ALMEIDA (PORTUGAL)

PATRIMÓNIO

Almeida na encruzilhada dos vaubanianos  

(4ª parte)   

ENCONTROS POLIORCÉTICOS /Almeida

 Interessa-nos, antes de mais nada, estabelecermos uma ligação de Almeida com âmbitos de tradição prevaubaniana, plenamente Vauban, bem como sistemas post vaubanianos. O informe da nossa associação não deixa de citar as ligações existentes entre a vila murada de Longwy e Almeida, por  exemplo. Há outros exemplos (Le Quesnoy, Maubeuge,...) onde o que importa é o raciocínio e a maleabilidade do mestre à hora de dar soluções ao  binómio urbanismo/guerra. Quer em praças feitas “ex novo”, quer nessas outras “remaniés” (reformadas), tenciona-se o equilibrio entre a necessidade bélica e as condições basilares da população. O sistema defensivo perante os Paises Baixos espanhóis, chamado Pre-carré e impulsionado por Vauban, é nota plausível que visa arquiteturar a nova fronteira duma França emergente. Lá, sediam-se a Primeira e Segunda linhas como corredores fortificados; lá, tecem-se todos os saberes urbano-militares do génio de Bazoches. À fase do Pre-carré segue-lhe a dita Política das Reuniões, um momento histórico de apropiações territoriais das que Vauban será testemunha. 
   

 Em pior ou melhor estado, a primeira linha da fronteira nordeste é composta pelas seguintes praças: Dunquerque (Dunkirk), Bergues, Furnes (Veurnes), Kenocq, Ypres,  Menin,  Lille,  Tournai, Fort de Montagne, Condé sur l´Escaut, Valenciennes, Le Quesnoy, Maubeuge, Philippeville, Dinant e Givet-Fort-le-Charlemont. A segunda linha compreende Gravelines, Saint Omer, Aire-sur-la-lys, Saint Venant, Bethune,  Arras,  Douai, Bouchain, Cambrai, Landrecies, Avesnes sur Helpe, Mariemburg, Rocroi, Charleville- Mezieres, Sedan e Stenay. De nova feitura ou de velha malha, radioconcêntricas ou em dameiro, estes polígonos reflectem esse espírito de fronteira e uma linguagem comúm com  Almeida, a “estrela do interior”. Une-lhes um código prevaubaniano através de Antoine de Ville, que vai influenciar ao proprio  Sebastien le Prestre; Blaise de Pagan, que “paganisait” literalmente ao marquês e Allain Mannesson Mallet, admirador e admirado dele. De facto, o Tratado “Les  fortifications” (1628),  de de Ville, posterior aos tratados de  Errard-le-Duc, Jacques Perret e Samuel  Marolois, é seguido por Gilles de Saint Paul e Lassart em  Almeida.    

 Esta-se a operar uma mudança importante neste século XVII na arquitetura militar. Aos poucos e poucos os postulados franceses impõem-se através da geometria e a construção. Em Portugal houve alguma desavença entre a traça italiana, a francesa e a holandesa (vejam Elvas), mas Vauban acabará por se impor no cenário internacional.  

(Continuará…) 

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