PATRIMÓNIO
Almeida na encruzilhada dos vaubanianos
A colmatação da maneira vaubaniana de construir, a sua sagração, inclui as vilas reformadas (remaniées), as de nova feitura, bem como as obras públicas (50 ações sobre o Canal du Midi, Aqueducto de Maitenon, Barragem de St-Ferréol). Entre os anos 1667 e 1707 Vauban melhorou as defesas e cidadelas de mais de 300 localidades. O mestre dirigiu a construção de 37 novas fortalezas e postos militares. Participou na direção de obras civís e tomou parte, aliás, em 48 assédios. Não parece que a reforma de trezentas praças esteja sujeita ao “cômputo”, a uma norma vinculante. Um dos méritos da sua obra foi precisamente a adaptabilidade ao terreno, o bom senso e a revisão disciplinada dos resultados.
Até 1667 seguiu com fidelidade os sistemas dos seus predecessores; apartir dessa data introduz os comumente chamados três sistemas. A regra vaubaniana, bem moldável por sinal, aceita em simultâneo reformas de obras antecedentes ou novos empreendimentos onde, com efeito, aparecem cômputos e medições próprias. A crítica que se lhe faz da parte de alguns tratadistas não parece a mais correta; de facto, foi Blaise de Pagan o inventor dos três sistemas defensivos posteriormente aplicados e aperfeiçoados em Maastricht, Luxemboug e Phillipsbourg. Também, salientar que o conjunto fronteiriço do Leste e Nordeste utilizou-se parcialmente na Grande Guerra junto de outro sistema: o “Séré de Rivières”.
Vauban afigura-se como um ativo importante nos tratados dos engenheiros militares até finais do século XIX. Aquando Cormontaigne ou Carnot teorizavam sobre aplicações nos parapeitos ou nos novos ataludamentos, respectivamente, estavam a perpetuar a essência vaubaniana. Mesmo em Almeida, o Conde de Lippe escreve uma carta ao Marquês de Pombal com data de 1774 (67 anos após a morte do mestre) onde diz o seguinte: “Propuz em 1764 que o aproveitamento das praças fosse segundo as tábuas de Vauban”. Tentar esmiuçar as propostas deste não será do grande público, mas valerá a pena tal tentativa.
Contudo, Vauban seria mais admirado pelas qualidades de engenheiro que por causa dos seus sistemas de fortificação. No entanto, o ataque às vilas bastionadas (os três Paralelos, as meias praças de armas e os tiros “a ricochete”) tem grande ascendência no mundo poliorcético. A ideosincrâcia de Vauban permitir-lhe-á despreocupar-se do rigor (sendo ele disciplinado de natural), aplicando na realidade as suas reformas e os seus “antisistemas” ao modo que mais convinha e tendo em conta critérios de racionalidade e bom senso. Os 4.000 quilómetros que percorria anualmente, a cavalo ou de coche de cavalos, davam-lhe todas as sabedorias de que precisava. Existe na atualidade um roteiro, o Equi-Rando-Vauban, que permite ao turista apreciar o custo de tanta viagem.
Buscam-se perfeitismos no meio de nada, sem motivos, num gentil-homem que tanto criava campos entrincheirados como inundava os campos inimigos, que tanto desenhava obras avançadas como alumbrava verdadeiros novos sistemas. Vejam então as baterias costeiras o fluviais (Camaret, Fort Louvois, Fort Lupin, Ambleteuse,..) com a sua conceição do tiro rente ao chão; vejam um possível quarto sistema em Mont Louis ou Blaye na forma de entrincheirar o cinto de segurança dos bastiões de combate. Até um quinto sistema pode estar presente em Briançon baseado na adaptação à montanha, superpondo cortinas, tenalhas, semilúas e caminhos cobertos e conformando assim diferentes patamares.
Falta talvez uma componente vertebradora dos tratados e sistemas ligados ao Arts Belli, ao avanço contemporâneo da artilharia, à arquitetura militar internacional, às guerras europeias recentes. Não conhecer os ditos “sistemas abertos de defesa das cidades” dos séculos XIX e XX, por exemplo, é obviar um segmento importante da história próxima de Europa, aquela que nos trouxe a cultura da paz e do entendimento. Almeida não está nem isolada, nem isenta disto, embora não sofresse os efeitos tão marcantes das guerras civís europeias.
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Até 1667 seguiu com fidelidade os sistemas dos seus predecessores; apartir dessa data introduz os comumente chamados três sistemas. A regra vaubaniana, bem moldável por sinal, aceita em simultâneo reformas de obras antecedentes ou novos empreendimentos onde, com efeito, aparecem cômputos e medições próprias. A crítica que se lhe faz da parte de alguns tratadistas não parece a mais correta; de facto, foi Blaise de Pagan o inventor dos três sistemas defensivos posteriormente aplicados e aperfeiçoados em Maastricht, Luxemboug e Phillipsbourg. Também, salientar que o conjunto fronteiriço do Leste e Nordeste utilizou-se parcialmente na Grande Guerra junto de outro sistema: o “Séré de Rivières”.
Vauban afigura-se como um ativo importante nos tratados dos engenheiros militares até finais do século XIX. Aquando Cormontaigne ou Carnot teorizavam sobre aplicações nos parapeitos ou nos novos ataludamentos, respectivamente, estavam a perpetuar a essência vaubaniana. Mesmo em Almeida, o Conde de Lippe escreve uma carta ao Marquês de Pombal com data de 1774 (67 anos após a morte do mestre) onde diz o seguinte: “Propuz em 1764 que o aproveitamento das praças fosse segundo as tábuas de Vauban”. Tentar esmiuçar as propostas deste não será do grande público, mas valerá a pena tal tentativa.
Contudo, Vauban seria mais admirado pelas qualidades de engenheiro que por causa dos seus sistemas de fortificação. No entanto, o ataque às vilas bastionadas (os três Paralelos, as meias praças de armas e os tiros “a ricochete”) tem grande ascendência no mundo poliorcético. A ideosincrâcia de Vauban permitir-lhe-á despreocupar-se do rigor (sendo ele disciplinado de natural), aplicando na realidade as suas reformas e os seus “antisistemas” ao modo que mais convinha e tendo em conta critérios de racionalidade e bom senso. Os 4.000 quilómetros que percorria anualmente, a cavalo ou de coche de cavalos, davam-lhe todas as sabedorias de que precisava. Existe na atualidade um roteiro, o Equi-Rando-Vauban, que permite ao turista apreciar o custo de tanta viagem.
Buscam-se perfeitismos no meio de nada, sem motivos, num gentil-homem que tanto criava campos entrincheirados como inundava os campos inimigos, que tanto desenhava obras avançadas como alumbrava verdadeiros novos sistemas. Vejam então as baterias costeiras o fluviais (Camaret, Fort Louvois, Fort Lupin, Ambleteuse,..) com a sua conceição do tiro rente ao chão; vejam um possível quarto sistema em Mont Louis ou Blaye na forma de entrincheirar o cinto de segurança dos bastiões de combate. Até um quinto sistema pode estar presente em Briançon baseado na adaptação à montanha, superpondo cortinas, tenalhas, semilúas e caminhos cobertos e conformando assim diferentes patamares.
Falta talvez uma componente vertebradora dos tratados e sistemas ligados ao Arts Belli, ao avanço contemporâneo da artilharia, à arquitetura militar internacional, às guerras europeias recentes. Não conhecer os ditos “sistemas abertos de defesa das cidades” dos séculos XIX e XX, por exemplo, é obviar um segmento importante da história próxima de Europa, aquela que nos trouxe a cultura da paz e do entendimento. Almeida não está nem isolada, nem isenta disto, embora não sofresse os efeitos tão marcantes das guerras civís europeias.
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