4 de set. de 2019

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia
(46ª parte)


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia    

 Findando o vigésimo século e na primeira quinzena do vigésimo primeiro, uma importante quantidade de documentos vão frisar as preocupações ligadas ao turismo e o ecoturismo, ao turismo e o desenvolvimento sustentável, bem como ao turismo e as mudanças  climáticas. Se o turismo tornou-se indústria, uma das principais a nível internacional, tem pertinência igualmente acrescentar os vários impactos que ele tem nas comunidades recetoras. Nem sempre essas comunidades destinatárias deram uma salva de palmas às miríadas de visitantes que pela sua terra passavam. Com diferentes escalas, de muitas e diversas maneiras,  há impactos a conferir decorrentes desses fluxos de visitas; mais ainda, quando se trata de chegar e ficar de modo permanente ou semipermanente no local eleito. Poderiamos até falar das chamadas crises cuja origem está no turismo: exemplos atuais como aquele da lagoa veneziana (presença de grandes cruzeiros), o nada invejável "turismo à moda tripeira", do Porto (despejos abusivos nas zonas céntricas de pessoas sem posses económicas; fuga frequente às normativas urbanas), ou, enfim, esse cacarejado turismo como alvo predileto do independentismo catalão, em Barcelona.  

 A uma menor escala, obviamente, está o caso oiense que, no entanto, atempadamente, está a criar reticências de ordem ambiental,  paisagista,  bem como de natureza hídrica e mesmo populacional. Cómo é que se partilha uma água ainda não disponível? Faz falta um acréscimo demográfico feito "ex novo", artificiosamente, na envolvente imediata dum mosteiro? Cómo é que FENÓMENOS RECORRENTES são tolerados em Oia, díga-se Spa, num espaço monacal e a poucos quilómetros de instalações semelhantes? Podem estabelecer-se jardins de suplantação sobre terrenos de tradição cenobial (ora et labora) e não prostituir uma linguagem cultural?. Problema de Oia serão os impredecíveis conceitos que trará consigo esse TRATAMENTO "AO CALHAS" DA PAISAGEM, PACATO e servidor do novorriquismo. Ficou sobejamente exposto aquando a "Kaleidos" organizou sem rubor e com muito espírito caipira sessões de rock, soul ou funk no interior do  mosteiro. Há no ar um cheirinho a Vigo e aos seus interesses   que tresanda!  

 Não é casual a preocupação normativa pelos erros derivados do fenómeno turístico:  Código Ético Mundial para o Turismo  (2001); Declaração de Nanda Devi sobre Conservação da Biodiversidade e o Ecoturismo (2001); Código para o Turismo Sustentável (2001); Declaração de Quebec sobre o Ecoturismo (2002); Declarações de Babia Gora, de Cape Town (2002), de Djerba, de Barcelona, de  Davos (2003, 2004 e 2007), de Kerala, de Lusaka (2008 e 2011), de Sihanoukville, relativas à sustentabilidade, mudanças climáticas, desenvolvimento, diversidade cultural, turismo responsável e outros temas. Até para os Alpes foi preciso um Protocolo de implementação no campo turístico no ano de  1991. Volvidos já alguns anos, não há réstia de dúvida de que estas declarações têm sido oportunas, necessárias, mas do ponto de vista prático não passaram de resiliências de ocasião perante a rapacidade das agências turísticas e os "tour operators". 

 Posteriores disposições (Ilha Reunion - 2013-; Ninh Binh - 2013 -; Phnom Pehn para o turismo Asia- Pacífico -2014-; Nassau  -2014-; Resolução da Assembleia Geral da ONU sobre Promoção do Turismo Sustentável -2014-; Declaração de Belem sobre Turismo Religioso -2015 - e Carta do Turismo Sustentável + 20 de Vitoria- Gasteiz - 2015 -, colocam interrogantes sobre a terciarização da economía a margem dos parceiros sociais. Da sua vez, alterações climatéricas, gestão desordeira da água e de outros recursos, pedem um controlo bem mais centralizado das pequenas crises que aí vêm. 

 Artigo precedente. 

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