24 de feb. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(185ª parte)  

  

 Captação de água potável. Alcobaça


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia     

 Uma  pergunta  inconveniente  que  terá  de  ser  esclarecida  à  maior  brevidade  possível:  Apurou-se  toda  a  pesquisa  arqueológica  no  entorno  do  mosteiro  de  Oia  ou  ficou  ainda  muito  por  fazer?  Calendário  da  'RMO'  poderia  ir  à  revelia  do  necessário  apuramento  no  interior  e  exterior  do  território  abacial  e,  caso  isso  acontecer,  será  de  obrigada  execução  a  paragem  imediata  de  quaisquer  obras.  Uma  só  caleira,  uma  condução  forçada  qualquer  justificavam  a  interrupção  imediata  do  chamado  'Instrumento  de  Planeamento'  da  'RMO'.  De  facto,  'RMO'  tem  muita  pressa  por  concretizar  os  seus  planos.    

 Vamos  aprofundar  então  nos  textos  de  Jorge  Virgolino  Ferreira:  'Na  literatura  tradicional  sobre  os  cistercienses,  os  aspectos  relacionados  com  a  sua  hidrofilia  mantêm-se  pouco  conhecidos.  Com  este  trabalho,  pretende-se  contrariar  esta  "iliteracia"  hidraúlica  e  mostrar  que  os  'monges  brancos'  também  alcançaram  uma  competência  indiscutível  na  área  da  exploração  e  dos  usos  económicos  da  água.  Tal  notoriedade  foi  decisiva  para  o  alcance,  alargado  e  frutuoso,  das  suas  comunidades  medievais.  Os  mosteiros,  para  funcionarem  em  condições  de  higiene  e  sanidade  adequadas,  precisavam  de  um  hidrossistema  sólido  e  tecnicamente  eficiente,  na  forma  e  no  traçado,  desde  a  captação  de  águas,  seu  transporte  e  distribuição  pelo  interior  dos  cenóbios,  até  a  evacuação  dos  resíduos  domésticos  e  pluviais.  Tal  empreendimento  obrigou  à  realização  de  elaborados  e  árduos  trabalhos,  alguns  preliminares  ao  levantamento  dos  edifícios  comunitários.  Na  amplitude  das  suas  manifestações  concretas,  a  história  dos  mosteiros  cistercienses  medievais  é  também  uma  história  da  relação  estreita  e  longa  do  homem  com  a  água.  Dois  elementos  de  estudo  tão  extensos  como  significativos,  na  sua  acepção  e  importância  religiosa,  cultural,  socioeconómica  e  ambiental.  A  totalidade  dessas  ações  e  razões  objectivas  autorizam,  quiçá  sem  exagero  de  afirmação,  o  argumento  favorável  a  um  intuído  'modelo'   cisterciense  de  arquitetura  hidraúlica,  o  qual  constitui  um  campo  aberto  de  estudo  e  discussão  privilegiados'.     

 'Entretanto,  o  conhecimento  arqueológico  de  alguns  sistemas  hidraúlicos  monástico- conventuais  medievos  começou  a  suscitar  o  interesse  e  a  admiração  de  arqueólogos  e  de  historiadores  das  técnicas  pelo  debate  crescente  do  tema.  Nesse  sentido,  os  colóquios  de  Royaumont  (1992),  da  Arrábida   (1993)  e  de  Ratisbona- Regensburg  (1997)  constituiram  uma  iniciativa  essencial  e  propulsora  para  a  reflexão  aberta  e  o  desenvolvimento  histórico  do  património  hidraúlico  das  comunidades  regulares,  numa  perspectiva  multidisciplinar  e  de  intercâmbio  internacional,  com  manifesta  dominância  pelos  sítios  cistercienses.  Vejam-se  as  actas  destes  congressos,  respectivamente,  em  León  Pressouyre  e  Paul  Benoit  (eds.),  'L'hidraulique  monastique.  Milieu,  réseaux,  usages'.  Grâne,  Créaphis,  1996 /  José  Manuel  Mascarenhas,  Maria  Helena  Abecasis  e  Jorge  Virgolino  Ferreira  (eds.),  'Hidraúlica  Monástica  Medieval  e  Moderna',  Lisboa,  Fundação  Oriente,  1996  /  Helmut  Eberhard  Paulus,  Hermann  Reidel  e  Paul  W.  Winkler  (eds.),  'Wasser,  Lebensquelle  und  Bedeutungsträger',  Ratisbona,  Schnell £  Steiner,  1999.'   



   

 Vamos  assim  definir  o  esquema-base  de  um  mosteiro  cisterciense  nas  suas  linhas  gerais:  Uma  canalização  assegura  o  abastecimento  de  água  potável  ao  lavatório  do  claustro  e  aos  espaços  necessitados  do  cenóbio  (cozinha,  zona  de  conversos,  enfermaria,  etc.)  enquanto  o  outro  fluxo  atravessa  inferiormente  as  latrinas  e  os  refeitórios  dos  monges  e  dos  conversos,  recolhendo  e  transportando  as  matérias  fecais,  as  lavaduras  e  os  esgotos  para  o  exterior  da  cerca.  Uma  ramificação  artificial,  efetuada  à  montante  desta  corrente,  fornece  também  água  para:  viveiros  piscícolas,  para  o  funcionamento  das  diversas   estruturas  técnicas  da  abadia,  como  moinhos,  azenhas,  pisões,  noras  e  outras  oficinas  mecánicas.   

(Continuará) 

 Artigo precedente. 

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