PATRIMÓNIO
A candidatura de Valença do Minho a Património da Unesco
(10ª Parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Valença do Minho
Numa linha aproximativa, temos de ser condizentes com factos que esquematizem a obra militar abaluartada em Portugal. Se o Michel de Lescolles e Gilles de Saint Paul operavam quer em Valença, quer em Almeida; se a arrivada de engenheiros franceses a Portugal era um dado assente (somavam mais de 300 deles a finais do século XVII na França); se a isso acrescentarmos a aportação da Escola Jesuita de Flandres, a de Lorenzo Possi ou a de Luis Serrão Pimentel, deviamos era dar um sim a uma realidade da que Portugal usufruia: Ganhos constantes na autonomia disciplinar da Poliorcética, ultrapassando a liderança dos mestres italianos recentes e, mesmo, aproveitando o seu magistério. Daí a oportunidade de citarmos um elenco de autores que supôs um câmbio de atitudes no relativo às aplicações geométricas, às planimetrias e alicerces, bem como as noções sobre defesa e ataque. Esta citação comeza por Errard-le-duc e a sua obra “La fortification demonstrée et reduicte en art” (1594); a seguir, Antoine de Ville (1596- 1674) com “Les Fortifications”, de 1628. Samuel Marolois, da sua vez, estabelece uma ponte entre italianos e franceses com a “Opera Mathemática” de 1614. Os outros acréscimos pertencem a Fritach e a sua “Architecture Militaire” de 1631, a Manesson Mallet e os seus “Travaux de Mars”, finalizando esta seriação tratadística com a figura de vulto de Vauban.
Sendo Valença do Minho obra de Lescolles, poderiamos reparar na sua dissemelhança com Almeida (Magistral e Coroada versus Hexágono de cálculo) ou com a planta (s) de Elvas, ou ainda com a íngreme vila de Marvão. São todas diferentes umas das outras. No entanto, estão ligadas na sua condição de local de passo (de penetração) e a sua natureza representativa manifesta-se com alguma rotundidade. Valença é circunscrita por cintos murários defensivos, mas não tem a regularidade hexagonal (quase regularidade) de Almeida, nem esses revelins a criarem a famosa estrela de 2 pontas beirã. Elvas, a “Porta do Reino”, a “Rainha da fronteira” tem uma grandiosidade ímpar, com os fortes de Nossa Senhora da Graça, de Santa Lucía e as avançadas de S.Pedro, São Domingos e São Mamede, num plano geral que reflecte traços holandeses (o seu autor e João Piscácio Cosmander). Marvão, um porto seco, regista uma estrutura murada longa, estreita e verticalista de características únicas.
Fizemos alusão a uma Qualidade Representativa destas praças consistente no seguinte: historicamente, não tinham passado pelas vicissitudes das suas homónimas europeias (conflitos decimonónicos do velho continente/ guerra Franco-prussiana... ), embora tivessem tido algúm protagonismo na Invasão Napoleónica da Península Ibérica. As suas planimetrias admiram aos estudosos pelo facto de conservarem uma certa “virgindade”, longe dos espaços sobrepostos de França, fornecidos da seriação militar que se segue: Conjuntos “Vauban” - Conjuntos “Séré de Rivières” - Linha Maginot e até a “Atlantikwall” alemã. O “Pre-carré” francês será uma primeira expressão disto: dezenas de fortes em estrela, de fosso húmidos, com as suas “citadelles”, em seriação geográfica dupla. PRE-CARRÉ significa aquele âmbito próprio e exclusivo de cada um, de uma empresa, de um senhor. Na atualidade tem um sentido mais pejorativo, a denunciar a falta de relações mais sólidas entre a velha metrópoli e as ex-colónias francesas.
Habituados como estão os poliorcéticos galos a verem superfícies perfeitamente “palimpsestadas”, territorios martelados pelas duas guerras mundiais e espaços que ficaram obsoletos de vez, não admira nada que revejam com outros olhos aquilo que, militarmente falando, oferece Portugal (e Espanha). Valença ou Almeida constituem paraísos revivalistas que, em quase todo, lembram o francês. Numa última entrega trataremos do estado atual dessas localidades com um passado de “siège” (assédio), com uma épica militar.
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