19 de ago. de 2018

ALMEIDA (PORTUGAL)

PATRIMÓNIO

Almeida na encruzilhada dos vaubanianos

(7ª parte)


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Almeida 

 Em Almeida, pode ser salientado à partida o contraste entre o seu plano irregular e a própria regra geométrica convencional (hexágono regular), validando o entendimento entre malha urbana e cinto murado. Basicamente, estamos a frente de um desenho “à maneira” de Antoine de Ville, com um efeito de absorção teórica prolongado (na Escola francesa) que poderá eventualmente permitir permanências estilisticas no tempo. Aquí, dispomos de cortinas e bastiões SEM TENALHAS, embora estejam servidos por revelins. Este dado é importante, visto que o plano primigênio de Almeida parece-nos formalmente muito pouco alterado nas suas linhas elementares (que pertencem ao mundo prevaubaniano). Certo será, então, que a ausência de tenalhas, ou de orelhões, vá determinar a sua exclusão dos três sistemas Vauban comumente aceites (e postos em causa também). Assim foi estabelecido pelos sucessores e discípulos do Mestre, ainda que sem uma certeza plena, dadas as soluções aportadas por Vauban nos casos mais controvertidos (quartos, quintos sistemas na costa ou em montanha?,...será que existiram?). Da  esma maneira, a PERPENDICULARIZAÇÃO DOS FLANCOS dos baluartes relativamente às cortinas marca uma faixa cronológica concreta associada ao pre”, à precedência, muito embora existisse no dito Primeiro Sistema.  
  


 Já Blaise de Pagan propunha não só uma adaptação ao solo natural daquilo que se edificasse; também defendia a perpendicularidade dos flancos com as faces colaterais e a orientação dos bastiões para a linha de defesa. Vauban reconhecia-se neste autor e não ocultava essa inclinação. A aportação francesa é dado assente em Almeida; no entanto, haverá outras procedências.  
   

 Mesmo assim, cómo explicamos a extravagância dimensional do revelim de Santo António senão prendendo-se  do facto dele ser um avanço formal e material no plano? Isso vem  abonado, aliás, pelas próprias Portas Duplas ou pelos flanqueios. Um revelim digno de nota como este, com 18.578 m2 e formalidade coerente, até poderia ser adscrito à categoria de  “hornaveque” de reforço  tendo  em  conta  essa  a  sua  excepcionalidade, ainda que não recolha nem estreitez inicial, nem asas nenhumas, nem nada que se lhe pareça. Desculpem a heterodoxia, mas esse passo ao frente planimétrico rompe, quebra a estrela e destaca-se para a depresão do Foz Côa. Procura-se um alargamento visual em simultâneo com o debruçamento agudo. Não será a única traça desrespeituosa” no elenco dos arquitetos e engenheiros militares; antes bem, aparece com alguma normalidade nos esboços e aguadas. Endereçará este pormenor construtivo pela vía holandesa? A aparente singeleza de Almeida oculta outras realidades (por exemplo, o Revelim Duplo). Os acréscimos, as reformas no tempo revelam, por lógica, câmbios; ainda que a planta possa parecer sempre a mesma ou se cinja à Escola francesa. Andam aliás em trançamento postulados galos anteriores com reformas permanentes, tardias ou adiadas até os tempos dos posvaubanianos (Cormontaigne, Montalembert). 


 Em 1737, trinta anos após a morte de Vauban, o Major engenheiro Manuel de Azevedo Fortes fez uma proposta ousada para Almeida consistente no seguinte:  

 1)  Acrescentar traveses nos caminhos cobertos.  
 2) Uma tenalha simples entre os bastiões de S. Pedro e de Santo  António. 
 3) Um reduto no revelim de Sto. António.  
 4) Uma contraguarda frente ao revelim dos Amores.  
 5) Construir cavaleiros e caves acasamatadas dentro do baluarte de São João de Deus.  
 6) Caponeiras ao longo das cortinas para a defesa do fosso.
 7) Paiol junto ao Velho Castelo e   
 8) Quarteis acasamatados dentro da vila à prova de bomba. 

 De entre as propostas, ergue-se sim o paiol (que segue ditados vaubanianos, mas também de Belidor ou de u  Fay) como modelo estandardizado. As  traveses e o cavaleiro com casamatas são, como a tenalha e o reduto da meia-lua, trabalhos de pegada Vauban. Porém, a contraguarda está já contemplada por Blaise de Pagan e os quarteis de casamatas nas cortinas podem ter o carimbo do insigne diretor da Academia de Bruxelas, Sebastián Fernández de Medrano. Jorge Próspero de Verboom era aluno em tempos de tal entidade e não se importava de romper escalas nos seus revelins duplos (veja-se Cidadela de Pamplona) alargando-os. Daí a probabilidade ou expectativa “neerlandesa” nesse Revelim de Sto. António almeidense.  

(Continuará…)  

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