24 de maio de 2024

CAMINHA

“À conversa com a ciência” na Incubadora de Argela revelou investigação científica e riqueza florística da Serra d’Arga


A sessão foi iniciada com uma intervenção da também bióloga Ângela Ribeiro, investigadora do NUTRIR-CISAS-IPVC
Foto: C.M.C.

Infogauda / Caminha

 A Incubadora Verde, em Argela, é parte há quase dois anos de um trabalho de investigação no âmbito do NUTRIR - Núcleo Tecnológico para a Sustentabilidade Agroalimentar, em colaboração com o IPVC - Instituto Politécnico de Viana do Castelo. No Dia Internacional da Biodiversidade, foi o local escolhido para a primeira iniciativa “À conversa com a ciência”, sob o tema “Urdir a Teia: tradição e ciência na valorização dos recursos locais da Serra d’Arga”. Foi a oportunidade escolhida para dar a conhecer o trabalho científico ali desenvolvido pelo biólogo Alexandre Sá, mestrando na Universidade do Minho e bolseiro de investigação no IPVC.

 Recorde-se que, em outubro 2022, aquando da inauguração da Incubadora Verde pela então Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, foi anunciado que no âmbito do NUTRIR tinham sido definidas para a estrutura de Argela três grandes áreas de estudo, uma delas precisamente a exploração de recursos florísticos da Serra d’Arga para fundamentar soluções de valorização da indústria fitofarmacêutica ou alimentar. Ficou assente, na altura, que nesta área iria trabalhar o primeiro ocupante da Incubadora, Alexandre Sá, um jovem bolseiro.

 O Presidente da Câmara, Rui Lages, recordou então que o Município de Caminha resolveu criar a Incubadora Verde para Apoio ao Empreendedorismo Rural e Sustentável, anunciando que contaria com um núcleo de incubação de empresas e um espaço de trabalho partilhado, mas também incluiria a domiciliação do projeto NUTRIR.

 Quase dois anos depois, Alexandre Sá tem a sua investigação concluída e em breve irá defender o trabalho realizado na Serra d’Arga, agora convertido em tese de Mestrado. Depois de muitas conversas com os habitantes da Serra d’Arga e da observação e análise em laboratório de múltiplas espécies florísticas, sabe-se bastante mais sobre o território, numa investigação que concilia tradição e biodiversidade, valoriza e testa o conhecimento tradicional (protegido pela UNESCO).

 O investigador destacou a enorme riqueza e variedade das espécies florísticas que encontrou na Serra d’Arga, em número superior às já identificadas, por exemplo, no Parque da Peneda Gerês, com uma área muito mais vasta. A investigação de Alexandre Sá equaciona o impacto local do estudo etnobotânico, dividido em áreas como o conhecimento cultural, uso tradicional de plantas e análise fitoquímica. Daqui surgem as possíveis ligações/aplicações ao Turismo, Gastronomia, Indústria farmacêutica e Indústria Alimentar e consequentemente à Cultura e Comércio de plantas aromáticas/medicinais.

 A sessão foi iniciada com uma intervenção da também bióloga Ângela Ribeiro, investigadora do NUTRIR-CISAS-IPVC. A bióloga falou de biodiversidade e dos perigos associados, sublinhando que a globalização e a mudança dos estilos de vida são poderosas ameaças dessa realidade, registando-se uma perda progressiva da relação das pessoas com a natureza.

 Para reverter o que classificou como ”erosão” do património biocultural, Ângela Ribeiro defendeu a aposta na etnobiologia (investigação multidisciplinar dedicada ao estudo da relação das pessoas com o ambiente/natureza vida), “inventariando o conhecimento, os saberes, as práticas, os valores e as crenças tradicionais sobre os recursos biológicos locais”, assim como o desenvolvimento de “novos produtos ou serviços (inovar) com base no conhecimento local e com isso valorizar as comunidades e a biodiversidade”.

 Como referimos na apresentação da iniciativa “Urdir a Teia”, no Dia Internacional da Biodiversidade, 22 de maio, quisemos demonstrar como a cooperação entre governança local (Câmara Municipal de Caminha) e instituições de Investigação, Desenvolvimento e Inovação (NUTRIR-IPVC) podem contribuir para a missão do Quadro para a Biodiversidade Global de Kunming-Montreal, designadamente na fundamentação científica de atividades, produtos e serviços baseados na biodiversidade.

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