28 de nov. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 

(118ª parte) 

 



ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia 

 Vamos falar de Monfero, vamos falar da sua pertença à Lista Vermelha do Património (e também à ACIGAL…) e vamos falar das itinerâncias culturais enganosas que alguns almejam no seio da 'Charte Européenne des Abayes" iludindo de facto às pessoas que, na própria zona de Monfero, permanecem impávidas e serenas face determinadas manobras de distração dos senhores da ACIGAL. Monfero representa uma perpendicularização de templo e aposentos monacais típica de outros mosteiros (Armenteira, Montederramo, Oseira ou em menor medida formal, Meira) onde à direita da Epístola afigura-se-nos um aparato morfológico que vai sem dúvida concretizar o inicial território (não o único) de uma ordem religiosa (note-se  que Oia mantém a disposição do seu imediato claustro do lado do Evangelho). Esse território é bem importante na normativa estatal  (ver Lei do Património Histórico Espanhol do ano de 1985), sendo que textos legais autonómicos ultrapassam competências generalistas (fale-se de deslealdade ou invasão competencial, de estranhas permissões outorgadas a concelhos, de  atuações políticas à socapa de tudo...) podendo incorrer na inconstitucionalidade pura e simples (Lei do Património Cultural de Galiza de 2016, por exemplo) preterindo aliás uma outra Lei do Património Cultural de Galiza de 1995 (um texto condizente, leal) de molde a  permitir aos tijoleiros concretizarem os seus despropósitos em Oia. Bajulação vai gémea da ambição nesta comarca do sul, com o conluio de personagens que nem citação merecem. É obvio que convirá fazer alusão a Carlos Alberto Amoedo Souto (catedrático de Escola  Universitária na Universidade da Corunha -CAT-EU- no departamento de Direito Público e na área de Direito Administrativo; além disso, foi Secretário Geral da Conselharia de Cultura e Desporto no governo bipartido de Touriño e Quintana. A sua cessação pela conselheira Ánxela Bugallo foi muito comentada e posta em causa nas semanas posteriores ao seu afastamento. É autor de um trabalho, entre muitos outros, revelador e complicado que, no entanto, abre os olhos de todos nós à hora de desvendar os truques de Xunta e tijoleiros no intuito de instaurarem essa pressa por "estacionar" o legítimo discurso paisagista ("Ley 5/2016, de 4 de Mayo, de Património Cultural de Galicia: una ley de baja calidad para un ciclo de nuevo  desarrollismo", da revista "Patrimonio Cultural y Derecho", n° 21, 2017, pp. 91-146). Um outro trabalho vai ser este: "La Ley 5/2016, de Protección del Patrimonio Cultural de Galicia cuatro años después: balance de situación", da mesma revista. Amoedo Souto fez a diagnose e assinalou um caminho desconfortável mas honesto na política de património cultural. Assim, no caso que nos ocupa, pico construtivo atingiu todas as marcas em Oia; isto é ponto assente, não dá para mais, senhores de Vigo. As dúvidas exponenciais de Amoedo Souto revelam a certeza de algo bem pior na costa sul galega (concretizar o efeito de catadupa nesse troço costeiro, nem mais) em simultâneo com parques eólicos sobredimensionados e brutalidade citadina sobre a atual paisagem. Nesse ordem de coisas, Monfero é sinal esclarecedora de até onde querem chegar os verdadeiros perturbadores da normalidade PRECEDENTE. Este nosso mosteiro oiense "à beira do mar plantado" é o álibi perfeito para destorcer tudo e mais alguma coisa;  tentaremos revelar os truquezinhos de uma ACIGAL enfarinhada no branqueamento das verdades do barqueiro. Urbanização futura na Riña é puro despropósito e abuso contra a paisagem à vista de todos. Vamos então falar de Monfero.  

 


 Monfero fica sediado em San Fiz de Monfero (A Coruña), dentro do espaço das Fragas do Eume. No ano de 2003 foi cedido por cinquenta anos à Xunta de Galiza e foi esta quem encarregou-se desde o ano de 2009 ao 2011 de  trabalhos de limpeza e consolidação das áreas abandonadas deste monumento com a finalidade de garantir a sua estabilidade face a futuras atuações de reabilitação para hotel e centro lúdico-termal SPA (70 quartos). Estas intervenções têm o seguinte carimbo legal: Resolução da Direção Geral de Belas Artes e Bens Culturais pela qual se faz pública a adjudicação referida ao concurso: "Execução das obras de restauro da igreja do mosteiro de Monfero (BOE 06/02/2003)". Pretende-se converter num hotel de luxo (Resolução de 01/09/2006, DOG n° 173, de 07/09/2006) concretizando-se as seguintes abordagens da parte da União Temporária de Empresas (UTE) cujos parceiros foram TECONSA e ATLAS) quantificando-se a importância de 1,6 milhões de euros neste empreendimento. Tantas albardas para esta viagem! Afinal, não existindo ainda uma ACIGAL constituida, já Monfero tinha carga que chegasse. A empresa TECONSA não resiste a queda do mercado imobiliário e declara-se em suspensão de pagamentos em novembro de 2009, ficando os contratos na gestão de um administrador judicial. Desde a Xunta galega se diz que a empresa ATLAS quere continuar nesses trabalhos (tarefa  inglória!), fazendo de conta que estes trabalhos são imperativo para um governo autonómico incapaz de travar a declaração de LISTA VERMELHA do Património. Saibam de vez que as listas vermelhas procedem da entidade "Europa Nostra" e que  não param na deteção do desleixo em tudo quanto é sítio. Xunta nutriu-se de desculpas esfarrapadas para não admitir, de vez, a função social e educadora do património cultural. Essa diagnose tímida, feita por Amoedo Souto, aliás, representa a introdução às práticas clássicas do caciquismo galego (cerne desta merda toda, desculpem). Monfero tem nos seus três claustros a prova dada de um  abandono. Não vamos falar de pormenores (disso sabem todos os desleixados...), mas sim citar casuisticas que possam vir ao encontro do que interessa. Este território arquiteturado de Monfero  não tem aderências ou  rbanizações a setenta metros dos seus muros perimetrais (como aquilo que se pretende em Oia!). Esta ambiência monacal é constituida por três claustros (Hospederia, Reglar e Oriental) para além do templo, sala capitular, refetório ou cozinha. Trata-se de claustros desmochados, ao relento, que mostram às claras a política do "pingo a pingo" da Xunta. Já ACIGAL fez uma aparição fantasmagórica no templo para aparecer na fotografia. Moral da história: No periodo 2009-2011 realizaram-se trabalhos de limpeza e consolidação que não serviram para nada; mato, silvas e trepadeiras fazem o seu trabalho e Dona Patricia Sabin, arquiteta, ou o diretor do projeto, Dom Enrique Blanco, ficaram naquela altura "a olhar para o boneco". Resumidamente, alguma coisa se fez por forma a evitar desonras e histórias mal contadas:  

●  Retirada de vegetação. 

●  Limpeza, consolidação e reconstrução de muros e contrafortes.  

Consolidação e esticamento da abóbada do refetório. 

●  Consolidação dos muros do 'scriptorium'

●  Esvaziamento de restos decorrentes das obras. 

●  Encadeamento e ligação de  muros. 

●  Cobrições provisórias em refetório e 'scriptorium'. 

●  Levantamento fotogramétrico e controlo arqueológico.     

 A data de inclusão de Monfero na Lista Vermelha do Património é de 29 de janeiro de 2008. Obviamente, a aparência deste mosteiro não iria mudar de visual com esse orçamento pingado ou a posterior presença testemunhal dos gajos da ACIGAL.   

 Artigo precedente.

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