14 de ago. de 2018

ALMEIDA (PORTUGAL)

PATRIMÓNIO

Almeida na encruzilhada dos vaubanianos 

(6ª Parte)    



ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Almeida

 Em 1641, o Governador da provincia da Beira  D. Álvaro de Abranches ordenava a feitura de quatro ou cinco redutos que circunscrevessem igreja e castelo. João de Saldanha de Sousa encarregou-se disso. Depois, Fernão Teles de Meneses, em 1642, a entrincheirou com pedra e barro. Assim principiava Almeida. Mais tarde, em 1646, o Conde de Serem diminuia as dimensões do cinto e adiantava os trabalhos. Porém, não estava esclarecido ainda um acabamento planimétrico desta praça.   

 Aparece aquí o engenheiro francês Pierre Gilles de Saint Paul, às ordens do marechal de campo Rodrigo Soares Pantoja, já em 1646. Trançavam-se assim militares nacionais e técnicos galos na tentativa de criar um corpo material construtivo com carimbo francês, inequívocamente prevaubaniano. Mesmo assim, o enclave em 1661 não tinha fosso nem estava inteiramente cercado. No entanto, o estilo de Antoine de Ville seguía-se com os mestres empreiteiros Maio e Vaz Heredes, não conseguindo entretanto dinheiro para colmatar as muralhas. Até que enfim, outros destes empreiteiros o conseguiram: João Gonçalves e Manuel Fernandes. Mesmo assim, a construção de Almeida dilata-se no tempo (1680 - 1736) revelando ideias chave no relativo ao seu verdadeiro, digamos ESTILO. O admirado livro de José Vilhena de Carvalho “Almeida, subsídios para a sua história”, Tipografia Guerra, Viseu, 1973; dá-nos dicas para uma, talvez, nova versão dos factos.
    


 Sem dúvida, a chave poderá residir não só nos tratados franceses pre-Vauban, senão na própria versatilidade do mestre Vauban (a sua porosidade teórica, de tudo admirável) e, ainda mais, na pertinaz definição, em 1762 e 1765, das chamadas “tabelas de Vauban” da parte do Condé de Lippe, bem como nas Observações Militares” do General Bohm, personagens absolutamente ligadas ao advir da praça militar beirã. O que parece evidente torna-se no caso de Almeida algo bem mais complicado. Se calhar, estamos a falar dum sítio militar estilisticamente prevaubaniano NO SEU CONJUNTO com elementos de requinte e pertença já contemporâneos de Sebastien le Prestre. A Escola de Fortificação francesa tem por exponente a Jean Errard-le-Duc (1554-1610) quem ergueu fortalezas em Abbeville, Amiens, Laon, Bayonne, Verdun, Beauvais, Antibes, Sisteron, Saint Tropez, para além de Calais ou  Montreuil. Sistemas precedentes como os de Jacques Andronet de Cerceu (1510-1584), Jacques Perret (1540-1610), Marolois (1572-1627), Salomón de Brosse (1571-1626), De Ville (1596-1656 ?) ou Blaise de Pagan (1604-1665), continuaram na contemporaneidade de Vauban através de Mannesson Mallet (1630-1706).  
   


 Vai ser Blaise de Pagan, espantosamente, quem mais influenciará Vauban. Sábe-se que os três sistemas postos em prática pelo Marquês têm pegada teórica paganiana. Isto quer dizer uma coisa, ou várias: o recuo no tempo moderno de suposições atribuíveis ao próprio mestre Vauban. Isto, por isso, se traduz numa valência tangível do prevaubaniano levada à prática depois. Os experimentos em vida de Vauban (por exemplo, os assédios de Maastricht, Louxemburg ou Philipsbourg, e outros) têm na origem um “quinhão” participativo de Pagan. Todavia, mais surpreendente será a idea provável duma CONSTANTE CONSTRUTIVA, ALARGADA NO TEMPO, QUE FICOU NOS PATRÕES MENOS ATUALIZADOS. Nóte-se que as propostas feitas por AZEVEDO FORTES (1737-1738), ALEXANDRE DE CHARMONT (1762) ou o CONDE DE LIPPE (1764) têm equivalência cronológica quer com Cormontaigne (1695-1752), quer com Montalembert (1714-1800) e até com Carnot, todos posvaubanianos. 


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