26 de mar. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO  

Considerações paisagistas en Oia 

(192ª parte)   




ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia  

 Interessa,  antes  de  mais  nada,  insistir  sobre  a  mensagem  fulcral  que  tem  deixado  Jorge  Virgolino  Ferreira  acerca  dos  sistemas  hidráulicos  do  Císter,  que  não  podem  cair  no  esquecimento  nem  ser  preteridos  por  razões  de  natureza  urbana. Este  professor,  já  aposentado,  ressalva  a  extrema  importância  deste  particular. O  assunto  atinge  os  foros  internacionais  e  se  faz  premente  a  pertinácia  mais  apurada  na  actualização  dos  trabalhos  sobre  a  matéria.  Explica  assim  Virgolino  Ferreira  o  processo  de  implantação  de  uma  abadia  cisterciense:  ‘O  estudo  desta  hidraúlica  pressupõe  a  comprensão  e  o  conhecimento abonados  dos  factores  físicos  e  ambientais  que  influenciavam  a  escolha  atractiva  dos  seus  lugares  de  fundação,  isto  é,  do  ‘Genius  Loci'.  As  implantações  requeríam  un  quadro  natural  com  especificidades  de  configuração  restritivas  e  singulares  que  as  distingue  de  outros  contextos  topográficos  de  vida  religiosa  regular.  Antes  de  qualquer  assentamento,  era  necessário  estudar  o  sitio  a  “urbanizar" e  as  condições  antecipatórias  para  a  sua  organização  programática  disciplinada  e  racional,  a  fim  delas  garantirem  a  prosperidade  e  a   conveniência  do  futuro ‘habitat'.  O  processo  requeria  uma  vistoria  prévia  dos  locais  anunciados  (doados  ou  solicitados),  especialmente  quanto  ao  seu   isolamento,  abundância  de  água,  pedra  e  madeira  e  à  fertilidade  dos  solos  a  arrotear,  efetuada  por  UMA  COMISSÃO  DE  ABADES  EXPERIENTES  E  IDÓNEOS,  e  a  sua    homologação  pelo  Capítulo  Geral  da  Ordem.  Contudo,  por  vezes,  após  algum  tempo  de    permanência  dos  monges  numa  determinada  área,  a  insalubridade  do  sítio  ou  a  inaptidão  dos  terrenos  húmidos  obrigou  ao  abandono  e  trasladação  para  un  lugar  mais  favorável,  onde  hoje  se  encontram  sedeados.  Deste  modo,  garantiu-se  a  desejada  estabilidade  do  ideal  beneditino  -oração  e  trabalho  (ora  et  labora)-  consubstanciado  e  consentido  na  aventura  cisterciense,  em  fraterna  simbiose  e  com  o  adequado   equilíbrio  entre  o  crer,  o  ser  e  o  viver  em  comum’.   



    

 ‘A  aldeia  cisterciense  medieval  formava  un  complexo  de  extraordinária  unidade  orgânica,  retirado  de  aglomerados  habitacionais  consolidados  e  de  grandes  eixos  viários.  Uma  localização  topográfica  adequada  ao  seu  incremento  futuro  parece  firmar-se,  deveras,  nas  possibilidades  efetivas  da  “revolução”  agrícola  dos  campos,  como  garantia  de  existência  material  e  autónoma  dos  monges.  Com  efeito,  tanto  ontem  como  hoje,  a  presença  e  a disponibilidade  de  agua  potável  e  abundante  são  fatores    imprescindíveis  para  a  vitalização  e  o  desenvolvimento  sustentado  de  una  comunidade  humana  fixa; donde,  a  sua  importância  decisiva  nas  particularidades  da  escolha  do  sítio  a  ocupar  por  uma  ‘abadia  branca'  e  na  construção  do  seu  cenário  de  enquadramento,  estreitamente  ERGONOMIZADO  com  a  paisagem  local’.

  


    

 ‘Os  monges  necessitavam  de  aprovisionamento  de  agua  corrente   e  constante,  para  os  usos  potáveis  e  comuns,  tanto  no  espaço  domiciliário  como  na  periferia  dos  seus  edifícios.  Era  mister  satisfazer  os  vários  propósitos  e  carências  básicas  da  vida  quotidiana  cenobítica,  desde  o  consumo  humano  direto  de  água  até  ao  seu  uso  como  importante  fonte  de  energía,  passando  pela  sua  utilização  para  a  saúde  e  higiene  corporal,  coção,  limpezas  e  lavagens  domésticas,  trabalhos  de  produção  agrícola  e  piscícola,  comunicações  e  transporte,  consumo  animal,  etc.,  a  recapitular:        

FINS  DOMÉSTICOS: cozinhar; dessedentar; higiene  pessoal  e  otras  abluções.    

PISCICULTURA: destinada  ao  consumo  pela  comunidade.    

TAREFAS  AGRÍCOLAS: criação  de  animais  e  irrigação  fundiária.    

ATIVIDADES  INDUSTRIAIS: accionamento  de  forjas,  moinhos,  noras,  etc    

SANEAMENTO  DE  LATRINAS.      

 São  estes  extractos  parte  da  obra  de  Jorge  Virgolino  Ferreira.  Uma  tarefa  seguramente  não  inglória  que  dará  os  seus  frutos  nos  próximos  tempos. Está  por  escrever  uma  parte  fundamental  do  Císter  internacional  que,  muito  disfarçadamente,  está  a  ser  ocultada.     

(Continuará)   

Artigo precedente.

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