10 de nov. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia

(116ª parte)

  


 
 

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia     

 A partir dos anos 60-70 do século XX vai ganhando corpo em Portugal uma forma de olhar a arquitetura, de desenhá-la que, com a própria experiência decorrente do "Inquérito", colmatará logo na chamada Escola do Porto. As precedências são importantes, a ruína é tomada em consideração como mais uma forma de integração e de avaliação em todas as ordens. Essa observação focaliza-se diretamente na arquitetura vernacular, seja qual for o sítio, criando um estado de coisas favorável a uma outra interpretação desta, mais inserida e respeitada, mais formando parte da inspiração moderna. O trabalho de campo feito de raíz pelos arquitetos do Sindicato Nacional, Fernando Távora também, marcaram um rumo crescente na atitude e no trabalho teórico de não poucos dos seus seguidores. Algo aparentemente impensável como as velhas moradias iria marcar um novo ponto de situação relativamente às paisagens, às escalas e aos comportamentos decorrentes da sua traumática alteração. Aquando Eduardo Souto de Moura faz um tratamento da pré-existência tão louvável em Santa Maria de Bouro, na sua pousada turística, ou quando Távora o faz também no mosteiro vimanarense de Santa Marinha da Costa, é que algo tem acontecido no panorama da ética e desenho arquitetónicos. Escola do Porto será ponto de início e de situação face à construção civil e os seus infelizes e frequentes desmandos (ninguém pode negar isto). Como reforço do antes dito, temos em Santo André de Rendufe (Amares), dentro do programa REVIVE, mais um exemplo de coadunação do velho e do atual num mosteiro beneditino notável que faz valer a espacialidade de um território próprio sem concesões à quaisquer tentações urbanizadoras "ex novo". Com um investimento total de 626.795,24 € (532.775,95 € de Europa e 94.019,29 € nacional) vai conseguir no ano de 2025 uma nova valência turística sem interferências dos tijoleiros.   

 


 

 Santa Marinha da Costa tem na horizontalidade o seu principal aliado paisagista. Horizontalidade que possibilita o jogo do granito da fachada (templo) junto da caiação entre rasgos de vãos seriados (nas dependências conventuais externas) a contrastar com as caixilharias cromatizadas em cor 'sangue de boi' (recurso da arquitetura popular e erudita do Minho). A isso une-se-lhe o respeito pela cota altimétrica da própria pousada, sempre um bocado em baixo da estrutura monacal antiga ou a Capacidade de Absorção Visual (CAV) de toda a envolvente (verificável nas vivendas próximas, na sua jardinagem tradicional ou na própria cerca monástica). O mosteiro chegará a ser um dos "ex livris" da cidade afonsina graças ao seu marco visual onde a paisagem é tudo. A sua pousada advirá reflexo decorrente dos ensinamentos do "Inquérito" e das conclusões teóricas de Fernando Távora. Aliás, uma das campanhas arqueológicas mais eficazes em terreno abacial foi fonte direta do empreendimento deste arquiteto na dita pousada. Diz o Historiador da Arte Paulo Pereira, que "a obra do Távora adquiriu contornos de relevo nacional quando se propôs refletir sobre a relação da paisagem com a arquitetura enquanto operação cultural com reflexos de caráter social, resultante da sua passagem formativa e informativa pelo "Inquérito". "Onde mais vivamente se encontra esta relação crítica de Távora com a modernidade é nas obras de revitalização de peças patrimoniais (...)". "(...) apresenta uma linguagem moderna que interpreta a paisagem e, simultaneamente, obedece à dinâmica a que um monumento deste tipo conduziria, caso a sua vida se tivesse prolongado, o que acabou por acontecer através da sua conversão em pousada. A parte de "obra nova" adquire o mesmo valor simbólico que a "obra antiga"". 

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