3 de abr. de 2021

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(140ª parte)   


                           Mosteiro de Santa María de Bouro. Cinzento e vermelho fazem tímida policromia


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia 

 'Plataforma  Estatal  de  Profesionales  de  la  Arqueología'  constituiu-se  na  cidade  de  Cádis,  no  ano  de  2018,  como  expressão  de  uma  fartura  e  de  um  repúdio  face  à  situação  atual  deste  ramo  da  investigação  sobre  as  coisas  antigas  e  menos  antigas.  No  caso   de  Oia  será preciso  desdobrar  a  problemática  em  duas  vertentes:    

  ● Questão  das  ossadas  no  espaço  monacal  ou  resultado  das  pesquisas  arqueológicas  das  pessoas  contratadas  pela  RMO:  Foi  feito  tudo?  Assim  que  não  fique  esclarecido  este  particular,  RMO  não  pode,  nem  deve,  avançar  com  nada.  Temos  contatado  com  a  ARMH  ( Asociación  para  la  Recuperación  de  la  Memoria  Histórica)  e  com  a  Secretária  de  Estado  de  Memória  Democrática  do  Ministério  da  Presidência  para  apurar  alguns  pormenores.  Qual  é  o  estado  de  coisas?  Houve  pesquisa  arqueológica  exaustiva  e  respeito  por  uma  necessária  Zona  de  Proteção?  Quem  conforma  a  equipa  arqueológica  contratada  pela  RMO?  Estão  a  ser  afetadas,  ou  serão  afetadas,  as  previsíveis  zonas  de  enterro  dos  represaliados  políticos  do  franquismo  em  Oia?  (note-se  que  não  será  igual  'enterro'  do  que  'sepultamento',  sendo  o  primeiro  bem  mais  irregular  ou  ilocalizável).  Houve  'Zonificação  Arqueológica'  concretizada  nos  terrenos  do  mosteiro?  Existe  uma  'Carta  Arqueológica' específica  do  cenóbio?  Tem  havido  novas  sobre  prospecções  ou  escavações  nestes  âmbitos  espaciais?  Os  possíveis  enterramentos  foram  o  não  intervindos  ou  dignificados?  Não  temos  notícia  disso,  o  qual  é  grave  e  revelador.  

  ● Xunta  galega  tem-se  erguido  em  "ama",  em  "babá"  desta  RMO  com  total  descaramento  e  parcialidade  (duas  verbas  para  o  templo  de  776.000 €,  em  fevereiro  de  2019,  e  de  perto  de  900.000  €,  em  março  de  2021,  perfazem  no  entanto  essa  complacência  com  os  senhores  da  olívica).  Muito  embora  se  trate  de  quantias  realmente  pequenas,  ajudam  a  criar  um  ambiente  triunfalista  que  em  nada  se  corresponde  com  a  situação  real  da  arquitetura  religiosa  na  Galiza  e  no  Estado.  Bastava  multiplicar  por  dez  esses  mais  de  800.000  €  da  segunda  verba  para  cairmos  na  conta  do  longe  que  ficavamos  do  orçamento  reabilitador  final  do  mosteiro  todo. Simplesmente,  arredondando  tais  quantias  nem  atingiamos  a  metade  das  despesas  precisas  para  colmatar  uma  reabilitação  em  termos.  Esse  'pingo  a  pingo',  ainda  que  se  abane  o  aumento  de  um  19%  orçamental,  advém  estratégia  faseada  para  torcer  a  balança  em  favor  do  "neoliberalismo  cultural"  e  os  tijoleiros  (ou  'betonistas',  ou  'falsos  paisagistas').  Esteve,  e  ainda  está  na  moda,  o  arranjo  falsamente  paisagista  de  espaços  previamente  mutilados  ou  descaraterizados,  isto  é  admitido  por  todos.  Quantos  mediucos  a  exercerem   de  "paisagistas"  haverá  nos  meios  citadinos?  Há-os  às  carradas!...  

   



 Falando  agora  da  "PEPA",  não  é  casual  essa  alusão  à  Constituição  de  1812,  dado  a  Plataforma  ter  nascido  na  cidade  berço  desta  constituição  histórica.  Estatutos  gozaram  do  apoio  dos  profissionais  em  Bilbao  que,  necessariamente,  começaram  por  analisar  o  quantitativo  numérico  de  arqueólogos  em  Espanha  (calculam-se  em  2.500  os  arqueólogos  ao  total).  Conferem-se  membros  em  Madrid,  Cantabria,  Andaluzia,  Baleares,  Valência,  Galiza  ou  País  Basco.  A  maioria  dos  integrantes  poderia  estar  no  ramo  da  construção,  sendo  recrutados  para  zonas  protegidas  desde  que  começam  as  remoções  de  terra  até  estas  finalizarem,  quer  em  obras  de  particulares,  quer  nas  das  diferentes  administrações.  Lei  do  Património  Histórico  Espanhol  de  1985  tinha  previsto  comprometer  ao  promotor,  mas  este  não  tem  muito  entusiasmo  pelos  achados  e   quer  um  arqueólogo  barato.  As  opiniões  expressas  da  parte  de  arqueólogos  profissionais  tem  todas  o  mesmo  rumo:  "Te  paga  un  privado,  así  que  la  Administración  Autonómica  te  considera  un  vendido  porque  cobras  del  promotor,  y  este  cree  que  eres  la  policía  de  la  Administración".  Enfim,  uma  situação  que  encaminhou  à  maioria  destes  arqueólogos  à  condição  de  'falsos  autónomos'.   

 Uma  vez  exposto  aquilo  que  há  em  cada  obra,  é  preciso  pedir  autorização  para  a  continuação  dos  trabalhos.  Mas  até  serem  dadas  essas  licenças  pode  haver  um  tempo  demorado  de  meses.  "Se  nos  culpa  del  parón  en  la  obra,  que  afecta  a  obreros  que  no  pueden  seguir  trabajando"  afirmam.  "Es  que  ni  siquiera  se  necesita  de  colegiación  para  ejercer  la  profesión;  cualquier  licenciado,  sin  la  especificidad  de  ser  arqueólogo,  puede  participar  en  las  convocatorias  públicas  para  intervenir  en  yacimientos.  Se  pide  Licenciatura  en  Historia  en  la  disciplina  de  Arqueología".    

 Todos  os  anos  são  promovidas  campanhas  en  jazidas  ou  sítios  arqueológicos  pelas  administrações  ou  universidades.  Contabilizam-se  10.000  jazidas  em  Espanha,  sendo  que  no  mínimo  2.500  delas  são  bens  de  interesse  cultural  (BIC).  O  resto  andam  desprotegidos  e  expostos  à  pilhagem.  GRANDE  AMEAÇA  É  CONSTITUÍDA  PELAS  EXPANSÕES  URBANÍSTICAS,  dado  o  património  arqueológico  ser  algo  subsidiário.  Da  mesma  maneira,  ABANDONO  DE  JAZIDAS  ESCAVADAS,  por  falta  de  viabilidade  económica,  traz  resultado  similar.  Aliás,  nem  sempre  os  ditos  Parques  Arqueológicos  e  a  sua  musealização  puderam  se  safar  da  falta  de  manutenção.  Alguns  concelhos  os  mantiveram,  outros  nem  por  isso.  Segundo  os  arqueólogos,  administrações  locais  não  têm  competências  nessa  matéria.  Resta  desvendar  quem  é  quem  nas  equipas  arqueológicas  bem  como  saber  para  quem  trabalham. 

 (Continuará) 

 Artigo precedente.

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