PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(125ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Não tarda, os proprietários do mosteiro de Oia terão por força que admitir que reabilitação do cenóbio vai ligada à implementação da tal urbanização de novo cunho (isto já foi expresso e reconhecido). Esta lógica perversa, abençoada desde o Círculo de Empresários de Vigo, entra em clara rota de colisão com as mais mínimas disposições relativas ao respeito pelas pré-existências, ao 'estatus arqueológico' do local (defensável até mais não) e, enfim, à necessária estipulação de um território precisado de espaço, de envolvente e de projeções ligadas diretamente às considerações paisagistas. Vamos falar por isso do mosteiro beneditino de São Miguel de Bustelo (joia quanto a preservação da envolvente). Bustelo é freguesia pertencente ao concelho de Penafiel, distrito do Porto. Ficamos admirados por este, diga-se de vez, território que se manteve intacto com o passar do tempo. Este grande espaço pode respirar e trascender autonomia própria, com ossatura e espírito ligados ao seu aqueduto, aos campos e à personalidade que se prende do facto de ser parte substantiva e simbólica do mandado de Bento de Núrsia e a sua irmã Escolástica (bem homenageados no interior do templo). Uma chamada 'Quinta da Eira' espaçosa ou uma escola-cantina para miúdos não interferem naquela espacialidade autêntica. Se de alguma coisa está carente o cenóbio oiense é justamente disso, de espaço através do qual podermos experimentar alívio e projeção visual !SUFOCAÇÃO DE UMA PAISAGEM DEIXA AOS DA "RMO" INDIFERENTES. Isto não tem assunto! Por estas e outras questões temos de lutar pelo indeferimento do tal projeto, sem réstia de dúvida. A coisa é muito mais simples do que querem transmitir estes senhores vindos da olívica. Projeto urbanizador e fecho do pátio das Laranjeiras são dupla cacetada na paisagem e nas pré-existências; CONFERIMOS COM CLAREZA TAL AMEAÇA DESDE O MOSTEIRO DE BUSTELO e desde a simples comparativa: a) projeção sul-norte de 220 metros de comprimento desde o caminho do Olivão - cruzeiro e capela de São Sebastião - até último claustro; b) projeção ao leste de 248 metros de comprimento; c) perímetro mínimo de 2.360 metros de culturas em redor do conjunto arquitetónico passíveis de oferecer umas condições de paisagem mantida.
Isto repete-se noutros cenóbios (vejam cerca monástica de Tibães (beneditino), Tarouca (cisterciense), Pombeiro (beneditino), Travanca (beneditino), Alpendurada (beneditino) ou cinto verde do mosteiro de Paço de Sousa (beneditino), em Penafiel). Há outros exemplos, é claro, de isolamento paisagista meritório, designadamente num 'land' periurbano fagocitado pelo omnipresente íma portuense. 'Hinterland' nortenho possibilita erros que tiveram origem nos anos sessenta do passado século, indo dar na destruição de incontáveis territórios e no advento das paisagens-testemunha sobreviventes. Para além disso, os mosteiros inseridos em malhas urbanas têm as suas próprias casuísticas associadas aos planos diretores municipais (PDM). Bustelo arranjou uma safa relativamente às questões dessa paisagem que nos deixam admirados, constituindo-se em autêntica ilha afastada dessa natural tendência ao descuramento nestas áreas próximas do Porto. Assim, conurbações e realidades próprias dos espaços periurbanos e das cidades-dormitório criaram corredores desfiguradores que alteraram tudo e mais alguma coisa (vejam Paredes, Rebordosa Valongo ou Ermesinde). Esta será a razão última pela qual projeto urbanizador em Oia é rejeitável de todo; "patos bravos" deviam estar de "malas aviadas" em tudo quanto fosse sítio. Sinal de inequívoco avanço da vindicação paisagista será sem dúvida o rejeitamento das promoções urbanas costeiras.
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