oiense atual. "RMO" nunca teve em conta a previdência tangível nas suas atuações, visto que não entram na sua agenda quaisquer correlatividades geográficas (Minho aquém ou  Minho além). Manda sim, imediatismo ou curtoprazismo numa envolvência típica de um certo açambarcamento teórico nas atitudes, nas maneiras de agir. Projeto urbanizador em Oia tem a liderança de uma "ACIGAL" que não está a saber matutar os efeitos negativos desses empreendimentos (em nebulosa, seriados, pareados, monoformais, etc.) tão abundantes na costa galega, geminando-os para isso com bens culturais atempadamente privatizados. Esse dualismo, insistimos, não bate certo, não tem assunto. Único mosteiro cisterciense à beira mar plantado serve-lhes de pretexto para planos de urbanização mais do que discutíveis.
 



 Caminhos de Santiago formam uma miríada de expressões itinerantes, simultâneas e universais. Temos o genuino Real Caminho Francês apartir do ano 1000 (com entroncamentos desde Irún - s.XIII-, Baztán, Roncesvalles, Somport, etc.) ficando a meia latitude entre o rico românico do norte palentino, La Ojeda, Boedo e Valdavia e o sul da provincia. É importante salientar como alí atingiu a escultura do românico hispánico uma das mais altas patentes plásticas na igreja de Santiago, em Carrión de los Condes (Palencia). Foi nestas bandas, aliás, que se gerou uma arte pré-românica de sabor astur, mozárabe ou de repovoamento -junto às plantas basilicais visigóticas- que dera argumentos ao pleno românico já liberto e expresso dos mosteiros, acabando por dar saida à adustez do Císter em todo o lado. Entretanto, manifestavam-se os gostos do românico- mudéjar em locais como Sahagún, Arévalo ou Cuéllar ou se criava uma dinâmica de fronteira duriense, assente e estável, através de templos como os de Toro ou Zamora. Alternava-se a pedra calcárea e o arenito, junto do tijolo, na Castela mais nortenha e marcava um rumo o emprego do granito na franja galego-portuguesa. A variedade dos caminhos compostelanos tem nome e renome: Vía da Prata desde Sevilha a Astorga, Caminhos Mozárabes, Caminho Sanabrés, Caminho de Madrid, Caminho Manchego, Caminho Castelhano-Aragonês, Caminho do Ebro, Caminho do Levante, Caminho do Suleste, Caminho da Lã (Lana), Caminho Catalão - por San Juan de la Peña e Zaragoza-. Da mesma maneira, desde a França confluiam as vías Tolosana (Toulouse), Podensis (Le Puy), Lemovicensis (Limoges) e Turonensis (Tours) sagrando o abraço cristão sul-ocidental de uma maneira que somente pode ser feita através dos caminhos compostelanos. Reforma do Císter (Carta de Caridade de 1119, de 1144 em Portugal) e Tratado de Alcanizes (1297) são determinantes para Portugal e para o caráter próprio dos itinerarios lusos a Compostela. Em simultâneo, evolução da fronteira face ao sul  ndicava o progressivo assentamento da arte românica nos grupos de Segovia, Avila ou em Salamanca (catedral velha). Em Soria registava-se uma pegada orientalizante nos exemplos de San Juan de Duero (arcos apontados de ferradura entrelaçados) ou San Juan de Rabanera. Os arcos ultrapassados ou arcos superiores ultra-semicirculares manifestavam-se de jeito importante um pouco por todo o lado mesmo no românico tardio soriano. Lembremos a arquitetura visigótica do século  VII e os seus arcos em ferradura, distintos dos mozárabe e árabe, pelo prolongamento da curva um terço do rádio e o desvio da linha do trasdós, que cai verticalmente sobre a imposta sem continuar paralela ao intradós. Com estas precedências, ou  em uníssono, a reforma cisterciense vai supor uma reação contra Cluny, cujo espírito estava presente nas manifestações românicas mais assinaláveis. O Císter propôs a desaparição da decoração em excesso e a procura de modelos mais singelos. Basearam para os seus mosteiros uma pobreza propositada ao erguê-los em lugares recônditos. Há um predomínio de plantas simples, uma simplificação nos suportes (estes rectangulares) nos que às vezes as colunas adossadas não chegam ao chão. Em poucas palavras, visava-se a desaparição da riqueza ornamental do românico. No entanto, os monges brancos do Císter aproveitam as inovações arquitetónicas em voga, tais como o arco apontado ou a abóbada de cruzaria, sendo que marcaram uma pauta nos seus exemplares notórios de transición ao gótico. É curioso como em Oia esta volta à austeridade patenteia-se igualmente na sua fachada setecentista (influência jesuítica e até do Estilo Chão português).

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