PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(78ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Não há comparativas odiosas no caso que nos ocupa. Projeto urbano "ex novo" em Oia constitui por si só um completo disparate; vamos tentar por isso desvendar a essência desta futura desfeita justamente servindo-nos de exemplos passados e presentes do mundo monacal. Invocando mesmo erros recuados no tempo, por exemplo no mosteiro cisterciense de Leyre (Navarra), abordar-se-á a oportunidade de um novo REVISIONISMO aplicável na forma e no fundo à generalidade dos conjuntos abaciais. Foi por causa desses erros construtivos de nossa contemporaneidade que estamos em condições, no momento presente, de reclamar uma nova ótica e um novo parecer relativamente a estes. Existiram e existem muitas corresponsabilidades na avaliação dos resultados finais no campo do património cultural. Atores envolvidos na sua gestão não podem fugir hoje às responsabilidades.
No caso de Leyre, mosteiro cisterciense que acolhe hoje uma comunidade beneditina de vinte membros, pano de fundo será a construção, nos anos cinquenta da passada centúria, de um anexo residencial de 32 quartos nos alicerces do que foram duas asas do antigo claustro românico. Foi pertinente tal empreendimento? As dúvidas multiplicam-se, retroalimentam-se, visto que isto vai gerar morfologias ligadas ao CONFORMISMO VISUAL, À ACEITAÇÃO PROGRESSIVA DAQUILO QUE NÃO É GENUINO. Asistimos, impávidos e serenos, ao desmantelamento das velhas plantas monacais, à deturpação espacial e morfológica destas mercê do emplastro, do acréscimo construtivo. Fazer citação do projeto urbano em Oia é simplesmente ridículo e caricato se comparado com a realidade de outros mosteiros que, apesar de tudo, mantiveram uma linha comportamental de mínimos. De facto, falamos desta problemática com o prior de Leyre, quem nos disse que era difícil naquela altura (anos 50 do século XX) opor qualquer discrepância nas instâncias oficiais navarras. De alguma maneira, confirmam-se duas coisas decorrentes dessa realidade: Uma, oficialismo e linha de "estorvo" da parte do "Instituto Príncipe de Viana"; dois, ilações a tirar no momento presente por forma a não repetirmos erros desse passado. "Instituto Príncipe de Viana" depende do governo de Navarra e tem sobejo ascendente e autoridade (tem estatuto de direção geral de Cultura) naquela comunidade autónoma. A sua aportação à cultura não tem réstia de dúvida. Mais ainda, o estabelecimento de denominadores comuns da parte do "IPV" relativo a monumentos monacais assenta linhas vermelhas de gestão em tudo o que tenha a ver com as envolventes destes (aviso a "Kaleido", a "RMO" ou a "Vasco-Gallega de Consignaciones", que afinal são a mesma coisa).
Revisionismo antes citado poderá fazer um bom trabalho complementar, quanto mais não seja a bem de um patrimonialismo que evite essas manifestações brutalistas presentes em cenários como Oia. Revisionismo na positiva que saiba harmonizar novos e velhos posicionamentos, justamente para desvendar truques como os de Oia. Os antes citados DENOMINADORES COMUNS, presentes nos cinco mosteiros navarros ligados ao Císter (Fitero, Irantzu, Iratxe, La Oliva, Leyre e Tulebras) marcam a diferença e dão rotundas negas a projetos urbanos como os de Oia. No próximo capítulo falaremos da Lei do Património Cultural de Navarra e das paisagens alí presentes; também do mosteiro de Fitero.
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