PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas en Oia
(192ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Interessa, antes de mais nada, insistir sobre a mensagem fulcral que tem deixado Jorge Virgolino Ferreira acerca dos sistemas hidráulicos do Císter, que não podem cair no esquecimento nem ser preteridos por razões de natureza urbana. Este professor, já aposentado, ressalva a extrema importância deste particular. O assunto atinge os foros internacionais e se faz premente a pertinácia mais apurada na actualização dos trabalhos sobre a matéria. Explica assim Virgolino Ferreira o processo de implantação de uma abadia cisterciense: ‘O estudo desta hidraúlica pressupõe a comprensão e o conhecimento abonados dos factores físicos e ambientais que influenciavam a escolha atractiva dos seus lugares de fundação, isto é, do ‘Genius Loci'. As implantações requeríam un quadro natural com especificidades de configuração restritivas e singulares que as distingue de outros contextos topográficos de vida religiosa regular. Antes de qualquer assentamento, era necessário estudar o sitio a “urbanizar" e as condições antecipatórias para a sua organização programática disciplinada e racional, a fim delas garantirem a prosperidade e a conveniência do futuro ‘habitat'. O processo requeria uma vistoria prévia dos locais anunciados (doados ou solicitados), especialmente quanto ao seu isolamento, abundância de água, pedra e madeira e à fertilidade dos solos a arrotear, efetuada por UMA COMISSÃO DE ABADES EXPERIENTES E IDÓNEOS, e a sua homologação pelo Capítulo Geral da Ordem. Contudo, por vezes, após algum tempo de permanência dos monges numa determinada área, a insalubridade do sítio ou a inaptidão dos terrenos húmidos obrigou ao abandono e trasladação para un lugar mais favorável, onde hoje se encontram sedeados. Deste modo, garantiu-se a desejada estabilidade do ideal beneditino -oração e trabalho (ora et labora)- consubstanciado e consentido na aventura cisterciense, em fraterna simbiose e com o adequado equilíbrio entre o crer, o ser e o viver em comum’.
‘A aldeia cisterciense medieval formava un complexo de extraordinária unidade orgânica, retirado de aglomerados habitacionais consolidados e de grandes eixos viários. Uma localização topográfica adequada ao seu incremento futuro parece firmar-se, deveras, nas possibilidades efetivas da “revolução” agrícola dos campos, como garantia de existência material e autónoma dos monges. Com efeito, tanto ontem como hoje, a presença e a disponibilidade de agua potável e abundante são fatores imprescindíveis para a vitalização e o desenvolvimento sustentado de una comunidade humana fixa; donde, a sua importância decisiva nas particularidades da escolha do sítio a ocupar por uma ‘abadia branca' e na construção do seu cenário de enquadramento, estreitamente ERGONOMIZADO com a paisagem local’.
‘Os monges necessitavam de aprovisionamento de agua corrente e constante, para os usos potáveis e comuns, tanto no espaço domiciliário como na periferia dos seus edifícios. Era mister satisfazer os vários propósitos e carências básicas da vida quotidiana cenobítica, desde o consumo humano direto de água até ao seu uso como importante fonte de energía, passando pela sua utilização para a saúde e higiene corporal, coção, limpezas e lavagens domésticas, trabalhos de produção agrícola e piscícola, comunicações e transporte, consumo animal, etc., a recapitular:
FINS DOMÉSTICOS: cozinhar; dessedentar; higiene pessoal e otras abluções.
PISCICULTURA: destinada ao consumo pela comunidade.
TAREFAS AGRÍCOLAS: criação de animais e irrigação fundiária.
ATIVIDADES INDUSTRIAIS: accionamento de forjas, moinhos, noras, etc
SANEAMENTO DE LATRINAS.
São estes extractos parte da obra de Jorge Virgolino Ferreira. Uma tarefa seguramente não inglória que dará os seus frutos nos próximos tempos. Está por escrever uma parte fundamental do Císter internacional que, muito disfarçadamente, está a ser ocultada.
(Continuará)
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