PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(224ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Vai ser pelo 'Caminho Português da Costa', na Vila Nova de Cerveira, que dê início a 'XXII Bienal Internacional de Arte de Cerveira' sob o título 'We must take action !/ Devemos agir!', entre o 16 de julho e 31 de dezembro de 2022. Este semestre estará alinhado com a agenda global, pois a Bienal propõe refletir sobre questões globais concludentes, como a sustentabilidade, as alterações climáticas, a equidade entre géneros e etnias ou a urgência da paz. Para além disso, serão apresentadas 96 obras de 77 artistas, de 18 países, logo após um processo seletivo que reuniu a autores de Portugal, Brasil, Espanha, Itália, Alemanha e França. Já antes, em 17 de março do presente ano, com o manchete 'A arte contemporânea a pensar e a agir sobre o mundo: o papel das bienais', dava-se início a toda uma dinâmica que obrigadamente vai mudar alguma coisa, designadamente nos roteiros jacobeus e no momento presente.
Convém lembrar que este Jacobeu 21-22 tão deturpado e desnaturado, carece de referências verdadeiramente universais que façam alusão aos problemas prementes de um mundo em convulsão. Os caminhos para Santiago devia era servirem de nexo entre povos, culturas e contextos. No 'Caminho Português da Costa', o percurso genuíno e centenário, a cultura detivera-se nos assuntos que importam e preocupam à gente (a tristeza é sinal evidente e um sintoma gritante que se palpa). Nada melhor para isso do que um revulsivo fresco e higienizante que abra mentes e horizontes neste pântano pessimista e fechado que nos tocou viver. Daí que, de entre os artistas presentes, tenhamos optado por algumas singularidades que, desde o início, atraíram a nossa sensibilidade mais inconsciente. Extensamente, convinha aludir ao continente americano em sentido lato e ao subcontinente brasileiro mais em concreto. Postulamos assim nesta Bienal cerveirense à artista 'Zélia Mendonça' como legítima introdutora de uma linguagem e atitude nova: a de uma mulher que em tom feminista revela a protelação sofrida pela Amazonia da parte de governantes que, chefiados por Jair Bolsonaro, estabeleceram uma nova colonização no seu país, aliás várias delas num faseamento cronológico. É a história de 'chuva sobre molhado' que paira outra vez sobre o Brasil; provavelmente, o senhor Bolsonaro pense pouco em filhos e netos, em futuro, visto estar a continuar com a asneira do chamado 'Marco Temporal', autêntico encurralamento espacial do veio amazónico, negador da mãe e terra indígena. Tentar harmonizar este discurso de natureza abrangente, trazê-lo em consonância geral com as rotas jacobeias constitui um risco e um desafio que pode ser perfeitamente complementar, ajudando a desbloquear ou a limpar a ferrugem das várias posições inevitavelmente 'caseiras', 'bairristas' e de 'cunho local' (nomeadamente, as autonómicas galegas junto de projetos turistificados que denotam uma contraposição face um projeto maior, europeu e universal. A verdade seja dita).
Zélia Mendonça, em setembro de 2021, apresentava a exposição 'Impávida Essência', 19 obras pictóricas numa Bienal de Cerveira preparatória, bem como o livro 'Zélia Mendonça, senhora das mudanças', compendiando-se a sua vocação de crochê, pintura, escultura e 'assemblages' várias. A nossa postulada mudou de vida aos 58 anos de idade, trocando uma vida empresarial sucedida por uma outra de criação e maior compromisso. Prestação dada pela nossa figura vai consistir em mudar algo que era tido por impróprio nesta Bienal (a mais antiga no âmbito ibérico), qual é a problemática indígena no Brasil. Certamente, a mensagem interessa toda a gente, dado ter repercussões de ordem internacional (a 'Documenta Kassel' de este ano, testemunhava algumas afirmações consideradas 'antissemitas' pelos mídia, ponhamos um exemplo). No meio de uma rota jacobeia denominada secularmente 'Caminho Português da Costa' brilha uma Bienal agora caracterizada pelo chamado de atenção mundial já sabido. Interessa na Galiza, interessa no Jacobeu 21-22 e interessa à humanidade.
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