3 de maio de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(205ª parte)

Os fortes de Bragandelo e Pereira Mourisca são parte do 'Caminho Minhoto Ribeiro'

    
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia

 Alcobaça  teve  dois  momentos  históricos  de  renome:  quando  foi  declarado  'Monumento  Nacional  de  Primeira  Classe'  em  1880  pela  'Associação  dos  Arquitetos  Civis  e  Arqueólogos  Portugueses'  e  quando  passou  a  ser  'Património  da  Humanidade',  UNESCO,  em  1989.  Figura  prístina  do  devir  alcobacense,  em  1881  foi  nomeado  presidente  da  'Comissão  dos  Monumentos  Nacionais'  Joaquim  Possidónio  Narciso  da  Silva  (1806- 1896)  que  já  em  1884  refere  uma  situação  de  'ruína',  'vandalismo'  e  'inexistência  de  vigilância'  no  espaço  monástico.  Mas  os  estragos  remetem-se  no  tempo  à  década  dos  trinta  (1836)  numa  primeira  valoração  e  às  pilhagens  napoleónicas  das  guerras  peninsulares.  Assim,  incide-se  nos  pormenores,  no  particular,  para  fazer  um  contributo  valioso  face  ao  futuro  (regra  básica  dos  restauros  será  o  faseamento),  de  maneira  que:  

As  portas  do  interior  do  edifício  não  tinham  fechaduras. 

A  galeria  superior  do  Claustro  de  D. Dinis  oferecia  o  vigamento  ao  descoberto.

Tábuas  retiradas  no  dormitório  e  queima  de  solhos. 

Levantamento  das  lajes  do  pavimento  do  Claustro  de  D. Dinis.  

Arrancados  os  pés  de  cantaria  das  mesas  do  refeitório  que,  em  forma  de  pilares  e  ornados  de  colunetas  nas  arestas,  servem  hoje  de  sumidouros  nas  ruas. 




   
 Alexandre  Herculano  (1810- 1877),  escritor,  historiador,  jornalista  e  poeta  português,  responsabilizava  às  vereações  das  câmaras  municipais  diretamente:  'votam  a  demolição  de  construções  históricas  para  fazer  arranjos  urbanísticos  ou  simplesmente  para  aproveitar  a  pedra'.  Este  proceder  era  comum  a  todo  o  património  monástico;  a  incúria,  o  abandono  e  a  pilhagem  eram  moeda  de  troca,  convertia-se  o  desleixo  em  hábito.  Apartir  das  desamortizações  tudo  piora  e  começa  o  rosário  inevitável  da  passagem  de  mãos,  de  novos  donos  e  de  novos  usos.  Agora  não  bastava  o  banimento  material,  impunha-se  com  o  passar  do  tempo  uma  pós -modernidade  ancorada  na  turistificação  crescente,  desordeira  e  maciça.  O  turismo  em  maiúsculo  ganhava  fôlego  e  mergulhava  na  irresponsabilidade.  Perspetiva-se  a  livre  e  futura  interpretação  da  arquitetura  como  aposta  e  desafio  associado  ao  turismo  (!?).     

 No  entanto,  as  aportações  dos  estudosos  do  mosteiro  de  Alcobaça  revelam  valores  a  considerar  por  quanto  não  esquecem  a  importância  do  detalhe,  do  pormenor,  na  análise  exaustiva  do  monumento.  Ana  Margarida  Martinho  enuncia  de  seguido:  

Degradação  da  cobertura. 

Disfuncionamento  da  rede  de  drenagem  das  águas  pluviais. 

Infiltração  das  águas  (ameaçando  a  estabilidade  das  abóbadas  na  capela-mor,  deambulatório  e  nas  capelas  radiantes). 

Ascensão  de  humidade  por  capilaridade  (por  causa  do  alto  nível  freático). 



    

 São  sintomas  que  já  apareceram  no  mosteiro  de  Oia  há  muitos  anos.  Os  trabalhos  atuais  na  igreja  paroquial  tratam  de  inverter  esses  efeitos  causados  em  boa  medida  pela  inação  de  sucessivos  grupos  privados.  Esta  inconsistência  no  restauro  e  arranjos  atempados  deu  lugar  ao  estabelecimento  de  tempos  mortos  e  de  'lapsus'  que  foram  determinantes  no  último  século  neste  mosteiro  de  duplo  basamento:  hidraúlico  e  poliorcético.  A  estrategia  da  'Fundação  Mercantil  Real  Mosteiro  de  Oia'  baseia-se  em  QUATRO  VETORES: 

1) "Único  mosteiro  cisterciense  à  beira  do  mar  plantado"…(que  olha  para  Vigo). Reclame  turístico  para  uma  clientela  bem  concreta. 

2) Abanar  a  concessão  de  um  prêmio  como  pretexto  para  a  aventura  especulativa  urbanizadora.  'AHI'  como  chamariz  interesseiro  de  absoluta  conveniência  para  a  'RMO',  como  reforço  propagandístico  com  fins  comerciais. 

3) A  controvertida  figura  do  'Campo  de  Prisioneiros'  exibida  descaradamente  perante  um  universo  progressista  que  quer  também  deixar  a  sua  pegada.  Aqui  entra  em  cena  esse  CORINGA  oportuno  (chama-se  JOKER  ou  COMODÍN,  em  castelhano)  por  forma  a  agradar  todos  os  gostos  e  cores.  Técnicas  próprias  da  bravata  oportunista  e  da  bajulação.  'Oienses  bajulados,  oienses  aldrabados'. 

4) Um  mais  que  previsível  descuramento  da  componente  hidraúlica,  conferível  na  própria  apresentação  do  "prêmio  AHI",  na  compra  e  venda  de  terrenos  embaratecidos,  na  simplificação  da  pesquisa  arqueológica. 
                
 Apoia  essa  esquerda  um  projeto  urbano  e  tijoleiro  de  matriz  olívica?  Meter  na  mesma  panela  tudo  será  implicar  no  projeto  urbano  às  esquerdas  e  aos  tijoleiros.  Somos  cientes  do  que  faz  uma  parte  desta  esquerda  GASOSA  entranhada  em  tais  planos?  Manifesta-se  um  jogo  de  conveniências  como  roleta  onde  abanar  em  cada  momento  aquilo  que  mais  convier  para  a   dita  fundação  mercantil.  Para  não  falar  de  enterramentos  ainda  existentes  na  envolvente  do  mosteiro…(sic). 
 

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