TRIBUNA ABERTA
Santa Tegra foi procissionada o passado dia 23
Foto: Infogauda
Foto: Infogauda
Juan Badas
Santa Tegra foi procissionada o passado dia 23 no picoto. Fiéis e menos fiéis acompanharom à santa, devidamente abrilhantada para o evento. A talha dela distribui esparsamente um cabelo quase que humano, restando divinidade à figura toda. Um certo grau de morbidade ambulante coroa esse andor de portantes, garantindo no entanto umha devoção que nunca minguou. A escala nom conta para a intensidade dos crentes; da mesma maneira, o tamanho dos santos passeados nas pequenas vilas minhotas aumentam inversamente os aparatos organizativos.
Lá está presente a evidência da morte. Ontem estive na Igreja de Sam Vítor, em Braga; calhou-me um velório iluminado nom só por velas, mas também por sanefas douradas, retábulo piramidal de ascensom em Cristo, elevaçom pura que tinha em baixo pobres mortais sacudidos pola dor. Dezenas de templos na cidade patenteiam isso mesmo, o atavismo inesperado numha urbe que caiu nas pressas, no vácuo do quotidiano, mas que de súpeto, só entranhando-se no recanto do que deveras importa, manifesta umha autenticidade que fai de tanto peralvilho, de tanto divo em falso, pura figura triste dos tempos que nos toca viver.
O novo e o que tem transcendência fazem regueifa, trançam-se em Braga. Testemunhei aquilo que é-lhes feito aos estudantes caloiros, entrantes, lá ao pé da Igreja dos Congregados. As famosas praxes, a malta qué é praxada, ajoelha no chán, rola no relvado, é submetida pola esperteza e autoridade dos mais trabalhados en matéria académica, mergulha num ritual que cada vez mais pessoas rejeitam. É chocante a juventude dos rostros alí testados a contrastar com brincadeiras mais ligadas ao mundo da tropa, à protelaçom um tanto humilhante dos iniciados. Mas, reparem, isso é tradiçom…
Portugal revê as suas valências todos os anos, todas as estaçons, a todos os níveis. Há muito atavismo que relembra umha história onde andam imbricadas a morte e a vida, talvez todo o trabalho e custo humano que trouxo a Restauraçom histórica do livre fazer.
Nas aldeias fica petrificado um modo de aconchegar ao falecido bem diferente daquele que se mercadeia nos famosos tanatórios espanhóis. Lá, mesmo com calores, se acarinha ao morto até quase dar pivete e logo a seguir, fecha-se o caixom e decorre o cortejo para o cemitério. Simples e veraz.
Conhecí Augusta dous anos depois de ter sepultado a sua irmá, que tirou a vida, matou-se por um despeito amoroso. Pronto, envenenou-se, nom conseguiu suportar esse desamor. Mas a Augusta fixo questom de ver, falar e chorar a morta, conseguindo exumar o corpo. Comentáva-me que ela estava toda calma, toda limpa, toda branquinha. O tal anseio teve a sua realizaçom e Augusta ganhou paz e sossego. Eis o barroquismo do povo vizinho.
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