PATRIMÓNIO
Comentários sobre San Lourenzo de Goián
(2ª parte)
Plano do Forte Novo
Arquivo do Serviço Histórico do Exército
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Goián
Projeto de Recuperação Ambiental e Valorização da Envolvente da Fortaleza e Praia Fluvial de Goián é comentado pelo próprio punho e em estranho português por Pablo Gallego Picard: "Com o objectivo de recuperar uma estreita praia fluvial que é muito popular no verão e parcialmente ocupada por uma estrada. E para consolidar a área em redor da fortaleza de São Lourenço que está nas proximidades, mas não ligada à praia. Somos comissionados a resolver a ligação entre a praia e a fortaleza para criar o futuro parque para o Baixo Minho, na única área de ação possível: um declive que é importante para a paisagem mas que foi desfigurado por vários bares de praia ilegais e pedreiras (quis dizer em castelhano "canteras", "chiringuitos ilegales" e "un bosque de eucaliptos"). Com as limitações legais de um BIC, a reserva natural e as leis costeiras (quis dizer em castelhano "Red Natura", "Costas", etc.) que proibem o uso de pedras e árvores que escondem ou imitam à fortaleza (quis dizer em castelhano "que no permiten el uso de materiales pétreos o la plantación de árboles que oculten o mimeticen la visión de la fortaleza"), nem reparos (!?) geológicos dispendiosos. E contando com um orçamento reduzido e prazo apertado e com a colaboração de uma empresa especializada em estradas (quis dizer em castelhano "viales"). Tendo em vista a orientação permanente para o sul, a ideia é aproveitar a mentira existente do terreno para criar áreas suficientes de sombra e vistas para consertar, consolidar e tornar acessível toda a encosta. Com um único gesto de uma parede continua de concreto armado (quis dizer "betão reforçado") que funciona sem escala urbana conhecida como banco, barreiras, terraços, degraus, meio-fio ou plataforma; organizamos e escondemos, por meio de um pedestal, as instalações exigidas para banheiros, barcos, salva-vidas (quis dizer "nadador-salvador"), refeitório (comedor ou cantina) e centro de interpretação (!?). Ao estender o fosso, a fortaleza e a praia se conectam física e visualmente sendo a geometria defensiva (!?) que organiza o conjunto inteiro".
Existem os "reparos" geológicos? Antes bem seriam as restituições terrenas que, no entanto, mercê da betonagem não se efetivaram. Foi aquela betonada toda que criou, com efeito, DUAS REALIDADES. A tal "mentira" foi assim uma simulação arquitetónica que não evita a falta de integração final do conjunto. A original NÃO LIGAÇÃO À PRAIA diz muita coisa de como projeto de Gallego Picard prescindiu da centralidade de um espaço militar (e do seu caráter centrípeto). Por outras palavras, podiam ter poupado literaturas sobre o futuro "parque para o Baixo Minho" se tivessem dito e anunciado isso desde o início, aceitando que a integração do forte no espaço arquiteturado "ex novo" era um álibi sem fundamento. De facto, a obra premiada foi realizada com base no desprezo pelo polígono externo do Forte Novo. Daí denunciarmos essa afirmação de que "a geometria defensiva organiza o conjunto inteiro" porque simplesmente não é verdade. A nossa frente e desde a fria interioridade dessa "mentira" (betonagem) o que se aprecia são falsos dentes de serra, um talvez artificioso hornaveque e uma fronte visual que esqueceu a precedência militar física. Simplesmente, deixou-se de parte a fortaleza e esta foi preterida na sua marcante altivez. Podía ter sido implementada uma solução mais singela abase de suprimir aquele manto vegetal de eucaliptos (nunca foi uma floresta) eliminando os furanchos e restituindo aos poucos e poucos o espaço castrense, as linhas clásicas da poliorcese conforme uns planos que falavam de um glacis na íntegra (havia aliás quatro revelins). O problema de sempre foram esses prazos limitados de execução e um orçamento aparentemente enfraquecido. Reservaram-se para o turismo com maiúsculos todas as sinergias e autor da obra admite que visava-se fundamentalmente a concretização de um parque. Essa ideia protelou ao forte. No momento presente essa maquinaria pesada está a desrespeitar no seu tracejado vial um desenho militar original consistente em caminhos cobertos e glacis; obra externa tem o seu rol e a sua razão, não tendo justificação esse passo e repasso permanente das máquinas. Fazer anátema disto suporá pôr de parte os princípios do ICOFORT e a própria Carta de "Baños de la Encina".
Carta de "Baños de la Encina" (Jaén), 29 de setembro de 2006, diz no seu Preâmbulo: "Durante o século XX generalizou-se a proteção legal de este Património, porém considera-se escassa e requer uma atualização a contida no Decreto de 22 de abril de 1949 em quatro artigos e na Disposição Adicional Segunda da Lei 16/1985 de 25 de junho do Património Histórico Espanhol". No outro apartado de Recomendações (n°2) fala da Paisagem Cultural: "A Arquitetura Defensiva faz parte indisolúvel da paisagem cultural na que se insere e à qual caracteriza. Os elementos que compõem esta arquitetura estão ligados entre sí dentro dessa paisagem e, consecuentemente, terão de ser tratados como agrupações completas de sistemas gerais defensivos, com metodologia similar". Observando os planos e desenhos da obra de Pablo Gallego Picard vemos aquilo que hoje estão a terraplenar: um corredor repisado que finda na descida arquiteturada à praia e que percorre uns 280 metros. Este comprimento vai desde o caminho coberto e glacis junto do Baluarte de São Lourenço até o cunhal do Baluarte de Santiago, desce aí ao fosso e ladeia o revelim na sua cara norte. É obvio que o Parque Internacional do Baixo Minho, "novinho em folha", pôs de parte a obra externa do Forte Novo e o seu recinto. Trato recebido pela arquitetura militar fica muito aquém do esperado.
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