PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(139ª parte)
Mosteiro benedictino de Pombeiro (Felgueiras-Portugal)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Uma proprietária, a RMO, que tira partido de tudo e de mais alguma coisa na questão do mosteiro, não fazendo qualquer consideração relativa à contenção propagandista, só merece ser alcunhada de escapista. De novo o escape como arma de arremesso face a grupos e visitas "marcadas" pelo confinamento. Verão de 2020 foi uma apoteose quanto a isso, onde andavam a mistura atuações musicais, 'solpores', 'conversas' e planos de sustentabilidade feitos à medida da consignatária. Pena foi comprovar como "o caché falou mais alto" nas palestras que protagonizaram Miguel Sobrino González (2019) ou José Fariña Tojo (2020), dois vultos do urbanismo e a arte que não souberam declinar o convite como é devido. Todavia, repare-se que José Fariña Tojo é céptico e descrente nestas questões gerais do urbanismo. RMO também cá tirou proveito da coisa agasalhando os olhos dos incautos com uma futura promoção urbana costeira (PUC) que, designadamente, é um projeto tão descabido como inexistente (só existe em hologramas, mas a sua concretização conformará um desastre paisagístico). Vamos no entanto focalizar a nossa análise da dita "sustentabilidade" em ideias chave que pouco ou nada têm a ver com a reabilitação na íntegra de um mosteiro: política de "pão e circo" continua nessa trajetória inalterável de eventos estivais, onde os presentes mantêm a distância física nestes espaços que, seguindo a lógica, devia era serem fechados.
RMO, atenta à recuperação do tempo perdido, mantém esse 'timing' por pura treta gananciosa. Sim, manter aqueles espaços temporáriamente fechados marcaría uma mínima ética naqueles que pouco ou nada outorgam àquilo que não entra na órbita dos seus interesses. Duas ou três observações básicas ajudarão a fazer medida do comportamento da consignatária no assunto que nos ocupa:
● Faseamento 'pingo a pingo' da implementação de materiais de qualidade comprovada na dita reabilitação. Demoraram 14 anos a cair na conta de que a madeira de pinho tinha de ser afastada ou reconvertida. Foram 14 anos perdidos. Quem paga por isto? Aos "últimos trabalhos provisionais em cobertas" segue-se o "início da fase final do projeto de cobertas definitivas" (quanto tempo mais?). Madeira de pinho reutiliza-se; fibrocemento será reutilizado ou tratado como resíduo. Entretanto, a Xunta doa um DINHEIRO PINGADO ao templo em duas fases (primeiro com mais de 700.000 € e agora com mais de 800.000 €) protagonizando um parco apoio orçamental e dando asas às pretensões da RMO.
● Uso das veigas do mosteiro para pastagem. Cabras, ovelhas e vacas cachenas beneficiarão dos critérios da agricultura e pecuarismo ecológicos. Colocamos uma pergunta na Secretária do 'Consello Regulador da Agricultura Ecolóxica de Galicia' (CRAEGA), sediada em Monforte de Lemos (Lugo). Dona Susana Amaro Castro atendeu-nos amavelmente respondendo que não era com eles o assunto. Uma segunda pergunta relativa a se RMO tinha feito algúm Protocolo de colaboração com CRAEGA não foi respondida. Assim de simples... Para além disso, RMO fará cessão desses terrenos temporáriamente, antes de remover terras e pôr a andar betão e tijolo para erguer vinte prédios.
● Mensagem Ecológica embaratecida e evidente Moral de Situação pelo facto de tentar coadunar toda a bicharada do lugar com os planos reais da RMO. Doninhas, morcegos e pássaros vários sempre existiram FORA e DENTRO dos 57.000 m2 da proprietária. No Lavandeira, "ocupam-se" de rãs e salamandras (pintegas) como se lhes fosse a vida nisso… Colaboração no 'Proxecto Ríos' não deixa de ser mais uma encenação pseudo-ecologista. Da gestão do lixo ou do aluguer de casas de banho portáteis, era o que mais faltava que fizessem de conta que não era com eles! Quanto maior for o impacto ambiental e paisagista na Riña, maior será o empenho "ecologista" destes senhores.
● Um último pormenor: a multinacional AMAZON PRIME VIDEO e BAMBÚ PRODUCCIONES distribuem e produzem, repetivamente, uma fição cujas filmagens acabam a finais de maio de 2021. "Un asunto privado" decorre em cenários de Vigo, Pontevedra, Mondariz e um bocado em Oia. Isto serve a RMO para organizar uma 'boutade' da qual tirar o maior proveito, alimentando morbidade, 'glamour' e escapismo (óptimo para confinados) ou facilitando uma refeição a uma ampla equipa internacional da 'BAMBÚ' (ja agora, qual era o aforo, a capacidade do local e o número de comensais?). COVID não é igual para todos, pelos vistos.
● Uma derradeira consideração fala de arqueologia e arqueólogos. Era bom que os contratados da RMO considerassem o mosteiro de Oia como Zona de Proteção, com as suas servidões e limitações, não se podendo avançar num empreendimento sem antes deixar 'preto no branco' a linde de atuação dos trabalhos destes profissionais. Fala-se tanto de Memória Histórica e este nosso mosteiro recolhe um repositório invulgar de prováveis ossadas e achados! Onde é que está a coerência? Num posterior artigo falaremos da 'Plataforma Estatal de Profesionales de la Arqueología' (PEPA, Cádiz 2018).
(Continuará)
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