16 de dec. de 2019

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia
(73ª parte) 
     



ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
    
 "S.O.S. Mosteiro",  conferida a sua existência, tem de se tornar organização comarcal, de bisbarra, de molde a garantir a sua integridade e isenção, para além de intrusismos expetáveis. Focalização da "RMO" nesse público-alvo oiense somente patenteia a fragilização de uma resposta cidadã e vizinhal que tem de ser mais alargada no tempo e no  espaço. "RMO" fez uma escolha muito concreta baseada na instrumentalização de este público-alvo, aliás, nem pequeno nem restrito, por forma a concretizar aos poucos e poucos os seus planos. Materialização destes exigiu, é exige, mínimas interferências de outros atores passíveis de se interessar pelo futuro do mosteiro. Daí a conceição planificada desse público alvo, uns vizinhos adulados e em clara desvantagem perante os programadores das mudanças urbanas em Oia. Não há  casualidades e, se as houvesse, devem-se quer à ingenuidade de muitos, quer ao tracejado impiedoso dos planos turistificadores de poucos. 

 Fazem falta vozes de alerta vindas de outros pontos da Galiza. "SOS Mosteiro",  se nos for permitido, deve se ativar fazendo um  epositório geral de agrávios, um informe previdente dos efeitos sobre a paisagem, sobre o espaço cultural e sobre as preexistências (40 postos de trabalho não pode ser  moeda de troca para uma grande comarca que vai de Baiona até A  Guarda). Todavia, a passada resposta de "SOS-Mosteiro" "foi o único fator que rompeu com a unilateralidade de "RMO"; foi de facto o único contrapeso exercido pela cidadania a favor de alternativas diferentes. Se aproveitarmos, todos, as debilidades consustanciais ao futuro projeto urbano da "RMO", poderemos endereçar e colocar interrogantes relativas à legalidade das atuações da "RMO". Há um vasto leque normativo que desautoriza os seus postulados, com certeza. "RMO" considera mosteiro de Oia e envolvente o seu particular micromundo alheio ao resto das  considerações; rompamos com esse cordão particularista e façamos com que o assunto seja de vez atributo da gente toda, não importando a sua origem ou procedência. "Encontros Poliorcéticos" não quer protagonismo, quer sim a sustentabilidade de uma paisagem ameaçada e a recuperação de um espaço defensivo de fundamentos, de provas dadas. Nunca como até agora o envolvimento de uma praça de armas com a sua frente  (e a sua frontalidade) teve tanta imbricação com uma paisagem e uma necessidade militar.  
  




 Confiarmos as iniciativas a "SOS-Mosteiro" é o único caminho para quebrar as expetativas destes novos arrumadores da paisagem precedente. Tratamento laxista e desregrado, centralização ótica de um espaço será pauta permanente; mosteiro não é nada sem os seus sustentos externos. Acontece que se quer separar o Arrabalde dos vínculos que tem com o cenóbio. De  alguma maneira vai se traduzir naquele famoso ditado de "trocaste-me por outra"; essa "outra" será futura urbanização, sem dúvida. Esse dito trocadilho constituir-se-á na vergonha anti-paisagem para todos aqueles que, impávidos e serenos, confiaram na "RMO". Vamos fazer oportuna comparativa com dois mosteiros: Caleruega e Santo Domingo de Silos. Ambos casos são exemplos de integração em malhas habitacionais e casários perfeitamente condizentes. Protótipos vernaculares acarinham esses conjuntos monacais e poliorcéticos (Torre de los Guzmanes, em Caleruega). Aquí, interagem edificações e espaços religiosos (no cromatismo da pedra arenita, na disposição dos volumes, na compartimentação e na integração total). Convivem em plenitude religiosidade e vernacularidade pelo facto desses âmbitos culturais serem sustentados na atualidade por freiras dominicas, em Caleruega, e por beneditinos em Santo Domingo de Silos. A propósito disto: Em 1390, Juan I funda mosteiro de São Bento em Valladolid, em redor do qual forma-se a congregação beneditina espanhola. A ela une-se em 1512 mosteiro  de Silos. Decreto de exclaustração de 1835 dispersa monges de Silos interrompendo assim mais de mil anos de continuada presença monástica no local. Em 1880, monges de Lugugé (França) tomam posse de um mosteiro quase na ruina. Deles provém a nova comunidade beneditina, da congregação de Solesmes, que hoje dá vida ao mosteiro. Hoje ocupam o primeiro andar do claustro. Existe, portanto, uma prática e uma realidade que os gananciosos esqueceram; para além disso, em Irantzu custo da visita, por exemplo, é de 2,50 € (em Silos, 3,50 €). Estes paspalhos da "RMO" não têm enmenda.

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