27 de mar. de 2021

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(139ª parte)  

 

                      Mosteiro benedictino de Pombeiro (Felgueiras-Portugal)
 

ENCONTROS  POLIORCÉTICOS / Oia

 Uma  proprietária,  a  RMO,  que  tira  partido  de  tudo  e  de  mais  alguma  coisa  na  questão  do  mosteiro,  não  fazendo  qualquer  consideração  relativa  à  contenção  propagandista,  só  merece  ser  alcunhada  de  escapista.  De  novo  o  escape  como  arma  de  arremesso  face  a  grupos  e  visitas  "marcadas"  pelo  confinamento.  Verão  de  2020  foi  uma  apoteose  quanto  a  isso,  onde  andavam  a  mistura  atuações  musicais,  'solpores',  'conversas'  e  planos  de  sustentabilidade  feitos  à  medida  da  consignatária.  Pena  foi  comprovar  como  "o  caché  falou  mais  alto"  nas  palestras  que  protagonizaram  Miguel  Sobrino  González  (2019)  ou  José  Fariña  Tojo  (2020),  dois  vultos  do  urbanismo  e  a  arte  que  não  souberam  declinar  o  convite  como  é  devido.  Todavia,  repare-se  que  José  Fariña  Tojo  é  céptico  e  descrente  nestas  questões  gerais  do  urbanismo.  RMO   também  cá  tirou  proveito  da  coisa  agasalhando  os  olhos  dos  incautos  com  uma  futura  promoção  urbana  costeira  (PUC)  que,  designadamente,  é  um  projeto  tão  descabido  como  inexistente  (só  existe  em  hologramas,  mas  a  sua  concretização    conformará  um  desastre  paisagístico).  Vamos  no  entanto  focalizar  a  nossa  análise  da  dita  "sustentabilidade"  em  ideias  chave  que  pouco  ou  nada  têm  a  ver  com  a  reabilitação  na  íntegra  de  um  mosteiro:  política  de  "pão  e  circo"  continua  nessa  trajetória  inalterável  de  eventos  estivais,  onde  os  presentes  mantêm  a  distância  física  nestes  espaços  que,  seguindo   a  lógica,  devia  era  serem  fechados.  

 


 RMO,  atenta  à  recuperação  do  tempo  perdido,  mantém  esse  'timing'  por  pura  treta  gananciosa.  Sim,  manter  aqueles  espaços  temporáriamente  fechados  marcaría  uma  mínima  ética  naqueles  que  pouco  ou  nada  outorgam  àquilo  que  não  entra  na  órbita  dos  seus  interesses. Duas  ou  três  observações  básicas  ajudarão  a  fazer  medida  do  comportamento  da  consignatária  no  assunto  que  nos  ocupa:  

 ●    Faseamento  'pingo  a  pingo'  da  implementação  de  materiais  de  qualidade  comprovada  na  dita  reabilitação.  Demoraram  14  anos  a  cair  na  conta  de  que  a  madeira  de  pinho  tinha  de  ser  afastada  ou  reconvertida.  Foram  14  anos  perdidos.  Quem  paga  por  isto?  Aos  "últimos  trabalhos  provisionais  em  cobertas"  segue-se  o  "início  da  fase  final  do  projeto  de  cobertas  definitivas"  (quanto  tempo  mais?).  Madeira  de  pinho  reutiliza-se;  fibrocemento  será  reutilizado  ou  tratado  como  resíduo. Entretanto,  a  Xunta  doa  um  DINHEIRO  PINGADO  ao  templo  em  duas  fases  (primeiro  com  mais  de  700.000  €  e  agora  com  mais  de  800.000  €)  protagonizando  um  parco  apoio  orçamental  e  dando  asas  às  pretensões  da  RMO.

 ●    Uso  das  veigas  do  mosteiro  para  pastagem.  Cabras,  ovelhas  e  vacas  cachenas  beneficiarão  dos  critérios  da  agricultura  e  pecuarismo  ecológicos.  Colocamos  uma  pergunta  na  Secretária  do  'Consello  Regulador  da  Agricultura  Ecolóxica  de  Galicia'  (CRAEGA),  sediada  em  Monforte  de  Lemos  (Lugo).  Dona  Susana  Amaro  Castro  atendeu-nos  amavelmente  respondendo  que  não  era  com  eles  o  assunto.  Uma  segunda  pergunta  relativa  a  se  RMO  tinha  feito  algúm  Protocolo  de  colaboração  com  CRAEGA  não  foi  respondida.  Assim  de  simples... Para  além  disso,  RMO  fará  cessão  desses  terrenos  temporáriamente,  antes  de  remover  terras  e  pôr  a  andar  betão  e  tijolo  para  erguer  vinte  prédios.  

 ●    Mensagem  Ecológica  embaratecida  e  evidente  Moral  de  Situação  pelo  facto  de  tentar  coadunar  toda  a  bicharada  do  lugar  com  os  planos  reais  da  RMO.  Doninhas,  morcegos  e  pássaros  vários  sempre  existiram  FORA   e  DENTRO  dos  57.000  m2  da  proprietária.  No  Lavandeira,  "ocupam-se"  de  rãs  e  salamandras  (pintegas)  como  se  lhes  fosse  a  vida  nisso…  Colaboração  no  'Proxecto  Ríos'  não  deixa  de  ser  mais  uma  encenação  pseudo-ecologista.  Da  gestão  do  lixo  ou  do  aluguer  de  casas  de  banho  portáteis,  era  o  que  mais  faltava  que  fizessem  de  conta  que  não  era  com  eles!  Quanto  maior  for  o  impacto  ambiental  e  paisagista  na  Riña,  maior  será  o  empenho  "ecologista"  destes  senhores.  

 ●     Um  último  pormenor:  a  multinacional  AMAZON  PRIME  VIDEO  e  BAMBÚ  PRODUCCIONES  distribuem  e  produzem,  repetivamente,  uma  fição  cujas  filmagens  acabam  a  finais  de  maio  de  2021.  "Un  asunto  privado"  decorre  em  cenários  de  Vigo,  Pontevedra,  Mondariz  e  um  bocado  em  Oia.  Isto  serve  a  RMO  para  organizar  uma  'boutade'  da  qual  tirar  o  maior  proveito,  alimentando  morbidade,  'glamour'  e  escapismo  (óptimo  para  confinados)  ou  facilitando  uma  refeição  a  uma  ampla  equipa  internacional  da  'BAMBÚ'  (ja  agora,  qual  era  o  aforo,  a  capacidade  do  local  e  o  número  de  comensais?).  COVID  não  é  igual  para  todos,  pelos  vistos.  

 ●    Uma  derradeira  consideração  fala  de  arqueologia  e  arqueólogos.  Era  bom  que  os  contratados  da  RMO  considerassem  o  mosteiro  de  Oia  como  Zona  de  Proteção,  com  as  suas  servidões  e  limitações,  não  se  podendo  avançar  num  empreendimento  sem  antes  deixar  'preto  no  branco'  a  linde  de  atuação  dos  trabalhos  destes  profissionais.  Fala-se  tanto  de  Memória  Histórica  e  este  nosso  mosteiro  recolhe  um  repositório  invulgar  de  prováveis  ossadas  e  achados!  Onde  é  que  está  a  coerência?  Num  posterior  artigo  falaremos  da  'Plataforma  Estatal  de  Profesionales  de  la  Arqueología'  (PEPA,  Cádiz  2018).  

 (Continuará)

 Artigo precedente. 

Ningún comentario:

Publicar un comentario