19 de xuño de 2019

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 
(33ª parte) 

Prof. Francisco Caldeira Cabral
Foto: F.


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   

 Francisco Caldeira Cabral, pai da arquitetura paisagista portuguesa, teve ligações com A Guarda por ter finalizado o Secundário nos Jesuítas de Camposancos em 1921. O seu magistério como homem multifacetado deixou uma marca exponencial. Nasce em Lisboa no ano de 1908, no seio de uma família acomodada e culta, sendo o seu percurso vital marcado por escolhas e vocações condizentes: química, botânica, engenharia, música, que lhe prepararam para a sua verdadeira opção de vida. Arquitetura paisagista iniciara-se em 1929 na Universidade de Reading, no Reino Unido; mas vai ser na faculdade de Agronomia da Universidade de Friedrich-Wilhelm, na Alemanha, onde Caldeira Cabral colmatará em 1939 o curso de arquitetura paisagista. Apartir dessas datas dará vía livre a experiências baseadas em supostos novos, renovadores, a começar pelos jardins e quintas solarengas, integrando e otimizando num todo as partes várias de uma paisagem qualquer.  Certamente, ficaria estarrecido logo após conferir o que querem fazer com o Mosteiro de Oia.   

 Com ideias simples estará prestes a definir conceitos como  ordem, adaptação ou utilidade aplicáveis ao "espaço exterior". Em 1933 escreve: "A industrialização crescente de todo o mundo ameaçava destruir com o seu critério estreitamente utilitário todas as belezas tradicionais da paisagem". Também afirmava: "A arquitetura paisagista é a arte de ordenar o espaço exterior em relação ao homem, fixando o objecto de intervenção no "espaço exterior" e incluindo a atividade no campo das artes, enquanto produtora de uma, muito particular,  categoría de beleza,  na qual o arquiteto paisagista sempre fez aderir conceitos (...)", quer dizer regras, úteis para o próprio homem na paisagem. Propositadamente, Rosário Assunto (1973) diz que "Espaço exterior, por contraposição ao espaço interior dos edifícios, não pode ser considerado como puro e simples espaço, sendo e constituido, hoje, uma advertência pertinente e atual".  

 Afirmações aparentemente simples são antídoto e escola: "A paisagem é a figuração da biosfera e resulta da ação complexa do homem e de todos os seres vivos -plantas e animais- em equilíbrio com os fatores físicos do ambiente (1973). "Uma paisagem desequilibrada nunca poderá alcançar a beleza e harmonia daquelas em que o homem soube realizar obra perfeita debaixo do ponto de vista funcional"(1993). "Criação de beleza intrínseca à paisagem manifesta-se no equilíbrio biológico de diversos fatores que nela atuam e na sua perfeita adequação aos interesses dos homens que nela vivem, sendo o objectivo maior da prática da arquitetura paisagista a realização em cada momento, com a maior perfeição, da paisagem  humanizada. (1993). Caldeira Cabral criou aderentes e fez vanguarda na Península Ibérica: Azevedo Coutinho, Ribeiro Teles, Edgard Fontes, Viana Barreto, Ilídio de Araujo ou Álvaro Dentinho. Amanheceu uma especialidade ligada organicamente à paisagem, mas o seu percurso e evolução não foram fáceis, já desde o Centro de Estudos da Arquitetura Paisagista, em 1953, precursora da Associação Portuguesa de Arquitetos Paisagistas. Hoje, assumida a paisagem e a sua preservação a nível internacional, com Convenções, seminários, cartas, etc..., apresentam-se desafios cuja origem está na DISPERSÃO NORMATIVA E A INTERPRETAÇÃO TORTICEIRA da paisagem. Surgem soluções "intermédias", interferências políticas e desistências da parte de aqueles que com maior empenho deveriam travar tais.   

 Gonçalo Ribeiro Telles referia em 1985: "O conceito de paisagem deixou de ser exclusivamente contemplativo, pictórico ou literário, para ser também interpretativo e portanto alargado à ciência, possibilitando a intervenção planeada". Magalhães citava em 2001 o seguinte: "Arquitetura paisagista considera necessariamente a paisagem primordial para a futura ação ordenadora da  matérias científicas básicas: 1) Ciências da natureza (ecología, geomorfologia, hidrológica, climatología, pedologia,  botânica, fitossociologia e zoologia. 2) Técnicas de cultura: agricultura, horticultura e silvicultura. 3) Ciências sociais e 4) Artes de construção do espaço: arquitetura".  

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