1 de maio de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia   

(204ª parte)


Alcobaça
  Foto: Vítor Oliveira
  

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia

 Foi  apurada  toda  a  componente  hidraúlica,  superior  e  inferior,  no  mosteiro  de  Oia?  Gostávamos  de  ouvir  alguma  mensagem  da  parte  da  'RMO'  e  já  expressamos  por  escrito  esta  questão,  que  não  é  menor.  A  pesquisa  é  constante  ou  faseada  por  etapas?  As  equipas  arqueológicas  de  quém  dependem,  da  Xunta  galega,  da  'RMO',  ou  de  ambas?  Qual  é  o  histórico  de  campanhas  arqueológicas  realizadas  no  mosteiro?  O  quê  é  que  vem  ao  de  cima,  razões  interesseiras  e  imediatistas  ou  razões  ajustadas  à  prática  arqueológica  comum?  Estas  são  perguntas  normais  e  correntes  aquando  a  gente  toma  as  rédeas  de  qualquer  ação  patrimonial  de  caráter  público.  Mas  o  assunto  muda  de  figura  se  o  proprietário  for privado,  garantidamente;  não  estamos  a  inventar  nada  de  novo.  Onde  é  que  estará  a  impertinência  se  a  houver?    

 Jorge  Virgolino  Ferreira  apresenta  'Ana  Margarida  Martinho'  como  mais  uma  autora  do  alcobacense,  incidindo  no  estado  de  incúria  e  abandono  em  que  jazia  aquele  antigo  espaço  monástico.  Refere  assim:  'De  facto,  ao  longo  da  segunda  metade  de  Oitocentos  e  durante  o  primeiro  terço  da  centúria  seguinte,  os  "remendos" efectuados  em  Alcobaça  foram  esporádicos  e  pontuais,  executados  só  em  casos  de  acentuada  urgência,  por  falta  de  dotação  orçamental  específica.  Apenas  a  partir  da  década  de  1930,  graças  ao  dinamismo  da  recém-criada  DGEMN  - Direção  Geral  dos  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais - ,  esta  igreja  beneficiou  de  um  programa  de  manutenção  e  de  conservação  sistemático,  com  afectação  de   recursos  próprios.  E  o  senhor  Virgolino  continua:  'O  edifício  encontrava-se  esquecido,  maltratado  e  bastante  desfigurado  no  seu  prospecto  medieval,  mormente  na  zona  da  cabeceira,  pela  profusão  de  obras  e  equipamentos  adventícios,  fabricados  durante  os  séculos  XVI  a  XVIII,  em  decorrência  das  orientações  contra-reformistas  tridentinas  ou  filiados  no  esplendor  do  decoro  romano'.   

 


 

 'O  planeamento  das  obras  inclui  a  reintegração  do  complexo  eclesial  e  da  sacristia  nova  à  sua  harmonia  formal  e  estilística  originais,  com  a  desobstrução  dos  edifícios  anexados.  O  "regresso"  à  antiga  sobriedade  cisterciense  foi  considerado  uma  tarefa  de  fácil  alcance  pelo  arquiteto  'Baltazar  de  Castro',  menciona  Virgolino  Ferreira,  que  acrescenta:  'O  estudo  de  'Ana  Margarida  Martinho'  expõe  as  realidades  materiais  do  edifício,  a  necessidade  das  obras  de  conservação  e  o  curso  das  atividades  de  restauro  e  salvaguarda  da  harmonia  inicial  do  conjunto  monástico  alcobacense,  afim  de  o  libertar  de  todas  as  excrescências  barrocas  consideradas  inestéticas  ou  inúteis  pelos  técnicos  da  DGEMN,  campanha  que  se  prolongou  até  ao  redor  de  1960.  As  ações  efectuadas  pela  DGEMN  obedeceram  ao  contexto  sociocultural  genericamente  difundido  pela  Europa,  em  que  o  propósito  nacionalista  era  "obrigar"  o  monumento  a  regressar  à  sua  forma  primigénia  original'.     

 VEM  MESMO  A  CALHAR  ESTABELECERMOS  UMA  COMPARATIVA  COM  OIA  NO  SENTIDO  DE  VALORIZAR  TODAS  E  CADA  UMA  DAS  AÇÕES  DE  RESTAURO  NA  HISTÓRIA,  VERDADEIRA  ESCOLA  TEMPORAL  DE  ACERTOS  OU  ERROS.  O  MOSTEIRO  DE  OIA  CONSTITUI  UM  SOMATÓRIO  PROVADO  DE  IMPROVISAÇÕES,  CÂMBIOS  DE  MÃO  E  OPORTUNISMOS.  O  achado  da  'tombstone',  da  lapide  na  padieira  da  casa  de  um  particular  foi  uma  boa  notícia,  mas  também  a  constatação  de  outras  coisas.  Igualmente,  a  aplicação  de  armações  em  madeira  ou  madeiramentos,  ao  desbarato,  nas  coberturas  evidencia  desconhecimentos  quanto  à  hidraúlica  superior  de  um  mosteiro.  Trataram  apuradamente  do  subsolo  de  todo  o  cenóbio  ?  

 Em  Portugal  os  estudos  de  hidraúlica  cisterciense  estão  em  voga,  oferecem  uma  vantagem  notória  relativamente  a  trabalhos  feitos  em  Espanha,  constituindo  um  sério  aviso  a  grupos  privados  especulativos  empenhados  em  negar  o  contributo  do  Císter  na  implantação  dos  basamentos  dos  mosteiros,  precisados  de  um  apuramento  bem  mais  exigente  que  deve  condicionar  qualquer  PLANO  URBANO  ADERENTE.  PORQUE  DISSO  SE  TRATA,  DE  PÔR  EM  CAUSA  A  NATUREZA  ADERENTE  DE  TODA  URBANIZAÇÃO  'EX  NOVO'.    

(Continuará)  

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