PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(185ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Uma pergunta inconveniente que terá de ser esclarecida à maior brevidade possível: Apurou-se toda a pesquisa arqueológica no entorno do mosteiro de Oia ou ficou ainda muito por fazer? Calendário da 'RMO' poderia ir à revelia do necessário apuramento no interior e exterior do território abacial e, caso isso acontecer, será de obrigada execução a paragem imediata de quaisquer obras. Uma só caleira, uma condução forçada qualquer justificavam a interrupção imediata do chamado 'Instrumento de Planeamento' da 'RMO'. De facto, 'RMO' tem muita pressa por concretizar os seus planos.
Vamos aprofundar então nos textos de Jorge Virgolino Ferreira: 'Na literatura tradicional sobre os cistercienses, os aspectos relacionados com a sua hidrofilia mantêm-se pouco conhecidos. Com este trabalho, pretende-se contrariar esta "iliteracia" hidraúlica e mostrar que os 'monges brancos' também alcançaram uma competência indiscutível na área da exploração e dos usos económicos da água. Tal notoriedade foi decisiva para o alcance, alargado e frutuoso, das suas comunidades medievais. Os mosteiros, para funcionarem em condições de higiene e sanidade adequadas, precisavam de um hidrossistema sólido e tecnicamente eficiente, na forma e no traçado, desde a captação de águas, seu transporte e distribuição pelo interior dos cenóbios, até a evacuação dos resíduos domésticos e pluviais. Tal empreendimento obrigou à realização de elaborados e árduos trabalhos, alguns preliminares ao levantamento dos edifícios comunitários. Na amplitude das suas manifestações concretas, a história dos mosteiros cistercienses medievais é também uma história da relação estreita e longa do homem com a água. Dois elementos de estudo tão extensos como significativos, na sua acepção e importância religiosa, cultural, socioeconómica e ambiental. A totalidade dessas ações e razões objectivas autorizam, quiçá sem exagero de afirmação, o argumento favorável a um intuído 'modelo' cisterciense de arquitetura hidraúlica, o qual constitui um campo aberto de estudo e discussão privilegiados'.
'Entretanto, o conhecimento arqueológico de alguns sistemas hidraúlicos monástico- conventuais medievos começou a suscitar o interesse e a admiração de arqueólogos e de historiadores das técnicas pelo debate crescente do tema. Nesse sentido, os colóquios de Royaumont (1992), da Arrábida (1993) e de Ratisbona- Regensburg (1997) constituiram uma iniciativa essencial e propulsora para a reflexão aberta e o desenvolvimento histórico do património hidraúlico das comunidades regulares, numa perspectiva multidisciplinar e de intercâmbio internacional, com manifesta dominância pelos sítios cistercienses. Vejam-se as actas destes congressos, respectivamente, em León Pressouyre e Paul Benoit (eds.), 'L'hidraulique monastique. Milieu, réseaux, usages'. Grâne, Créaphis, 1996 / José Manuel Mascarenhas, Maria Helena Abecasis e Jorge Virgolino Ferreira (eds.), 'Hidraúlica Monástica Medieval e Moderna', Lisboa, Fundação Oriente, 1996 / Helmut Eberhard Paulus, Hermann Reidel e Paul W. Winkler (eds.), 'Wasser, Lebensquelle und Bedeutungsträger', Ratisbona, Schnell £ Steiner, 1999.'
Vamos assim definir o esquema-base de um mosteiro cisterciense nas suas linhas gerais: Uma canalização assegura o abastecimento de água potável ao lavatório do claustro e aos espaços necessitados do cenóbio (cozinha, zona de conversos, enfermaria, etc.) enquanto o outro fluxo atravessa inferiormente as latrinas e os refeitórios dos monges e dos conversos, recolhendo e transportando as matérias fecais, as lavaduras e os esgotos para o exterior da cerca. Uma ramificação artificial, efetuada à montante desta corrente, fornece também água para: viveiros piscícolas, para o funcionamento das diversas estruturas técnicas da abadia, como moinhos, azenhas, pisões, noras e outras oficinas mecánicas.
(Continuará)
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