13 de mar. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 

(189ª parte) 


Vista da igreja paroquial e mosteiro de Santa María de Oia

Foto: Santiago Baz Lomba
   

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   

 Será  que  a  linguagem  da  arqueologia  "oficial"  em  Oia  está  blindada,  restringida,  subordinada?  Não  se   menciona,  de  todo,  a  hidraúlica  inerente  dos  mosteiros  do  Císter, sendo  em  Oia  exponencial  e  justificativo  para  uma  revisão  total  do  realizado  até  o  momento  e  para  pôr  em  causa  as  próprias  equipas  arqueológicas  alí  presentes.  Por  enquanto,  tem  cabimento  a  paragem  indefinida  de  toda  obra  futura.    

 Vamos,  no  entanto,  apurar  conteúdos  ineludíveis  expressos  pelos  defensores  dessa   hidraúlica  particular:  'Para  a  concretização  da  empresa  monástica,  nem  a  'Regra  Beneditina'  nem  os  'Estatutos  da  Ordem' (Ordem  Cisterciense  é  monástica,  católica,  beneditina  e  reformada,  cujos  fundadores  são  Bernardo  de  Claraval-Clairvaux,  Roberto  de  Molesme,  Estevão  Harding  e  Santo  Alberico  de  Císter) prescrevem  ou  fixam  quaisquer  instruções  de  trabalho  ou  procedimentos  técnicos  gerais  ou  específicos  acerca  da  arquitetura,  do  abastecimento  ou  evacuação  da  água  ou  da  irrigação  agrícola.   Esta  "falta"  de  um  diretório  formal  pode  causar  estranheza,  por  quanto  essas  obras  seriam  impensáveis  sem  os  conhecimentos  e  as  competências  aplicadas  do  Quadrivium  (Aritmética,  Geometria,  Música  e  Astronomia).  O  'segredo'  ou  a  obscuridade  normativa  não  surpreendem  nem  são  excepcionais.  Devem-se  aos  métodos  coevos  de  transmissão  oral  e  restrita  cifrada  dos  sabores  práticos  adquiridos  directamente  nos  estaleiros  das  construções,  para  além  de  poderem  flexibilizar  ou  suscitar  ajustamentos  aos  costumes  e  às  possibilidades  autóctones  próprios  dos  diferentes  sítios  de  fundação'.   

 


 Mas  falemos  de  Alcobaça  e  estabeleçamos  uma  comparativa  com  Oia.  Ambos  mosteiros  são  cistercienses,  sendo  que  o  primeiro  é  representativo  na  Península  Ibérica  desse  Císter,  bem  como  possuidor  de  um  vasto  sistema  hidraúlico  ainda  por  desvendar.  A  pesquisa  é  recente,  promissória  e  impulsionadora  de  trabalhos  recentes  que  não  podem  ser  postos  de  parte,  nomeadamente  por  grupos  privados  especulativos,  sujeitos  ao  'limiar  de  rendibilidade'  (veja-se  'RMO').  Eis  o  miolo  da  questão.  Continuamos  com  as  apreciações:  'Qualquer  mosteiro  para  funcionar  com  as  condições  higio-sanitárias  adequadas,  necessitava  de  uma  rede  hidraúlica  de  dupla  estrutura  sólida,  técnicamente  eficiente  na  forma  e  no  traçado,  o  que  não  era  excepção  em  Alcobaça.  Assim  sendo,  desde  a  captação  de  água  por  corrente,  seu  transporte  por  gravidade,  armazenamento  e  distribuição  pelo  interior  da  abadia,  até  a  evacuação  normal  dos  afluentes  domésticos  e  pluviais,  todo  foi  pensado  e  construído.  Os  monges  necessitavam  de  sistemas  de  abastecimento  de  água  para  a  cozinha,  para  beber,  para  a  sua  higiene  corporal,  para  o  saneamento  de  latrinas,  para  fins  agrícolas  e  atividades  industriais'.      

 Em  Alcobaça,  repare-se  bem,  durante  a  segunda  metade  do   século  XIX  e  as  duas   primeiras  décadas  do  século  XX  as  obras  realizadas NÃO OBEDECERAM A UM  PROJETO  DE  RESTAURO  SISTEMÁTICO  E  CONTINUADO. Esta  constante  manifesta-se  em  grande  parte  dos  mosteiros  cistercienses  ibéricos,  protelando-se  uma  parte  fundamental  do  estudo  arqueológico  de  cada  lugar.  É  paradoxal  que  se  preste  mais  atenção  a  um  conflito  bélico  civil  do  que  aos  próprios  alicerces  do  mosteiro,  fundamento  real  de  todo  o  resto.    

(Continuará)  

Artigo precedente.

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