PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Real Monasterio de Santa María de la Santa Espina (Castromonte, Valladolid) não pertence à Carta Europeia do Císter, aliás, como tantos outros; no entanto, tal como em Oia, guarda um paralelismo evidente com esses espaços concentracionários, ou campos de prisioneiros, surgidos após a criação de zonas de retaguarda em plena guerra civil espanhola. Sendo da ordem cisterciense desde os seus anos mais recuados (ano de 1147) e ficando isto bem patenteado na igreja (planta de cruz latina e três naves) ou na sala capitular, para além de outras dependências (sacristía, biblioteca claustral, calefactorium, locutório), tem acrescentado dois novos claustros do século XVII (Hospedería e Regular) aos que sucumbiu o primitivo -tudo atribuível à própria autoridade abacial, díga-se de passagem-. Some-se a isso uma frente ou cabeceira do templo com estilos gótico e renacentista, arco de acesso e fachada quinhentistas e o solene frontal tardobarroco do templo (XVIII), à maneira do arquiteto Ventura Rodríguez, e findaremos o resumo deste conjunto. Constitui, enfim, BIC (Bem de Interesse Cultural) desde o ano de 1931 e está sediado numa particular micropaisagem sulcada pelo rio Bajoz e o ribeiro chamado de Valdelanoria. Tem um povoamento a 285 metros e a parte habitacional intramosteiro dista 120 metros lineares do templo. Podemos assim dizer que se trata de uma paisagem integrada e não traumática, como também salientar que este mosteiro foi salvo de outros usos incertos mercê da aquisição que dele fez em 1865 o marquês de Valderas, e posteriormente o afinco da sua viúva, para que passasse a ser um centro de ensino agrícola (Escola de Capacitação Agrária).
Desta realidade podemos deduzir que cada mosteiro tem a sua casuística particular; muitas vezes feita de imponderáveis, mas também de inércias que não são casuais (nem apareceram do nada!). Noutra ordem de coisas, repare-se bem, RELATO DA MEMÓRIA EM OIA poderá ter eventualmente mais de uma interpretação (era o que mais faltava que assim não fosse!) à luz dos interesses encontrados hoje em día no contencioso do mosteiro. As questões não estão desconexas umas das outras e, ao que parece, pretende-se associar um de tantos infortúnios decorrentes de uma guerra civil (ou de classes, ou seja como for...) ao futuro físico patrimonial de um mosteiro cisterciense e a sua envolvente. São com certeza assuntos diferentes. Sirva como amostra o exemplo da Santa Espina, ou os próprios da Galiza (Camposancos, San Clodio, Pobra do Caramiñal, Muros, Rianxo, Padrón, Lavacolla, Betanzos, Ferrol ou Cedeira).
Existiam 24 complexos prisionais na atual comunidade autónoma de Castilla y León, improvisadamente sediados em quartéis, hospícios, manicómios, hospitais, escolas, conventos, palácios, praças de touros ou solares vários. Localizados em Toro, Valencia de Don Juan, Viñalta, Arévalo, Aranda de Duero, Medina de Rioseco, Astorga, Ciudad Rodrigo, Burgos, León, Zamora, Salamanca, Lerma, Burgo de Osma, Soria, Medinaceli, Sepúlveda, Cerezo de Abajo, Santas Martas, Castrillo del Val, Armuña ou Miranda de Ebro (sendo este último do piorio, passando por ele uns 100.000 prisioneiros), reflectiam aquilo que estipulava a I.C.C.P (Inspeção de Campos de Concentração de Prisioneiros), mas de muito diferente maneira conforme o lugar e a chefia correspondente. Em Valladolid temos três: Medina de Rioseco (Paneras de Galindo e propriedade de Villagodio), Santa Espina e mosteiro de Valbuena. Na Santa Espina localizava-se o campo à direita da planta cenobial e, com capacidade para 600 represaliados, logo viu-se que eram muitos mais (até 4.300), se lhe conferindo funções classificatórias previamente estabelecidas a título geral pela ICCP (Inspeção que já destruiu a sua documentação apartir de julho de 1937). Eram dois os destinos: uns iam às suas vilas ou cidades de origem, embora marcados com o estigma de "vermelhos" e com a obrigatoriedade de "fazer a tropa" novamente; outros, como bem se sabe, continuavam presos ou submetidos a julgamentos sumaríssimos (sentença condenatória ou fusilamento).
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