PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(80ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Vamos analisar alguns aspetos do mosteiro cisterciense de Fitero (Navarra), exemplo vivo de um debate que permanece. Muito embora inserido de jeito natural na malha urbana, absorvido pelo velho casário fiterano (inclusivemente com paredes encostadas do lado leste, na Praça das Malvas), traduz todas as características do Císter na expressão formal dos ábsides. Aliás, Fitero esteve sempre feito ao mosteiro e viceversa, abanando, junto de Moreruela (Zamora), a patente de ser o mosteiro mais antigo da ordem na Península. O facto do mosteiro estar embutido, encaixado na povoação, não lhe tira mérito nenhum a um conjunto que nos oferece um dos tipos construtivos basilares do Císter: a utilização de cabeceira com charola ou deambulatório dispondo capelas radiais (próprio de Clairvaux ou Pontigny) e presente em Veruela (Zaragoza), Poblet (Tarragona), Oseira (Ourense) ou Moreruela (Zamora). No outro tipo, aparece a cabeceira rectangular, com uma ou três capelas e braço de cruzeiro sainte, ao que abrem-se uma série de capelas rectangulares (veja-se igreja-mãe de Citeaux, Fontenay, Flaban, Fontfroide e as hispánicas de La Oliva (Navarra), Santes Creus (Tarragona), Meira (Lugo), Oia (Pontevedra) ou Las Huelgas (Burgos). Esse espaço restrito em Fitero se traduz em 685 m2 para perspetivar a fachada e outras superfícies ganhas nas traseiras mercê da Praça dos Ábsides e a das Malvas. Contudo, claustro gótico-renacentista (XVI-XVII) foi restaurado oportunamente pelo Governo navarro com um investimento de 6,2 milhões de euros (quantidade avultada e meritória, que nada tem a ver com as esmolas que aplica Xunta de Galiza a Oia, verdadeiro álibi para não expropriar o mosteiro).
Em Navarra não se contemplam essas deformidades translúcidas ligadas a um Talasos, nem urbanizações decorrentes de uma turistificação tresloucada. Há por tanto un denominador comúm que exclue esses acréscimos por puro e simples respeito pela paisagem. Parece mesmo o jogo dos fantoches e das fantochadas na Galiza e no seu património edificado.
"RMO" está a apostar forte num Talasos que somente trará outras coisas piores. "Encontros Poliorcéticos" já se dirigiu à Xunta galega no intuito de travar a pretensa "ambientalidade" deste Talasos, que fica entre a falta de saneamento local e um previsível desabastecimento de água. Todavia, aquando o senhor Juan Martínez pretende fazer um somatorio de sítios Císter escorrega da pior maneira, visto não dar preferência a estilos unificadores (veja-se românico, pre-gótico) perdendo a oportunidade de conferir similitudes, diferendos ou mesmo sincretismos. Daí Navarra ter uma "Rota do Românico" admirável (54 edifícios), com carimbo próprio. Tentativa da "RMO" de escoar um produto "exclusivamente cisterciense" desmereceu e ficou na página de pretensas iniciativas "culturalistas" que, obviamente, só visam concretizar outras coisas que nada têm a ver com o património.
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