19 de mar. de 2022

OIA

 PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(191ª parte) 


Igrexa e Mosteiro de Santa María de Oia
Foto: Santiago Baz Lomba / Arquivo
   

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia

 Uma  frase  pode  dizer  tudo:  'Tinha  sido  determinada  uma  sondagem  arqueológica  'em  vala'  (escavação  de  três  metros  por  um)  e  face  aos  vestígios  descobertos  foi  decidido  fazer  uma  sondagem  em  toda  a  área  da  obra'.  Assim  começa  a  atribulada  história  de  toda  pesquisa  arqueológica,  designadamente  quando  tem  à  frente  um  projeto  de  natureza  urbanizadora.  Os  problemas  e  incómodos  gerados  por  este  facto  multiplicam  os  recuos  e  as  dúvidas,  pondo  em  causa  algo  que  antecede  a  qualquer  obra  nova  qual  é  a  pesquisa  arqueológica.  Hesitações,  um  olhar  para  outro  lado,  acompanham  atitudes  mais  ou  menos  próximas  do   agente  privado  que  é  quem,  em  definitivo,  estabelece  as  suas  próprias  regras.  Há   razões  para  pensar  que  no  mosteiro  de  Oia  não  se  tem  feito  todo  o  trabalho  arqueológico  visto  não  se  fazer  menção  em  momento  nenhum  de  prospeções  ou  escavações  apuradas  e  de  caráter  público.  Deixem  que  mantenhamos  um  mínimo  interrogante  sobre  o  assunto  porque  um  mosteiro  cisterciense  pede  o  tratamento  atempado  do  seu  sistema  hídrico,  quer  superior quer  inferior.     



 

 Para  isso,  trataremos  de  um  outro  mosteiro  o  de  'São  Dinis  de  Odivelas',  na  área  da  grande  Lisboa,  feminino  e  do  Císter,  explicando  fundamentalmente  as  suas  componentes  organizativas  quanto  às  canalizações  inferiores.  Captação:  o  mosteiro  era  alimentado  de  água  potável  proveniente  de  duas  nascentes,  uma,  no  Casal  Ventoso,  e  outra  na  Ramada,  confluindo  ambas  na  mãe  d' água  do  Calçado.   Adução:   A  água  potável  era  conduzida  por  gravidade,  em  canalização  subterrânea,  até  ao  claustro  primitivo  do  mosteiro.  No  abastecimento  de  água  para  as  necessidades  da  comunidade  maior,  era  utilizada  a  água  da  ribeira  de  Caneças,  conduzida  através  de  uma  levada  captada  nessa  ribeira,  na  localidade  de  Ramada.  Distribuição:  Por  sismos,  ou  por  ampliações,  não  existem  vestígios  inequívocos  de  reservatórios  ou  outras  instalações  coevas  para  a  distribuição  de  água  potável,  no  entanto  tal  como  nos  outros  mosteiros  cistercienses  a  água  era  conduzida  racionalmente  para  as  diferentes  zonas  húmidas  do  edifício,  sendo  aduzida  em  canalização  subterrânea  até  ao  lavabo  e  posteriormente  repartida  para  a  cozinha  e  outras  dependências  necessitadas.  Evacuação:  A  água  não  potável,  conduzida  pela  levada,  entrava  no  mosteiro  do  lado   norte  e  passava  pelas  latrinas  da  enfermaria  e  dos  dormitórios,  descarregando  os  efluentes  na  ribeira  de  Caneças.  ESTA  É  A  SISTEMÁTICA  A  SEGUIR  EM  TODO  MOSTEIRO  DO  CÍSTER.     




 Direção-Geral  dos  Edifícios  e  Monumentos  Nacionais  (DGEMN)  procedeu  no  seu  momento  a  restauros  que  modificaram  ou  substituiram  elementos  do  aludido  sistema  hidraúlico. No  'mosteiro  de  Santa  Maria  de  Celas',  em  Santo  António  dos  Olivais,  Coimbra,  resulta  exponencial  este  dado:  1933-1943,  obras  de  consolidação  e  restauro,  com  recuperação  de  telhados.  Na  anualidade  1945-46  registam-se  mais  obras  de  reparação  e  beneficiação.  De  1950  a  1951  houve  uma  reparação  de  telhados  da  Sala  do  Capítulo.   Em  1959  dá-se  uma  recuperação  de  coberturas,  sendo  que  no  ano  de  1966  acomete-se  a  limpeza  de  telhados  e  caleiras.  Já  em  1986  há  obras  de  beneficiação  no  Claustro  e  em  1988  também  tiveram  lugar  obras  de  beneficiação  e  limpeza  com  a  reparação  de  telhados  e  substituição  de  rebocos  no  Claustro.  CONCLUSIVAMENTE,  AS  OBRAS  FEITAS  ATÉ  O  MOMENTO  NO  MOSTEIRO  DE  OIA  PODERIAM  NÃO  PASSAR  DE  REMENDOS,  DE  CORREÇÕES  ARTIFICIOSAS  APLICADAS  À  SUA  HIDRAÚLICA  SUPERIOR.   ESTAMOS  PERANTE  UMA  HISTÓRIA  MUITO   MAL  CONTADA.  

 (Continuará)    

 Artigo precedente. 

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