PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(173ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Um último comentário poderá ser exponencial no relativo a 'substituições', 'reconstruções' o mesmo 'falsificações' feitas antes do primeiro quartel do século XX, ou durante este e posteriormente. 'Andrés Calzada Echevarría' (1892-1938), arquiteto espanhol autor do 'Diccionario clásico de arquitectura y bellas artes', fala sem pejo da 'anastilose' ou da 'falsificação' como fenómenos contaminados onde a esperteza falou mais alto do que outra consideração qualquer na cabecinha do atuante, do "restaurador". Curiosamente, a crítica destas práticas é equacionada de forma pacífica; assim refere-se mencionando a 'anastilose': 'Vocablo moderno con que se designa el arte de .consolidar y conservar las ruinas, y monumentos. Consiste en reforzar las fábricas sin destruir su aspecto exterior, por medio de inyecciones de hormigón y de elementos de hormigón armado. Así se han reconstruido en la posible medida las ruinas del Partenón por el arquitecto Baleanos y los restos de Agrigento y Selinonte, por Valenti, así como otros monumentos en Francia e Italia; en España, la Magistral de Alcalá de Henares por Cabello Lapiedra'.
Esta menção é honesta, reflecte um estado geral de coisas que suscita um inicial espanto, mas também um reforço da base teórica dos primeiros restauradores. Em definitivo, pôr em causa a atual mistura de enformados é legítimo, muito embora pareça uma "velharia argumental" aos olhos dos arquitetos globalizadores do momento, aqueles que rapidamente alinharam com a 'Declaração de Veneza de 2007' (Trata-se de uma opção mais comodista e fácil. Nessa solução tresloucada andam em trança os tijoleiros de toda laia, a legislação neo-liberal galega - aquela que nega a LPHE de 1985 e a LPCG de 1995 - e esta arquitetura dita globalista que monta 'como leão à fémea' tudo, como se nada fosse. Excesso manifesta-se não somente numa propaganda puramente mercantilista, empregue com recursos em nada diferentes dos utilizados pelas grandes superfícies comerciais, por exemplo, mas na tentativa de urbanizar um todo, custe o que custar. Querem, sim, veiculizar um macro-plano urbano à margem da democracia municipal; quere-se, de facto, materializar um programa que abranja "daquela maneira" as decisões soberanas da gente. Resumidamente, querem criar cidade onde não é chamada a cidade. Contudo, NÃO É ADMISSÍVEL O APRESSAMENTO EXIBIDO PELOS SEGUIDORES DESSA ARQUITETURA "GLOBALIZADA" SE FIZERMOS UM SOMATÓRIO DE ERROS PASSADOS, TÃO RECENTE NA HISTÓRIA DO RESTAURO. Esta arquitetura, que chamamos de DESIMPEDIDA, está a cometer uma diacronia evidente baseada em confundir as coisas, fazer um 'misto de alhos com bugalhos', despersonalizar a própria arte e enviá-la diretamente ao esquecimento. Querem frivolamente, acima de tudo, afigurar um prémio 'AHI' como "inevitável" e "incontestável" razão de ser de futuras concretizações urbanísticas. 'Architectural Heritage Intervention' é utilizada em Oia como "panaceia garantista" com fraquíssimos argumentos; é um logro, uma empófia ou pretexto para se apoderar daquilo que subsiste na forma legal. Privatização duma envolvente patrimonial é manobra neste caso associada à urbanização, adquirindo natureza de intrujice, acontecendo contudo que a relação das 'precedências/ pré-existências' serve de álibi para um "melhoramento" dito geral que, a muito custo, se quer assentar; porém, não será o caso de Oia. Palavras como ADENSAMENTO, ALTIMETRIAS INTRUSIVAS ou DESESCALA são atualidade em cheio; também ENTAIPAR sorrateiramente os 35 metros do lateral dos Laranjais com essa falsa frente translúcida de muito maior comprimento, cuja simultânea relação 'fecho/ tangente' é verificável.
Arquiteturas de hoje estabelecem um matrimónio de conveniência com aquilo que se alcunha de arqueologia "inservível" para depois sugarem a preceito tudo, cientes do proveito que lhes traz qualquer concessão atempada de prémios. Cabe lembrar que 'Arquitectural Heritage Intervention' constitui algo recente, nutrido de 'influencers' ou 'leaderships', com indiscutíveis aderências e aderentes, mas tida por alguns como rápida teorizadora de improvisações e disparates tais como aquele da 'desnecessidade de associar o património cultural à peça arqueológica').
(Continuará)
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