9 de xul. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 
(222ª parte)   
 
 Em Portugal existe un inovador interesse pela hidraúlica do Cister; em Espanha nega-se.


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
 
 Os  seguintes  textos  de  Jorge  Virgolino  Ferreira  constituem  um  opúsculo  assinalável  na  procura  de  uma  saída  digna  para  um  sistema  hídrico  cisterciense  que  anda  nos  começos  e  que  está  'ao  deus  dará'  na  maioria  dos  casos.  Por  pouco  espólio  que  reste,  valerá  a  pena  preservá-lo  para  o  futuro  dando  novo  fôlego  à  arqueologia  dos  tempos  presentes.  Fazemos  um  chamado  de  atenção  pelo  facto  desta  rama  da   pesquisa  se  achar  num  50%  de  desemprego  nas  atuais  estatísticas.  Interessa-nos  um  endereço  qualquer  da  seção  da  'Plataforma  Estatal  dos  Profisionais  da  Arqueoloxía  (P.E.P.A.)  na  Galiza.  Grupos  privados  e  Administração  autonómica  não  podem  continuar  fechados  em  copas.  Nos  textos  cá  plasmados  constatar-se-á  um  estilo  que  nada  condiz  com  essa  linguagem  apressada  e  citadina  da  'RMO';  análise  pausada,  certa  e  sossegada  ajudam  numa  leitura  que  um  grupo  privado  multinacional  tornou  desassossego  e  cálculo  permanente.   
 
 'Existe  uma  hidraúlica  cisterciense?  Os  primeiros  monges  brancos  legaram-nos  uma  verdadeira  'summa'  do  seu  saber  e  habilidade  em  matéria  hidraúlica,  amplamente  comprovada  com  A  EXPLORAÇÃO  DE  MANANCIAIS,  CONSTRUÇÃO   DE  DIQUES,  ALBUFEIRAS,  AQUEDUTOS,  MOINHOS,  CANAIS  DE  REGA  E  RESERVATÓRIOS,  MEANDRIZAÇÕES,  TRANSFERÊNCIA  DE  CURSOS  FLUVIAIS,  ABERTURA  DE  VALADOS  E  DE  POÇOS  DE  RESSUMAÇÃO,  OPERAÇÕES  DE  NIVELAMENTO,  CÁLCULO  DE  PENDENTES,  TRAÇADO  DE  CONDUTAS,  etc..  É  conhecida  e  exaltada  a  sua  tradicional  perícia  no  manejo  da  hidrotecnologia  e  da  engenharia  sanitária  em  meio  rural,  sem  dúvida  cultivada  nos  princípios  comuns  da  distendida  "modernidade"  romana  equivalente  e  denotando  conhecimentos  adquiridos  em  antigas  abadias  beneditinas.  A  melhoria  e  a  adaptação  dessas  capacidades  assimiladas  às  exigências  específicas  dos  numerosos  mosteiros  e  da  vida  interna  das  suas  congregações  não  traduzem  um  mimetismo  tecnológico  vulgar  nem  subtraem  valor  imanente  ou  força  negativa  ao  conjunto  daqueles  cometimentos  históricos'.


    

 'Em  termos  de  concepção  e  obra,  as  elaboradas  redes  hidraúlicas  das  abadias  medievais  de  Císter  reflectem  o  nível  mais  avançado  de  experimentos  e  requisitos  higienizantes  daquela  época,  o  qual  isentou  as  suas  comunidades  do  tropel  de  doenças  epidémicas  e  de  mortes  frequentes  que  tinham  origem  hídrica  e  assolavam  o  país  coetâneo.  Sem  esforço,  adivinhamos  a  insuficiência  das  condições  de  limpeza  e  de  salubridade  do  escasso  aprovisionamento  de  água  e  do  processo  de  saneamento  residual  feitos  aos  palácios  mais  importantes  e  às  populações  citadinas  de  então.  Como  referimos  já,  o  indiscutível  protagonismo  dos  cistercienses,  como  ardentes  promotores  e  exploradores  dos  usos  e  das  potencialidades  da  água,  consistiu  menos  em  inventar  e  mais  em  melhorar  e  fomentar  o  inventado,  com  uma  visão  fecunda  e  uma  compreensão  pragmática  dos  saberes  hidrotécnicos  importados.  Manifestaram-no,  à  saciedade,  em  género  e  número,  através  das  estruturas  e  trabalhos  afins  empreendidos  nas  suas  abadias  mais  antigas,  alguns  de  grande  dificuldade  operativa,  face  aos  limítes  de  uma  época  dominada  pelo  empirismo,  para  ultrapassarem  os  obstáculos  naturais  e  construirem  o  seu  território  habitacional.  De  facto,  não  existe  uma  tecnologia  hidraúlica  de  matriz  cisterciense  absoluta,  mas  una  hidraúlica  incrementada,  aperfeiçoada  e  difundida  por  esta  grande  e  enérgica  família  religiosa,  com  ajustamentos  práticos  e  maturidade  consolidada.  Os  resultados  substanciais  espelham  a  vocação  e  o  olhar   diligente  e  dinâmico  dos  monges  operários  durante  a  plenitude  da  sua  ordem,  acrescentando-lhe  uma  nova  dimensão  e  um  significado  mais  concreto.  O  alcance  e   a  importância  capital  deste  património  de  engenho  notável  -  desta  febre  hidraúlica  cisterciense  -  documentam  aspetos  evolucionados  ou  inéditos,  nas  suas  convergências  e  diferenças   funcionais,  sobretudo  no  domínio  da  força  hidraúlica  como  motriz  aplicada  à  atividade  industrial'.   

(Continuará)  

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