PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(222ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Os seguintes textos de Jorge Virgolino Ferreira constituem um opúsculo assinalável na procura de uma saída digna para um sistema hídrico cisterciense que anda nos começos e que está 'ao deus dará' na maioria dos casos. Por pouco espólio que reste, valerá a pena preservá-lo para o futuro dando novo fôlego à arqueologia dos tempos presentes. Fazemos um chamado de atenção pelo facto desta rama da pesquisa se achar num 50% de desemprego nas atuais estatísticas. Interessa-nos um endereço qualquer da seção da 'Plataforma Estatal dos Profisionais da Arqueoloxía (P.E.P.A.) na Galiza. Grupos privados e Administração autonómica não podem continuar fechados em copas. Nos textos cá plasmados constatar-se-á um estilo que nada condiz com essa linguagem apressada e citadina da 'RMO'; análise pausada, certa e sossegada ajudam numa leitura que um grupo privado multinacional tornou desassossego e cálculo permanente.
'Existe uma hidraúlica cisterciense? Os primeiros monges brancos legaram-nos uma verdadeira 'summa' do seu saber e habilidade em matéria hidraúlica, amplamente comprovada com A EXPLORAÇÃO DE MANANCIAIS, CONSTRUÇÃO DE DIQUES, ALBUFEIRAS, AQUEDUTOS, MOINHOS, CANAIS DE REGA E RESERVATÓRIOS, MEANDRIZAÇÕES, TRANSFERÊNCIA DE CURSOS FLUVIAIS, ABERTURA DE VALADOS E DE POÇOS DE RESSUMAÇÃO, OPERAÇÕES DE NIVELAMENTO, CÁLCULO DE PENDENTES, TRAÇADO DE CONDUTAS, etc.. É conhecida e exaltada a sua tradicional perícia no manejo da hidrotecnologia e da engenharia sanitária em meio rural, sem dúvida cultivada nos princípios comuns da distendida "modernidade" romana equivalente e denotando conhecimentos adquiridos em antigas abadias beneditinas. A melhoria e a adaptação dessas capacidades assimiladas às exigências específicas dos numerosos mosteiros e da vida interna das suas congregações não traduzem um mimetismo tecnológico vulgar nem subtraem valor imanente ou força negativa ao conjunto daqueles cometimentos históricos'.
'Em termos de concepção e obra, as elaboradas redes hidraúlicas das abadias medievais de Císter reflectem o nível mais avançado de experimentos e requisitos higienizantes daquela época, o qual isentou as suas comunidades do tropel de doenças epidémicas e de mortes frequentes que tinham origem hídrica e assolavam o país coetâneo. Sem esforço, adivinhamos a insuficiência das condições de limpeza e de salubridade do escasso aprovisionamento de água e do processo de saneamento residual feitos aos palácios mais importantes e às populações citadinas de então. Como referimos já, o indiscutível protagonismo dos cistercienses, como ardentes promotores e exploradores dos usos e das potencialidades da água, consistiu menos em inventar e mais em melhorar e fomentar o inventado, com uma visão fecunda e uma compreensão pragmática dos saberes hidrotécnicos importados. Manifestaram-no, à saciedade, em género e número, através das estruturas e trabalhos afins empreendidos nas suas abadias mais antigas, alguns de grande dificuldade operativa, face aos limítes de uma época dominada pelo empirismo, para ultrapassarem os obstáculos naturais e construirem o seu território habitacional. De facto, não existe uma tecnologia hidraúlica de matriz cisterciense absoluta, mas una hidraúlica incrementada, aperfeiçoada e difundida por esta grande e enérgica família religiosa, com ajustamentos práticos e maturidade consolidada. Os resultados substanciais espelham a vocação e o olhar diligente e dinâmico dos monges operários durante a plenitude da sua ordem, acrescentando-lhe uma nova dimensão e um significado mais concreto. O alcance e a importância capital deste património de engenho notável - desta febre hidraúlica cisterciense - documentam aspetos evolucionados ou inéditos, nas suas convergências e diferenças funcionais, sobretudo no domínio da força hidraúlica como motriz aplicada à atividade industrial'.
(Continuará)
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