13 de xan. de 2021

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia

(124ª parte) 

 

Símbolos beneditinos fundamentaram sempre apogeu do Císter. Santo Tirso (Portugal)
 

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia

 Balestreiro,  seteira,  brecha,  "embrasure",  "aspillera",  "meurtrières"   são  acepções  frequentemente  empregues  na  terminologia  militar.  Em  Oia,  bateria  linear  costeira  do  seu  mosteiro  não  tem  sido  estimulada  para  uma  compreensão  geral  de  un  cenóbio-quartel  à  beira  mar  plantado.  Vamos  colocar  uma  pergunta  de  natureza  poliorcética  sobre  a  função  castrense  associada  à  estabelecimentos  religiosos  (tão  abundantes  aí  perto,  em  Portugal).  Essa  realidade  não  esteve  dissociada  do  mundo  monacal,  antes  bem  criou  ligações  inegáveis  que  tornaram  evidente  uma  tarefa  dissuasora,  previdente,  em  zonas  onde  o  Císter  interveio  diretamente  na  dita  economia  ativa  de  uma  comarca.  Monges  brancos  ficaram  alí  sozinhos  a  rejeitarem  ataques  impiedosos  de  piratas  em  toda  a  orla  costeira  galego-portuguesa,  já  em  época  bem  recuada.  Reconhecimento  filipino  adveio  fôlego  para  um  caráter  poliorcético  daquele  espaço  monacal  que  hoje  em  día  minoriza-se,  talvez  por  forma  a  restar  protagonismo  a  componentes  óbvias  que  legitimam  a  implementação  de  espaços  próprios,  de  defesa,  herdados  e  mantidos  pelos  monges.  Poderá  não  ser  questão  menor  vindicar  a  essência  de  uma  bateria  militar  e  de  um  espaço  murado  de  talude,  alamborado,  onde  ficam  ressaltados  pormenores  naturalmente  vinculados  com  a  mais  pura  das  expressões  poliorcéticas  (passadiço  militar  não  é  ainda  visitável,  sendo  isto  um  contrasenso;  limitações  das  visitas-guiadas  são  uma  realidade).  Já  fizeram  contagem  das  seteiras    dispostas  nos  muros  de  fecho  à  direita  da  fachada,  segundo  olhamos  pra  ela?  Com  certeza  que  não  foi  um  trabalho  de  improvisação,  mas  sim  decorrente  de  um  pré-cálculo  evidente  numa  zona  de  guerra,  digamos  assim.  Bocana  marinha  do  mosteiro  abre  interrogantes  interessantes  sobre  a  verdadeira  situação  de  frontalidade  de  um  território  não  unicamente  vocacionado  para  esse  "ora  et  labora".  Monges  houve  de  toda  condição,  cientes  e  sabedores  de  que  viviam  "in  extremis"  num  território,  seu  aliás,  sujeito  a  eventos  inesperados,  que  todavia  provocaram  algúm  que  outro  desleixo  dos  mais  renitentes  a  entrarem  diretamente  em  confronto  bélico  (é  curioso  como  álibi  religioso  criou  em  simultâneo  preguiça  e  alguma  deserção  nas  fileiras  de  monges  desregrados  que  foram  reconduzidos  apartir  da  adesão  à  Congregação  Cisterciense  de  Castela;  no  entanto,  tenhamos  de  ser  compreensivos  com  tais  hábitos).  Tal  foi  a  dependência  dos  abaciais  da  "coisa  militar",  quer  dizer,  entrarem  em  confronto,  que  até  as  traseiras  no  pátio  dos  Laranjais  estejam  ainda  fechadas  por  muração  militar  (é  isso  que  "RMO"  não  diz,  nem  admite,  procurando  ELIMINAR  PRÉ-EXISTÊNCIAS  QUE  DEVIAM  ERA  SEREM  INDICIADAS  PERANTE  OS  ARQUEÓLOGOS,  AFETOS  OU  NÃO  À  XUNTA  GALEGA,  SENSÍVEIS  A  ESTES  FUTUROS  DESMANDOS).

   


 

 Epistemologia  patrimonial  NÃO  DEPENDE  UNICAMENTE  DE  POSTULADOS  OFICIAIS,  visto  que  a  defesa  cabal  desse  património  material  vai  ser,  talvez,  finalmente  absorvido  por  atores  e  grupos  independentes  do  poder.  Não  será  lógico  denunciar  a  protelação  a  que  foi  submetida  a  componente  militar  no  mosteiro  de  Oia?  Instrumentalização  bem  interesseira  fala  ao  desbarato  de  um  talude  como  se  de  un  socalco  se  tratasse,  aquando  foi  erguido  propositadamente  para  funções  castrenses.  Caso  fossem  terraplanadas,  aterradas,  as  mencionadas  pré-existências  militares  no  pátio  das  Laranjeiras  ter-se-á  consumado  ATENTADO  PATRIMONIAL  SOBREVINDO.  Moral  da  história:  a  pugna  entre  crescimento  económico-turístico  e  salvaguarda  patrimonial  é  servida  ostensivelmente  por  causa  das  interferências  de  normativas  setoriais  que  fazem  juz  precisamente  dessa  ostensibilidade.  Tem  um  "sei  lá"  qualquer  esse  jejum  regulamentar,  as  ditas  disposições  gerais,  tão  presente  no  pouco  acompanhamento  que  faz  das  leis  maiores  ou  básicas,  que  fica  ao  nu  a  natureza  definidora  das  administrações  públicas  todas.  Gera-se,  aliás,  uma  desconfiança  mútua  que  acaba  em  dar  num  discurso  para  nós  absurdo:  federalização  versus  centralização  na  interpretação  da  gestão  do  património  cultural,  quando  o  certo  seria  as  duas  acompanharem  estes  processos  em  simultâneo,  o  que  redundaria  em  termos  de  eficácia  a  todos  os  efeitos.  Sendo  alvo  de  discussão,  leis  estatais  ou  autonómicas  sobre  património  cultural  podem,  infelizmente,  não  ter  compenetração  prática  e  nada  prova,  aliás,  que  o  autonomismo  tenha  prodigado  un  conhecimento  mais  próximo,  mais  de  seu,  dos  bens  culturais  de  cada  canto  geográfico.  De  nada  vai  servir  fazer  comparativas  entre  federalização  ou  recentralização  na  gestão  do  día  a  día  dos  bens  culturais  se  na  Galiza,  por  exemplo,  tenhamos  coroado  com  'sentidinho'  a  prevalência  do  crescimento  económico  "per  se"  a  outras  considerações  bem  mais  próprias  do  fenómeno  cultural.  É  por  isso  que  não  haja  uma  REGULAMENTAÇÃO   bastante  das  leis  e  que  muitas  Comunidades  Autónomas  adoleçam  de  tal  carência;  é  por  causa  disso  que  se  queira  simplificar  a  gestão  do  património  cultural  privando  ao  Ensino  Básico  do  seu  inabalável  direito  ao  conhecimento  da  herança  patrimonial.  É  decorrente  disso  que  se  delegue  aos  concelhos  inexperientes  uma  responsabilidade  patrimonial  que  disfarça  evidentes  conluios  entre  atores  vários.   

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