PATRIMÓNIO
Almeida na encruzilhada dos vaubanianos
(9ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Almeida
Importa referir alguns pormenores relativos à importância de dispor de uma rectaguarda fornecida de tropa e bem assegurada. A passagem do rio Côa determinava quem ocupava as suas margens, por quanto tempo e quais as reais intenções dos que poderiam virar sitiantes. Estavam em jogo duas realidades: o controlo do Côa e a permanente incerteza de que Almeida fosse uma verdadeira barreira de fronteira. Assim, a obra externa e o que nela se passava atingia um grau de importância decisivo suscetível de dar uma reviravolta aos acontecimentos. É oportuno dizer que fora da praça-forte existía um antigo paiol, a dois quilómetros para o Poente e perto do Côa, mal guardado e mal comunicado. Salientar também que ao nascente de Almeida, a um quilómetro de distância e preeminente, temos vestígios de uma luneta inimiga.
Textos franceses lembram esta e outras contingências. Poternas ou Portas Falsas, Surtidas, Praças de armas saintes e entrantes, Conservas ou Lunetas, Morteiros, condizem com espaços de resposta militar, como retaliação contra os que querem expugnar uma Praça. Nas “Memorias Políticas, Geográficas e Militares de Portugal (1762-1796). Inserto n° 41. Volume do Boletim do Arquivo Histórico Militar, Lisboa, MCMLXXI, (editado em língua francesa) aparece um documento bem interessante que passamos a traduzir: “Almeida fica na parte norte desta lezíria e deixa, entre ela e as serras perto de Sabugal, um espaço de oito a nove léguas (ou seja, entre 38 e 43 mil metros utilizando as velhas medidas) que consequentemente cobrem muito mal a fronteira do lado da Beira Alta. Esta praça dista um grande quarto de légua da margem direita do Côa; entre ela e esta ribeira encontram-se ravinas capazes de ocultá-la muito. Podendo o inimigo no meio destas pendentes se aproximar à praça a uma distância de 250 toesas (ou seja, 485 metros) para instalar as suas baterias, e mesmo voltar por essas ravinas de forma a atacar o Polígono que olha para o Nordeste (...)”.
“(...) Não há na praça nem casamatas, nem minas e o revestimento das obras e da contraescarpa é geralmente mau (...)”. Estes defeitos esenciais nas obras e do terreno não podem se corrigir sem uma despesa considerável que, entendo, sería bem melhor empregue noutro lugar (...)”. E ainda sublinha com rigor o seguinte: “Esta praça, não podendo ser considerada como chave da fronteira (…)”, “(...) não faria falta senão empregar os meios necessários para manter as obras que existem e construir as que são de absoluta necessidade(…)”.
Acrescenta-se neste texto um dado fulcral: Manter tropa perto do Côa e coesionar a ligação desta com a praça. Pede por isso o entrincheiramento do Convento da Nossa Senhora da Barca (a cerca de 500 toesas a poente de Almeida, ou seja 970 metros). Este posto consegue esquadrinhar tudo o que houver entre a planície e as ravinas. Completa o autor as observações aconselhando erguer um reduto entre o Convento e a Praça. Há uma relação causa-consequência neste raciocínio decorrente da extensão da fronteira e, vejam, da natureza do terreno. Almeida é uma obra permanente, uma correção permanente, muito embora única e bela.
(Continuará…)
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