18 de xul. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(224ª parte)    



Zélia Mendonça

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia  

 Vai  ser  pelo  'Caminho Português da Costa',  na  Vila  Nova  de  Cerveira,  que  dê  início  a  'XXII  Bienal  Internacional  de  Arte  de  Cerveira'  sob  o  título  'We  must  take  action  !/ Devemos  agir!',  entre  o  16  de  julho  e  31  de  dezembro  de  2022.  Este  semestre  estará  alinhado  com  a  agenda  global,  pois  a  Bienal  propõe  refletir  sobre  questões  globais  concludentes,  como  a  sustentabilidade,  as  alterações  climáticas,  a  equidade  entre  géneros  e  etnias  ou  a  urgência  da  paz.  Para  além  disso,  serão  apresentadas  96  obras  de  77  artistas,  de  18  países,  logo  após  um  processo  seletivo  que  reuniu  a  autores  de  Portugal,  Brasil,  Espanha,  Itália,  Alemanha  e  França.  Já  antes,  em  17  de  março  do  presente  ano,  com  o  manchete  'A  arte  contemporânea  a  pensar  e  a  agir  sobre  o  mundo:  o  papel  das  bienais',  dava-se  início  a  toda  uma  dinâmica  que  obrigadamente  vai  mudar  alguma  coisa,  designadamente  nos  roteiros  jacobeus  e  no  momento  presente.     




 Convém  lembrar  que  este Jacobeu  21-22  tão  deturpado  e  desnaturado,  carece  de  referências  verdadeiramente  universais  que  façam  alusão  aos  problemas  prementes  de  um  mundo  em  convulsão.  Os  caminhos  para  Santiago  devia  era  servirem  de  nexo  entre  povos,  culturas  e  contextos.  No  'Caminho  Português  da  Costa',  o  percurso  genuíno  e  centenário,  a  cultura  detivera-se  nos  assuntos  que  importam  e  preocupam à  gente  (a  tristeza  é  sinal  evidente  e  um  sintoma  gritante  que  se  palpa).  Nada  melhor  para  isso  do  que  um  revulsivo  fresco  e  higienizante  que  abra  mentes  e  horizontes  neste  pântano  pessimista  e  fechado  que  nos  tocou  viver.  Daí  que,  de  entre  os  artistas  presentes,  tenhamos  optado  por  algumas  singularidades  que,  desde  o  início,  atraíram  a  nossa  sensibilidade  mais   inconsciente.  Extensamente,  convinha  aludir  ao  continente  americano  em  sentido  lato  e  ao subcontinente  brasileiro  mais  em  concreto.  Postulamos  assim  nesta  Bienal  cerveirense  à  artista  'Zélia  Mendonça'  como  legítima  introdutora  de  uma  linguagem  e  atitude  nova:  a  de  uma  mulher  que  em  tom  feminista  revela  a  protelação  sofrida  pela  Amazonia  da  parte  de  governantes  que,  chefiados  por  Jair  Bolsonaro,  estabeleceram  uma  nova  colonização  no  seu  país,  aliás  várias  delas  num  faseamento  cronológico.  É  a  história  de  'chuva  sobre  molhado'  que  paira  outra  vez  sobre  o  Brasil;  provavelmente,  o  senhor  Bolsonaro  pense  pouco  em  filhos  e  netos,  em  futuro,  visto  estar  a  continuar  com  a  asneira  do  chamado  'Marco  Temporal',  autêntico  encurralamento  espacial  do  veio  amazónico,  negador  da  mãe  e  terra  indígena. Tentar  harmonizar  este  discurso  de  natureza  abrangente,  trazê-lo  em  consonância  geral  com  as  rotas  jacobeias  constitui  um  risco  e  um  desafio  que  pode  ser  perfeitamente  complementar,  ajudando  a  desbloquear  ou  a  limpar  a  ferrugem  das  várias  posições  inevitavelmente  'caseiras',  'bairristas'  e  de  'cunho  local'  (nomeadamente,  as  autonómicas  galegas  junto  de  projetos  turistificados  que  denotam  uma  contraposição  face  um  projeto  maior,  europeu  e  universal.  A  verdade  seja  dita).    

 Zélia  Mendonça,  em  setembro  de  2021,  apresentava  a  exposição  'Impávida  Essência',  19  obras  pictóricas  numa  Bienal  de  Cerveira  preparatória,  bem  como  o  livro  'Zélia  Mendonça,  senhora  das  mudanças',  compendiando-se  a  sua  vocação  de  crochê,  pintura,  escultura  e  'assemblages'  várias.  A  nossa  postulada  mudou  de  vida  aos  58  anos  de  idade,  trocando  uma  vida  empresarial  sucedida  por  uma  outra  de  criação  e  maior  compromisso.  Prestação  dada  pela  nossa  figura  vai  consistir  em  mudar  algo  que  era  tido  por  impróprio  nesta  Bienal  (a  mais  antiga  no  âmbito  ibérico),  qual  é  a  problemática  indígena  no  Brasil.  Certamente,  a  mensagem  interessa  toda  a  gente,  dado  ter  repercussões  de  ordem  internacional  (a  'Documenta  Kassel'  de  este  ano,  testemunhava  algumas  afirmações  consideradas  'antissemitas'  pelos  mídia,  ponhamos  um  exemplo).  No  meio  de  uma  rota  jacobeia  denominada  secularmente  'Caminho  Português  da  Costa'  brilha  uma  Bienal  agora  caracterizada  pelo  chamado  de  atenção  mundial  já  sabido.  Interessa  na  Galiza,  interessa  no  Jacobeu  21-22   e  interessa  à  humanidade.     

 Artigo precedente. 

Ningún comentario:

Publicar un comentario