11 de maio de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(207ª parte)    


Forte de Valença do Minho
Foto: PQ3

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   

 Convém  sublinhar  a  merecida  importância  do  núcleo  valenciano,  da  cidade  de  Valença  do  Minho,  do  centro  militar  histórico  e  internacional,  encontro  de  caminhos  portugueses  para  Santiago  (da  Costa  e  Central)  e  catalisador  ímpar  do  Alto  Minho  em  todas  as  ordens.  São  centúrias  a  mais  de  caminhos  para  Santiago  que,  atualmente,  são  negados  pelos  rábulas  de  turno  e  uma  Xunta  galega  obsessionada  com  a  'Marca  Galicia'  que  põe  de  parte  a  própria  história.  Esta  história  fica  incompleta  sem  a  presença  de  uma  fronteira  coalhada  de  unidades  fortificadas  modernas  que  dão  sentido  ao  todo,  ao  conjunto  assim  analisado  que  se  chama  Portugal.  Os  subsistemas  na  margem  espanhola  derivam  da  recorrente  vontade  de  afirmar  um  reino  à  beira  do  mar  plantado.  Isto  afeta  à   totalidade  da  fronteira,  não  se  limitando  a  faixas  parciais.    

 João  Campos,  arquiteto,  consultor  da  praca-forte  de  Almeida  e  perito  do  Comité  das  Fortificações  (Icofort-Icomos)   faz  um  enquadramento  geral:  'O  estudo  isolado  de  peças  arquitetónicas  do  período  Moderno  do  património  histórico  militar  tem,  provavelmente,  sido  o  erro  mais  frequente  dos  estudiosos,  face  a  um  cardápio  de  dimensões  e  implicações  que  se  encontra  ainda  por  desbravar  em  largos  capítulos.  É,  pois,  tempo  de  não  mais  assentar  análises   num  somatório  de  monografias  de  casos,  antes  escolhendo  o  caminho  da  busca  dialéctica  de  uma  explicação  integrada.  Analisar  as  fortificações  nos  respetivos  sistemas  implica  ter  em  conta   uma  multitude  de  variáveis  para  cada  conjunto  e  seus  subsistemas,  para  os  grupos  regionais  e  para  as  respetivas  diferenças  tipológicas,  não  apenas  construtivas  mas  urbanísticas,  não  somente  terrestres  mas  marítimas,  não  exclusivamente  nacionais  mas  internacionais'.    



  

 Fazer  referência  ao  Minho  implica  falar  da  formação  de  um  país  em  toda  a  sua  consequência  e  fazer  menção  de  uma  fronteira  exemplificante  face  Espanha  e  como  modelo  a  seguir  na  Europa  para  todos  os  efeitos.  Sem  a  componente  militar  moderna  não  haverá  explicação  cabal  da  ambiência  minhota,  eficientemente  exportável  em  toda  a  Europa  do  Seiscentos.  Uma  fronteira  reafirmada  baseada  no  Tratado  de  Alcañices  (1297),  de  mais  de  700  anos,  teve  profundas  repercussões  no  cotejo  com  o  mapa  do  Continente.  Entender  a  contribuição  do  'Moderno'  e  da  arquitetura  militar  minhota  será  divulgar  uma  realidade  marcante  que  perfez  um  panorama  radicalmente  novo  e  europeu.      

 Vamos  continuar  falando  de  'Michel  de  L'École'  e  da  sua  notada  presença  no  Minho,  logo  de  ter  substituido  Nicolau  de  Lille  na  Beira.  Assim,  em  1661,  desenha  o  forte  de  Valença,  inicialmente  com  quatro  baluartes;  traça  a  planta  da  Praça  de  Chaves  (1664);  trabalha  nas  fortalezas  de  Caminha  e  de  Monção,  nessas  obras  merecendo  elogio  unânime  em  cartas  do  governador  das  armas  de  Trás-os-Montes  que  afirma  que  'sem  Miguel  de  Lascol  se  não  poder  fazer  nada'.  Entretanto,  feito  Mestre  de  Campo,  foi  um  dos  precursores  da  Aula  de  Viana,  como   teorizador  da  Artilharia.  Este  artista  foi  chamado  de  seguida  como  'mestre  das  obras  de  fortificação  do  Norte':  em  1654  traçava  a  obra  dos  armazéns  de  Caminha,  desenha  a  Coroada  e  a  nova  estruturação  da  vila  de  Valença  do  Minho  e  encontramo-lo  também  ativo  na  visionação  urbanística  da  vila  de   Monção,  tirando  partido  da  praça- forte,  que  renova  em  1686.  Será  o  precursor  da  chamada  'Escola  de  Viana'.  Perante  este  testemunho  verdadeiramente  global  quê  pode  oferecer,  com  verdade,  essa  variante  chefiada  por  interesses  turísticos  (mais  nada)  e  abonada  há  seis  anos  pela  'LPCG  de  2016',  'Marca  Galicia',  'RMO'  e  o  'pressing  olívico'?  

(Continuará)  

 Artigo precedente.

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