16 de xan. de 2021

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia

(125ª parte)  


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia  

 Não  tarda,  os  proprietários  do  mosteiro  de  Oia  terão  por  força  que  admitir  que  reabilitação  do  cenóbio  vai  ligada  à  implementação  da  tal  urbanização  de  novo  cunho  (isto  já  foi  expresso  e  reconhecido).  Esta  lógica  perversa,  abençoada  desde  o  Círculo  de  Empresários  de  Vigo,  entra  em  clara  rota  de  colisão  com  as  mais  mínimas  disposições  relativas  ao  respeito  pelas  pré-existências,  ao  'estatus  arqueológico'  do  local  (defensável  até  mais  não)  e,  enfim,  à  necessária  estipulação  de  um  território  precisado  de  espaço,  de  envolvente  e  de  projeções  ligadas  diretamente  às  considerações  paisagistas.  Vamos  falar  por  isso  do  mosteiro  beneditino  de  São  Miguel  de  Bustelo  (joia  quanto  a  preservação  da  envolvente). Bustelo  é  freguesia  pertencente  ao  concelho  de  Penafiel,  distrito  do  Porto. Ficamos  admirados  por  este,  diga-se  de  vez,  território  que  se  manteve  intacto  com  o  passar  do  tempo.  Este  grande  espaço  pode  respirar  e  trascender  autonomia  própria,  com  ossatura  e  espírito  ligados  ao  seu  aqueduto,  aos  campos  e  à  personalidade  que  se  prende  do  facto  de  ser  parte  substantiva  e  simbólica  do  mandado  de  Bento  de  Núrsia  e  a  sua  irmã  Escolástica  (bem  homenageados  no  interior  do  templo).  Uma  chamada  'Quinta  da  Eira'  espaçosa  ou  uma  escola-cantina  para  miúdos  não  interferem    naquela  espacialidade  autêntica.  Se  de  alguma  coisa  está  carente  o  cenóbio  oiense  é  justamente  disso,  de  espaço  através  do  qual  podermos  experimentar  alívio  e  projeção  visual  !SUFOCAÇÃO  DE  UMA  PAISAGEM  DEIXA  AOS  DA  "RMO"  INDIFERENTES.  Isto  não  tem  assunto!  Por  estas  e  outras  questões  temos  de  lutar  pelo  indeferimento  do  tal  projeto,  sem  réstia  de  dúvida.  A  coisa  é  muito  mais  simples    do  que  querem  transmitir  estes  senhores  vindos  da  olívica.  Projeto  urbanizador  e  fecho  do  pátio  das  Laranjeiras  são  dupla  cacetada  na  paisagem  e  nas  pré-existências;  CONFERIMOS  COM  CLAREZA  TAL  AMEAÇA  DESDE  O  MOSTEIRO  DE  BUSTELO  e  desde  a  simples  comparativa:  a)  projeção  sul-norte  de  220  metros  de  comprimento  desde  o  caminho  do  Olivão  -  cruzeiro  e  capela  de  São  Sebastião  -  até  último  claustro;  b)  projeção  ao  leste  de  248  metros  de  comprimento;  c)  perímetro  mínimo  de  2.360  metros  de  culturas  em  redor  do  conjunto  arquitetónico  passíveis  de  oferecer  umas  condições  de  paisagem  mantida.  

 


  

 Isto  repete-se  noutros  cenóbios  (vejam  cerca  monástica  de  Tibães  (beneditino),  Tarouca  (cisterciense),  Pombeiro  (beneditino),  Travanca   (beneditino),  Alpendurada  (beneditino)  ou  cinto  verde  do  mosteiro  de  Paço  de  Sousa  (beneditino),  em  Penafiel).  Há  outros  exemplos,  é  claro,  de  isolamento  paisagista  meritório,   designadamente  num  'land'  periurbano  fagocitado  pelo  omnipresente  íma  portuense.  'Hinterland'  nortenho  possibilita  erros  que  tiveram  origem  nos  anos  sessenta  do  passado  século,  indo  dar  na  destruição  de  incontáveis  territórios  e  no  advento  das  paisagens-testemunha  sobreviventes. Para  além  disso,  os  mosteiros  inseridos  em  malhas  urbanas  têm  as  suas  próprias  casuísticas  associadas  aos  planos  diretores  municipais  (PDM).  Bustelo  arranjou  uma  safa  relativamente  às  questões  dessa  paisagem  que  nos  deixam  admirados,  constituindo-se  em  autêntica  ilha  afastada  dessa  natural  tendência  ao  descuramento  nestas  áreas  próximas  do  Porto.  Assim,  conurbações  e  realidades  próprias  dos  espaços  periurbanos  e  das  cidades-dormitório  criaram  corredores  desfiguradores  que  alteraram  tudo  e  mais  alguma  coisa  (vejam  Paredes,  Rebordosa    Valongo  ou  Ermesinde).  Esta  será  a  razão  última  pela  qual  projeto  urbanizador  em  Oia  é  rejeitável  de  todo;  "patos  bravos"  deviam  estar  de  "malas  aviadas"  em  tudo  quanto  fosse  sítio.  Sinal  de  inequívoco  avanço  da  vindicação  paisagista  será  sem  dúvida  o  rejeitamento  das  promoções  urbanas  costeiras. 

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