22 de xuño de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 

(99ª parte)

        Fortaleza de Santa María de Ujué (Navarra)
     

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia              

 Aquando tenciona-se concretizar um empreendimento urbanístico no rural resultado palpável será uma certa promoção costeira cheia de interrogantes e uma rutura com o passado de cada lugar. Pegada do tijolo é sempre traumática e fica aí para longas e longas décadas sem que esta tendência tenha abrandado. De facto, processos acumulativos, adensados, são expressão material da chamada Alta Densidade Turística (ADT) com que se alcunha o sul costeiro da Galiza. Paradoxalmente, segundas residências têm como valedores muitos vizinhos da cidade olívica, remessas avultadas vindas do centro de Espanha e por aí fora. Isto nunca será inocente nem pertencerá ao foro da inevitabilidade. Incompetência paisagista ficou prova dada, junto de outras manifestações, de um modelo gasto, que erode as nossas geografías e as nossas componentes sociológicas até um nível preocupante. Turismo não é brincadeira e, no entanto, parece que não haja sequer alguém que queira parar para ouvir o que alguns temos a dizer. Um exemplo imediato são as sequelas, o rescaldo deixado pelo Coronavírus: as pessoas, todas elas maltratadas pelo estado, renunciaram a direitos nucleares entregando-se ao mito do "verão e praia"; mitificação que põe na corda bamba todo o resto e que pode constituir uma primeira antecipação da renúncia a direitos basilares: civís, meio ambientais, paisagísticos, etc.. Só faltava que chegasse aquele "pão e circo" sazonal, orquestrado pela "RMO", para cairmos na conta de algo que não está a bater certo. Que a esta altura do campionato queira-se pegar em  soluções escapistas ponteadas por algúm palestrista mesmo bom (José Fariñas Tojo) traz ao de cima uma mentalidade sem dúvida calculista e marada em tudo o relativo à questão oiense. Recordamo-nos de uma citação do arquiteto em que dizia que ele tinha, que nutria un sentimento de escepticismo face à temática urbana em geral. As suas palestras são um mar de calmaria e um sossego para os ouvidos. Mas, até prova em contrário, a turistificação (quanto mais não seja a bem do nosso património) continua a ser um cancro e uma calamidade nas nossas costas. Silêncio, ausência de debate e troca de ideias também matam o "bicho" da vindicação em Oia, não sendo nada edificante que face às propostas da "RMO" somente apareça alguma salva de palmas isolada. Esse silêncio cúmplice torna tudo chocante dado continuarmos a fazer questão de uma salvaguarda real e efetiva da envolvente do mosteiro de Oia, dado rejeitarmos aquela futura urbanização que não passa de um brinde envenenado.  

  
Castelo-abadía de Loarre (Huesca)



 Problema de margens, de envolventes monacais não pode virar problema menor ou subsidiário, antes bem constituir um foco de denúncia de uma normativa atual que visa implementar a improvisação, a falta de estatística patrimonial e a simplificação dos ditos atos "preservadores". Cedência comodista de funções aos concelhos ressalva interesse da Xunta galega em desmantelar qualquer posição contrária à privatização dos bens de interesse cultural. Seria algo assim como despossuir aos alunos do giz no quadro da escola. Com verdade, não houve nenhum processo contraditório, nenhum desvendar de realidades entre os moradores de Oia; ativa-se o circo mediático e pronto, já estamos todos conversados. Nota-se a falta de debates alargados e de pessoas espontâneas que saibam dar uma boa nega aos novos donos do turismo. Aínda há quem se atravesse por puro dever cívico na questão, recebendo todas as bofetadas e incomprensões. Resulta de extrema importância desmitificar uma proprietária, a "RMO", que disse estar formada em Filosofía e Letras tal como estar pronta para a gestão turística… O que é que significará isso?  Vamos fazer então uma geringonça engraçada com o assunto: O que é que faz uma empresa especializada no transporte de granito e madeira num empreendimento ultraturístico e de conveniência como Oia? Ainda bem que existem fundamentalistas na gestão do Património, ainda bem. Como complemento disso, era bom insistirmos nos espaços poliorcéticos que abriga, que acolhe o mosteiro ao ponto de poder definir aquele espaço monacal como de isenção espacial defensiva, na linha de mosteiros-fortaleza como Poblet, Santes Creus ou de castelos-templo como Loarre ou Ujué. Da mesma maneira, papel atribuido às muralhas não pode ser preterido no caso oiense de jeito nenhum; justapõem-se estilos e funcionalidades onde o castrense acompanha ao religioso. De facto, não é nada risível ligar arquitetura vernacular do Arrabalde ao mosteiro, em lugar de associá-lo às bostas de vaca das empoleiradas "vilas turísticas". Existe um maior equilíbrio integrador da paisagem entre as manifestações da arquitetura popular e as próprias do mosteiro  (românico tardío, maneirismo, claustro do século XVI, fachada e pandas do século XVIII, pinturas quinhentistas) interna e externamente. Tudo condiz e faz jogo sendo o espaço monacal passível de permanecer ISENTO E COMPLEMENTAR DESSE OUTRO ÂMBITO CIVIL TRADICIONAL. Um apuramento final fala-nos do mosteiro de Poio, onde fica sediado o espigueiro com maior capacidade para as maçarocas de Galiza. Extraordinária ligação com essa arquitetura de raíz popular, sem arquiteto, manifesta-se tal qual é. Sobre isso convém denunciar os condicionamentos que se lhe impôs ao incrível elenco de unidades existente desde uma LPCG nova que marginaliza,  que secundariza tantas manifestações da arte do povo. Primeiro tijolizam arbitrariamente os espigueiros para depois acabarem por ser um objecto meramente decorativo em muitos chalets por aí espalhados. 

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