15 de mar. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(190ª parte)  


Mosteiro de Paderne, 'Caminho Minhoto Ribeiro´

  

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia  

 Diz  'Ana  Patrícia  R.  Alho'  relativamente  à  arquitetura  dos  cistercienses:  'Não  existe  um  regulamento  formal  dado,  como  se  pode  dizer  que  existe  para  outras  ordens,  como  por  exemplo  os  dominicanos  e  os  franciscanos,  no  entanto  a  austeridade  e  a  sobriedade  dos  edifícios,  do  seu  equipamento  artístico  e  decorativo  AFIRMAM-SE  COMO  VALORES  DE  EXIGÊNCIA  FORMAL,  PROIBINDO-SE  TODAS  AS  SUPERFLUIDADES  QUE  NÃO  ESTEJAM  DE  ACORDO  COM  A  MORFOLOGIA  E  A  EXPRESSÃO  ESTÉTICA  CISTERCIENSE  E  O  SEU  ESTILO  DE  VIDA  DESPOJADO  E  SUBLIME'.  Constitui  este  outro  claro  aviso  aos  que,  servindo-se  do  fator  especulativo-privado  trazem  novos  enformados  arquitetónicos  em  conjuntos  monumentais,  preterindo  pela  via  do  despiste  a  nuclearidade  e  a  essencialidade  do  próprio  monumento.  Primeira  regra  a  seguir  será,  sem  dúvida,  afastar  o  novo  (obra  nova  aderida)  da  pré-existência.  Hoje  em  dia,  a  mistela  arquitetónica  é  tida  por  normal,  quando  revela-se  assim  uma  falta  de  bom  senso  que  oculta  outras  premências  ligadas  a   constantes  alheias  ao  monumento.  É  lógico  não  ver  com  bons  olhos  aquilo  que  pretende  fazer   um  grupo  privado  em  Oia;  deve  ficar  assente  a  ideia  de  que  REABILITAR  um  mosteiro  não  implica  RENOVAR URBANAMENTE UM  TERRITÓRIO.   



   

 Desde  o  momento  em  que  aparece  em  cena  'RMO'  começam  os  mal  entendidos.  Vamos  falar  assim  do  'Centro  Interpretativo  da  Fortaleza  de  Santa  Cruz',  obra  de  'Rodríguez + Pintos',  e  das  suas  falhas  relativas  a  elementos  construtivos  e  finalidades  de  uso.  A  altura  deste  centro  excede  o  previsto,  sendo  que  ninguém  falou  deste  pormenor.  Igualmente,  a  dita  cafetaria  acabou  por  não  se  concretizar.  A  escolha  de  cores  frias  e  impessoais,  metálicas,  nas  coberturas  novas  pouco  ou  nada  tem  a  ver  com  a  pedra  alí  existente,  com  o  conjunto  no  seu  todo.  Na  prestigiosa  página  web  'Archello'  magnifica-se  este  empreendimento  quando   o  resultado  fica muito  aquém  do  esperado.  'Archello'  serve  para  projetos  citadinos,  urbanos,  não  como  complemento  forçado  e  aderente  de  um    mosteiro  ainda  por  cima  cisterciense.  O  badalado  espírito  do  lugar  (silêncio,  recolhimento,  território  e  paisagem)  é  substituído  pelo  facilitismo  oportuno  de  um  passado  conflito  civil  (Quantos  mosteiros  ou  castelos  foram  centros  de  detenção  pela  Europa  toda?).  De  tudo  tiram  fama  e  proveito,  cientes  da  negociata  que  aí  vem. No  entanto,  a  palavra  'monge',  do  vocabulário  grego  'monakhos'  signifique  'solitário'.  Como  se  isso  não  chegasse,  todos  os  anos  invadem  com  a  sua  ribalta  musical  de  Vigo  os  espaços  monacais  ultrajados  (um  mosteiro  não  habitado  por  monges  dá,  pelos  vistos,  nisso).  Não  se  pretende  fazer  um  qualquer  fundamentalismo,  mas  antes  sublinhar  o  desrespeito  que  'RMO'  possa  albergar  pela  'Charte  des  Abbayes  Cisterciennes'  e  a  sua  'Carta  de  Valores'.  Artigos  1°  e  3°  são  na  prática  letra  morta  para  este  grupo  privado.  Esquecimento  de  um  lugar  monacal  fica  patenteado  na  própria  urbanização,  nos  acréscimos,  no  falso  'parque  ecológico'  e  no  afastamento  da  constante  'GENIUS  LOCI  CISTERCIENS'. A  "originalidade"  da  'RMO'  quebra  todos  os  supostos;  importa  o  barulho  não  a  verdade.    

(Continuará)  

Artigo precedente.

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