21 de dec. de 2021

OIA

PATRIMONIO

Considerações paisagistas em Oia  

(174ª parte)

 

Vista do Mosteiro de Santa María de Oia
Foto: Santiago Baz Lomba

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia    

 Nó  górdio  da  'Declaração  de  Veneza',  de  8  de  janeiro  de  2007,  será  a  nova  revisão  complementar  do  Artigo  Treze  relativa  aos  'ACRÉSCIMOS'.  Na  'Carta  de  Veneza'  de  1964  dizia-se  assim:  'Proibem-se  os  acréscimos  que  restam  valor  às  partes  interessantes  de  um  edifício,  à  sua  envolvente  tradicional,  ao  equilíbrio  da  sua  composição  e  à  sua  relação  com  os  arredores'.  Agora  interpreta-se  desta  maneira,  introduzindo  a  mais  absoluta  das  surpresas:  'Os  acréscimos  contemporâneos  que  respeitosamente  ocupam  o  seu  lugar  dentro  de  uma  composição  harmoniosa  -  incluindo  estilos  'revival',  se  se  considerar  apropriado,  bem  como  novos  estilos  inovadores -  são  permitidos'.  Porém,  também  expressa-se  o  seguinte:  'Aos  acréscimos  que  deliberadamente  são  descontínuos,  discordantes  e  conscientemente  dominantes  não  se  lhes  deve  permitir  estragar  o  equilíbrio  da  composição  ou  a  relação  com  os  arredores'.  (Mas  afinal,  em  que  ficamos?  A  premissa  desses  acréscimos  "serem  respeitosos"  já  diz  quase   tudo  e  constitui  uma  incontornável  'dica'  da  própria  'Carta  de  Veneza  de  1964'.  Confira-se  a  projeção  dos  translúcidos  como  exemplo  exponencial  disso,  justamente  disso;  até  que  enfim,  este  último  parágrafo  converte-se  em  remédio.  Importa  sublinhar,  mais  uma  vez,  os  altos  interesses  da  'RMO'  relativamente  à  TURISTIFICAÇÃO  DO  NÚCLEO  OIENSE;  ideia  que  em  Portugal,  e  não  só,  fundamenta  de  passagem  a  legitimidade  de  caminhos  a  Santiago - postos  de  parte  e  preteridos  pelo  imediatismo  destes  senhores  da  olívica -.  Daí  concedermos  um  valente  apoio  ao  'Caminho  Minhoto  Ribeiro'  pela  sua  coragem  e  afirmação  consequente  dos  velhos  percursos  monacais  de  sempre.  Palco  desta  mensagem  foi  o  templo  da  'Veracruz'  no  Carballiño,  que  acolheu  há  poucos  días  aos  porta-vozes  da  meritíssima  iniciativa  NÃO  MERCANTILISTA  do  'Caminho  Minhoto  Ribeiro'). 

  


 

 Se  se  tomarem  à  letra  as  pretensões  da  'RMO',  é  obvio  que  a  concretização  de  uma  Promoção  Urbana  Costeira   (chamem-na  como  quiserem)  será  um  facto  em  Oia,  tendo  em  conta  a  conformidade  e  o  beneplácito  de  muitos  que  não  hesitaram  em  dar  luz  verde  ao  prémio  'AHI -  Architectural  Heritage  Intervention'. CRIAR  URBANISMO  ONDE  NÃO  É  CHAMADO  URBANISMO  NENHUM,  EIS  A  QUESTÃO  DE  FUNDO.  CONCORDA-SE  COM  "TUDO  O  QUE  FIZER  FALTA",  PARADOXALMENTE,  SE  ESSE  OBJECTIVO  FOR  ATINGIDO,  MISTURANDO-SE  LEIS  SETORIAIS  COM  OUTRAS  GENERALISTAS  AO  CALHAS.  Uma  primeira  leitura  do  'Instrumento  de  Planificação'  revela  aquela  que  nos  chamamos  'OPÇÃO  PANELA',  ou  seja  meter  no  mesmo  estrujido  Pré-existências  e  Enformados  novos  acompanhado  tudo  de  uma  componente  eminentemente  urbana  e  urbanizadora  no  plano  legislativo  ('RMO'  parece  não  querer  se  deter  relativamente  a  objectivos).  'PLANNING  INSTRUMENT  FOR  PROTECTION,  CONSERVATION  AND  ENHANCEMENT  OF  THE  SANTA  MARIA  OF  OIA'S  MONASTERY',  asim  num  inglês  tão  piroso  como  teso  e  emperiquitado,  expressa  a  pouco  dissimulada  tentativa  de  concretizar  uma  suspeita  operação  MACRO-TURÍSTICA  que  está  à  vista  e  perante  a  qual  temos  todas  as  reservas.  Os  ingredientes  já  foram  servidos:    

Acrescentar  equipamento  urbano  ainda  não  existente. 

Progressão  urbana  para  o  exterior,  garantindo  conexões. 

Basilarmente,  em  troca,  dizem  reabilitar  o  mosteiro  cisterciense.  Este  trocadilho  é  perigosíssimo  e  enganoso  visto  eles  pretenderem  globalizar  morfológicamente  algo  perfeitamente  desnecessário  (acréscimos).      

 Convém  irmos  devagar  na  apreciação  do  'Instrumento  de  Planificação'.  A  nova  linguagem  fala  explicitamente  de  fenómenos  urbanos:  por  exemplo  fala  de  'Desenho  Urbano',  'Expansão  Urbana',  'Desenvolvimento  Urbano',  'Usos  permitidos',  'Regulação  Geral  do  Solo'  e  até  instrumentalizam  esse  manchete  do  'Meio  Ambiente  e  melhora  da  paisagem'.  

(Continuará)   

Artigo precedente.

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