PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(205ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Alcobaça teve dois momentos históricos de renome: quando foi declarado 'Monumento Nacional de Primeira Classe' em 1880 pela 'Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses' e quando passou a ser 'Património da Humanidade', UNESCO, em 1989. Figura prístina do devir alcobacense, em 1881 foi nomeado presidente da 'Comissão dos Monumentos Nacionais' Joaquim Possidónio Narciso da Silva (1806- 1896) que já em 1884 refere uma situação de 'ruína', 'vandalismo' e 'inexistência de vigilância' no espaço monástico. Mas os estragos remetem-se no tempo à década dos trinta (1836) numa primeira valoração e às pilhagens napoleónicas das guerras peninsulares. Assim, incide-se nos pormenores, no particular, para fazer um contributo valioso face ao futuro (regra básica dos restauros será o faseamento), de maneira que:
● As portas do interior do edifício não tinham fechaduras.
● A galeria superior do Claustro de D. Dinis oferecia o vigamento ao descoberto.
● Tábuas retiradas no dormitório e queima de solhos.
● Levantamento das lajes do pavimento do Claustro de D. Dinis.
● Arrancados os pés de cantaria das mesas do refeitório que, em forma de pilares e ornados de colunetas nas arestas, servem hoje de sumidouros nas ruas.
Alexandre Herculano (1810- 1877), escritor, historiador, jornalista e poeta português, responsabilizava às vereações das câmaras municipais diretamente: 'votam a demolição de construções históricas para fazer arranjos urbanísticos ou simplesmente para aproveitar a pedra'. Este proceder era comum a todo o património monástico; a incúria, o abandono e a pilhagem eram moeda de troca, convertia-se o desleixo em hábito. Apartir das desamortizações tudo piora e começa o rosário inevitável da passagem de mãos, de novos donos e de novos usos. Agora não bastava o banimento material, impunha-se com o passar do tempo uma pós -modernidade ancorada na turistificação crescente, desordeira e maciça. O turismo em maiúsculo ganhava fôlego e mergulhava na irresponsabilidade. Perspetiva-se a livre e futura interpretação da arquitetura como aposta e desafio associado ao turismo (!?).
No entanto, as aportações dos estudosos do mosteiro de Alcobaça revelam valores a considerar por quanto não esquecem a importância do detalhe, do pormenor, na análise exaustiva do monumento. Ana Margarida Martinho enuncia de seguido:
● Degradação da cobertura.
● Disfuncionamento da rede de drenagem das águas pluviais.
● Infiltração das águas (ameaçando a estabilidade das abóbadas na capela-mor, deambulatório e nas capelas radiantes).
● Ascensão de humidade por capilaridade (por causa do alto nível freático).
São sintomas que já apareceram no mosteiro de Oia há muitos anos. Os trabalhos atuais na igreja paroquial tratam de inverter esses efeitos causados em boa medida pela inação de sucessivos grupos privados. Esta inconsistência no restauro e arranjos atempados deu lugar ao estabelecimento de tempos mortos e de 'lapsus' que foram determinantes no último século neste mosteiro de duplo basamento: hidraúlico e poliorcético. A estrategia da 'Fundação Mercantil Real Mosteiro de Oia' baseia-se em QUATRO VETORES:
1) "Único mosteiro cisterciense à beira do mar plantado"…(que olha para Vigo). Reclame turístico para uma clientela bem concreta.
2) Abanar a concessão de um prêmio como pretexto para a aventura especulativa urbanizadora. 'AHI' como chamariz interesseiro de absoluta conveniência para a 'RMO', como reforço propagandístico com fins comerciais.
3) A controvertida figura do 'Campo de Prisioneiros' exibida descaradamente perante um universo progressista que quer também deixar a sua pegada. Aqui entra em cena esse CORINGA oportuno (chama-se JOKER ou COMODÍN, em castelhano) por forma a agradar todos os gostos e cores. Técnicas próprias da bravata oportunista e da bajulação. 'Oienses bajulados, oienses aldrabados'.
4) Um mais que previsível descuramento da componente hidraúlica, conferível na própria apresentação do "prêmio AHI", na compra e venda de terrenos embaratecidos, na simplificação da pesquisa arqueológica.
Apoia essa esquerda um projeto urbano e tijoleiro de matriz olívica? Meter na mesma panela tudo será implicar no projeto urbano às esquerdas e aos tijoleiros. Somos cientes do que faz uma parte desta esquerda GASOSA entranhada em tais planos? Manifesta-se um jogo de conveniências como roleta onde abanar em cada momento aquilo que mais convier para a dita fundação mercantil. Para não falar de enterramentos ainda existentes na envolvente do mosteiro…(sic).
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