5 de mar. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(187ª parte)  

  

Santa Maria de Carvoeiro, mosteiro beneditino e pertencente à 'Associação Portuguesa dos Jardins Históricos'


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   

 Os  conteúdos  relativos  à  hidraúlica  cisterciense  são  sobejamente  incisivos  na  temática  dos  fundamentos,  dos  alicerces  do  edificado  monástico.  Por  isso,  'Ana  Patrícia  R.  Alho'  (Investigadora  Colaboradora  do  Instituto  de  História  da  Arte  da  Faculdade  de  Letras  da  Universidade  de  Lisboa)  faz  este  apontamento:  'A  sede  e  a  dependência  da  água  implicaram  que  os  cenóbios  fundeiros  estivessem  debaixo  a  ameaça  constante  de  inundações  provocadas pelas  torrentes  do  rio  ou  ribeiro  próximos.  Por  isso,  a  generalidade  dos  complexos  abaciais  à  borda-d'água  respeita  o  leito  das  cheias  ou  ergue-se  sobre  um  aterrado  ou  plataforma  artificial  que  os  protege  desses  alagamentos  devastadores,  além  de  dificultar  as  ocorrências  de  humidade  ascensional  nas  construções.  As  medidas  cautelares  de  TERRAPLENO,  MODELAÇÃO,  NIVELAMENTO  E  COMPACTAÇÃO  da  área  crítica   aluvial  obrigaram  ao  projeto  e  à  execução  simultânea  de  várias  infra-estruturas  hidro técnicas  e  sanitárias  específicas  e  complexas,  adaptadas  previamente  à  configuração  do  sítio  e  à implantação  sobreposta  e  posterior  dos  diversos  edifícios  regulares.    

 Eram  OBRAS  PRÉVIAS  AO  LEVANTAMENTO  DOS  EDIFÍCIOS  COMUNITÁRIOS,  BEM  COMO  TRABALHOS  E  ATIVIDADES  DE  EXPLORAÇÃO  E  TRANSFORMAÇÃO  DA  PAISAGEM  RURAL.  RESUMEM  O  DESENHO  E  HUMANIZAÇÃO  DA  PAISAGEM  CIRCUNDANTE'.  Lembremos  que  a  preocupação  por  estas  questões  teve  o  seu  reflexo  no  Congresso  realizado  em  Alcobaça,  nos  dias  14  a  17  de  junho  de  2012,  sob  a  direção  de  José  Albuquerque  Carreiras.  Preocupação  igualmente  expressa  a  finais  do  século  passado,  na  década  dos  noventa,  nos  colóquios  de  Royaumont,  Arrábida  e  Regensburg.  Estas  considerações  querem  criar  uma  precedência  acusatória,  um  postulado  do  'SER  DO  CONTRA'  para  denunciar  e  estabelecer  um  contraditório  atempado  acerca  das  PRETENSÕES  E  FACILITAÇÕES  MESQUINHAS  E  ACTOS  ABUSIVOS  DO  INTERESSE  PRIVADO  ECONÓMICO -  ESPECULATIVO,  QUE  APAGAM  OU  OCULTAM  O  SEU   VALOR  E  SIGNIFICADO  HISTÓRICO- PATRIMONIAL.  Palavras  de  Jorge  Virgolino  Ferreira  que  denotam  um  claro  aviso  à  navegação.    




 No  último  'Informe  de  Sustentabilidade'  da  'RMO'  achamos   que  continuam  na  mesma,  que  pecam  de  unidirecionalidade,  que  provavelmente  deixaram  a  pesquisa  arqueológica  'na  berma'.  Para  além  disso,  confundem  propositadamente  à  opinião  pública  relativamente  ao  caminhos  jacobeus  (têm  uma  imprensa  olívica  ao  seu  serviço)  e  os  diferentes  resultados  revelam  um  nítido  interesse  urbanizador.  Já  o  disse  claramente  o  senhor  Alberto  Barbosa  (Associação  dos  Amigos  do  Caminho  Santiago - AACS)  e  também  o  senhor  Luis  Pedro  Martins  (Turismo  do  Porto  e  Norte  de  Portugal - TPNP)  acusando  diversos  atores  envolvidos  nesta  trama,  porque  esta  história  toda,  o  caso  em  litigância,  ferve  em  lume  brando,  promete  eternizar-se  sem  fim  à  vista.  'Informe  de  Sustentabilidade'  visa  concretizar  uma  urbanização  que,  da  sua  vez,  tira  partido  dos  erguidos  precedentes  absorvendo-os.  Dados  ao  seu  favor,  resultados,  percentagens  sublinham  a  tentativa  de  mercantilizar  e  banalizar  tudo  em  redor.  Previsível  desprezo  pela  arqueologia  reveladora  poderá  ser  um  dado  assente.  Cabe  dizer  que  o  terrapleno  geral  da  superfície  monástica  responde  em  Oia  a  constantes  poliorcéticas,  para  além  de  outras.  Segundo  a  autora  Ana  Patrícia  R.  Alho  'A  escolha  e  ocupação  dum  sítio  cisterciense  corresponde-se  com  a  tríade  fundamental  do  'GENIUS  LOCI CISTERCIENSE':  ÁGUA,  PEDRA  E  ISOLAMENTO.    

(Continuará)  

 Artigo precedente.

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