PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(189ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Será que a linguagem da arqueologia "oficial" em Oia está blindada, restringida, subordinada? Não se menciona, de todo, a hidraúlica inerente dos mosteiros do Císter, sendo em Oia exponencial e justificativo para uma revisão total do realizado até o momento e para pôr em causa as próprias equipas arqueológicas alí presentes. Por enquanto, tem cabimento a paragem indefinida de toda obra futura.
Vamos, no entanto, apurar conteúdos ineludíveis expressos pelos defensores dessa hidraúlica particular: 'Para a concretização da empresa monástica, nem a 'Regra Beneditina' nem os 'Estatutos da Ordem' (Ordem Cisterciense é monástica, católica, beneditina e reformada, cujos fundadores são Bernardo de Claraval-Clairvaux, Roberto de Molesme, Estevão Harding e Santo Alberico de Císter) prescrevem ou fixam quaisquer instruções de trabalho ou procedimentos técnicos gerais ou específicos acerca da arquitetura, do abastecimento ou evacuação da água ou da irrigação agrícola. Esta "falta" de um diretório formal pode causar estranheza, por quanto essas obras seriam impensáveis sem os conhecimentos e as competências aplicadas do Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia). O 'segredo' ou a obscuridade normativa não surpreendem nem são excepcionais. Devem-se aos métodos coevos de transmissão oral e restrita cifrada dos sabores práticos adquiridos directamente nos estaleiros das construções, para além de poderem flexibilizar ou suscitar ajustamentos aos costumes e às possibilidades autóctones próprios dos diferentes sítios de fundação'.
Mas falemos de Alcobaça e estabeleçamos uma comparativa com Oia. Ambos mosteiros são cistercienses, sendo que o primeiro é representativo na Península Ibérica desse Císter, bem como possuidor de um vasto sistema hidraúlico ainda por desvendar. A pesquisa é recente, promissória e impulsionadora de trabalhos recentes que não podem ser postos de parte, nomeadamente por grupos privados especulativos, sujeitos ao 'limiar de rendibilidade' (veja-se 'RMO'). Eis o miolo da questão. Continuamos com as apreciações: 'Qualquer mosteiro para funcionar com as condições higio-sanitárias adequadas, necessitava de uma rede hidraúlica de dupla estrutura sólida, técnicamente eficiente na forma e no traçado, o que não era excepção em Alcobaça. Assim sendo, desde a captação de água por corrente, seu transporte por gravidade, armazenamento e distribuição pelo interior da abadia, até a evacuação normal dos afluentes domésticos e pluviais, todo foi pensado e construído. Os monges necessitavam de sistemas de abastecimento de água para a cozinha, para beber, para a sua higiene corporal, para o saneamento de latrinas, para fins agrícolas e atividades industriais'.
Em Alcobaça, repare-se bem, durante a segunda metade do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX as obras realizadas NÃO OBEDECERAM A UM PROJETO DE RESTAURO SISTEMÁTICO E CONTINUADO. Esta constante manifesta-se em grande parte dos mosteiros cistercienses ibéricos, protelando-se uma parte fundamental do estudo arqueológico de cada lugar. É paradoxal que se preste mais atenção a um conflito bélico civil do que aos próprios alicerces do mosteiro, fundamento real de todo o resto.
(Continuará)
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