PATRIMÓNIO
A praça de Valença a Património da Unesco
(8ª Parte)
São Julião da Barra (Lisboa)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Valença do Minho
Mont Louis e Mont Dauphin fazem parte de um grupo de vilas novas feitas “ex professo”, desde os alicerces. Não é o caso de Valença, onde o cinto murário envolveu o casário precedente. A comparativa feita em tempos pela “Association Vauban” deverá ser minimizada, nos termos de um contraste lógico entre sítios bem longínquos. Valença carece duma ordem urbana “em dameiro”, embora tenham-se aproveitado os espaços, por exemplo, na Coroada. As vilas Vauban respondem a uma cronologia de 20 anos (1678-1698), sendo que seis delas são feitas entre 1678 e 1681; duas, em 1687; mais uma, em 1693 e, enfim, a última, em 1698.
Caracterizam-se pela regularidade no plano e pelos equipamentos urbanos presentes em cada projeto. Quatro destas (Mont Dauphin, Mont Louis, Longwy e Neuf Brisach) chegaram ao nosso tempo num estado próximo ao da sua conceição original. Junto de Saarlouis ou Phalsbourg perfazem um tipo-modelo para o qual desenhava-se um número concreto de baluartes, determinada superfície e os habitantes previstos. Em termos genéricos, baralhavam-se entre os 6 e os 8 bastiões; uma área de 12 a 25 hectares e de 2.000 a 3.000 moradores. O número de habitantes determina o perímetro da envolvente que, dividida pela distância entre dois baluartes duma frente bastionada (mínimo de 240 metros) dará o número de frentes e portanto de lados do polígono exterior. É a chamada noção de “mínimo de cortina”. Era o credo vaubaniano. Tinha isto a ver com Valença? De alguma maneira, sim. Oferecendo o exemplo alternativo da Cidadela de Montmédy, o tem. Montmédy recolhe linhas murárias e patamares diferentes que lembram de todo a Valença e que se aproximam dela. Até poderia ser o elo de ligação.
La Citadelle de Montmédy
De alguma maneira Valença é condizente com isso, visto que confere-se a pegada francesa na malha pre-existente, nas intervenções precisas, na economía de medios. Confere-se nos trabalhos de aparato de uma obra eminentemente europeia como a de Lescolles. Em definitivo, estamos perante a importação de modelos construtivos que ir-se-ão espalhando em Portugal através dum estilo remanescente de características vaubanianas, visto que o Marquês era o referente máximo na França. Vamos aos exemplos concretos: Os POLÍGONOS insinuados e as ESTRELAS insinuadas: Santiago da Barra, em Viana do Castelo, era um polígono insinuado na sua estrutura seiscentista. O Forte de Peniche, verdadeira estrela incompleta, ou esse outro Forte da Consolação, também perto dalí, uma outra estrela com terminais costeiros naturais. Temos o melhor exemplo em São Julião da Barra (Lisboa); em São Sebastião de Caparica ou no Forte de São João Baptista da Ilha Terceira, nos Açores. Consultem, numa primeira abordagem, o Google Maps. Ver-se-ão as similitudes com Sainte Marguerite (Cannes), Villefranche sur mer, Citadelle d´Ajaccio, Citadelle d´Oleron; o grande exemplo de Blaye, Fort Miradou ou o Chateau Royal (Collioure). Também, o Fort Saint Jean, em Marseille.
Forte de Peniche
Para além disso, importa referir outra questão ligada à história. Valença do Minho e a sua unicidade e personalidade derivam dum assento temporal sem guerras. O seu carácter de local “livre de conflitos” nas épocas mais recentes dota-lhe duma ideosincrâcia comúm às de outros lugares, designadamente na Península Ibérica. O facto de não ter sido parte ativa nas guerras clássicas de Europa ( Franco-prussiana de 1870; A Grande Guerra de 1914-18, mesmo que Portugal enviasse homens, etc…) ou de registar uma outra ordem na escala desses conflitos, livra-lhe dos chamados âmbitos palimpsestados (militarmente falando); quer dizer, a sobreposição recorrente de cenários de luta nunca suficientemente explorados (veja-se, do Pre-carré às trincheiras, ou do bastião ao sistema “Séré de Rivières” ou à Linha Maginot). Daí, que seja de alguma maneira sobrevalorado o sistema bastionado português; pela sua isenção, por esse reflectido assento histórico, por uma singularidade que não permite sequer comparações entre as próprias praças hoje candidatas.
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