13 de dec. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia

(120ª parte)   

 


 

ENCONTROS  POLIORCÉTICOS / Oia    

 Vamos  falar  da  fachada  do  mosteiro  de  Monfero,  rainha  entre  as  rainhas  do  colossalismo  e  expressão  simbólica  de  um  poder  religioso.  À  partida,  as  ordens  clássicas  greco-romanas  no  barroco  eram  respeitadas  nos  seus  elementos  constituintes,  passando  a  ser  frequentemente  padronizados  e  sem  aditivos.  A  ordem  compósita  em  Monfero,  e  portanto  romana,  atinge  nesta  fachada  a  colmatação  desse  ideal  à  margem  do  renascimento,  incorporando  num  mesmo  plano  a  pretensão  nada  borrominesca  de  carregar  essas  linhas  de  base  classicista.  Para  isso,  incorpora  num  mesmo  impulso  quatro  colunas  e  duas  pilastras  enormistas  a  adquirirem  um  protagonismo  frontal,  que  abrange  todas  as  alturas  até  o  próprio  entablamento,  quebrando  o  friso  e  os  seus  tríglifos  estandardizados  e  métopas  circulares  bem  como  alargando  essa  sensação  de  avanço  até  a  cornija.  O  colossalismo  é  fator  chave  de  toda  a  cenografia  monferense;  placas  de  lousa  a  contrastarem  com  o  granito  também  ajudam  a  tal,  muito  embora  se   mantenham  as  dúvidas  relativas  à  contemporaneidade  dessas    ardósias  (há  quem  pense  no  aditamento  posterior  da  tal  estrutura dual,  bicromática...),  colocando  interrogantes  pertinentes  e  polêmicos  sobre  a  distonia  temporal  dos  planos  fachadistas  em  Monfero.  Devido  a  essa  incongruência  discutível  de  aparato,  poderiamos  pôr  inclusivemente  em  causa  a  unicidade  da  própria  fachada.  Nada  ajudará  o  desabamento  parcial  do  canto  esquerdo  (visto  de  frente)  das  porções  alternadas  de  esquistos  e  granitos,  nos  anos  vinte  ou  trinta  da  passada  centúria  (ainda  menos,  esses  planos  de  desmonte  protagonizados  quer  pelo  franquismo -  iniciada  na  casa  dos  cinquenta  do  século  XX -,  quer  pela  ignorância  citadina  relativamente  ao  sentimento popular).  Para  além  de  corpos  absorvidos  pela  monumentalidade  compósita  (vãos  emarcados,  frontões  em  mitra  ligeiramente  partidos  ou  matizados  pela  curvatuta  da  angulação, esse  vão  quadrangular  abertamente  acolhido  pela  rotura  expressa  do  frontão, uma  estatuária  que  vai  acabar  em  insinuação  de  um  outro  santoral  e  por  aí  fora...)  certo  será  que  o  comando  é  mantido  pelas  linhas  comumente  chamadas  colossalistas.  Ligação  com  Sobrado  dos  Monges,  clara  elevação  verticalista  do  fachadismo,  vai  estabelecer  semelhanças  no  interior  do  templo  da  igreja  de  Monfero;  vejam  então  os  casetões  da  grande  nave  única   de  65  metros  de  penetração  por  12,50  metros  de  largura,  formando  esse  hieroglífico  escassamente  compreensível  e  misterioso  feito  de  puro  simbolismo  (cruzes,  luas,  sóis,  rostos,  trisqueis,  estrelas,..).   

 


 

 Ordem  compósita,  ao  todo,  representa  uma  sobreposição  do  jónico  ao  coríntio;  nada  fazia  supor  que  fosse  uma  versão  tardía  desta  segunda  ordem.  Inserem-se  no  capitel  as  volutas  jónicas  e  as  folhas  de  acanto  corintias,  com  ábaco,  florão, cálatos,  caulículos,  hélice,  segunda  coroa  de  acantos,  primeira  coroa  de  acantos,  astrágalo,  baquetão  e  listel  (tal  manda  a  compósita,  sendo  mesmo  que  estipula  para  o  fuste  24  estrias  a  listeis,  coisa  que  não  acontece  em  Monfero  visto  as  colunas  estarem  formadas  por  segmentos  ou  silhares  graníticos  curvos,  não  tambores,  em  número  de  37-38  empilhamentos  cada  uma  delas  por  fuste,    enformando  esse  adossamento).  Estas  colunas  mostram  não  só  a  típica  éntase  no  primeiro  terço de  todo  o  seu  comprimento,  decorrente  de  um  engrossamento  em  que  o  diâmetro  aumenta  de  molde  a  reduzir  a  distorsão  ótica,  havendo  no  terreno  teórico,  aliás,  outras  deformações  complementares  tais  como  a  redução  do  diâmetro  numa  das  extremidades  do  fuste  (afunilamento). Fica  assim  marcado  também  o  diferendo  entre  sumóscapo  superior  e  imóscapo  inferior. Será  necessário  apontar  como  pormenor,  dado  importante,  o  caráter  torto  da  coluna   mais  à  esquerda  (pode  se  atribuir  tal  facto  a  um  qualquer  desabamento,  a  quedas  esporádicas  de  fábricas  nesse  lateral,  aos  efeitos  de  um  raio),  não  deixando  de  ser  um  particular  "naif"  e  uma  curiosa  singularidade  junto  das  mencionadas  lousas  quadradas  e  rectangulares  de  piçarra  do  conjunto.  Feita  esta  exposição,  resumida  numa  dúvida  exponencial  entre  colunas  e  pilastras  de  grande  ordem  e  um  pano  global  de  placas  xistosas,  terá  alguma  lógica  pensar  se  existe  com  efeito  condizência  entre  ambas.  Às  vezes,  até  poderiamos  esboçar  sem  disfarce  uma  dupla  composição  fachadista  onde  luta  o  plano  clássico,  ou  dito  clássico,  e  o  forro  esquistoso  (novo  ou  velho)  das  placas  de  lousa  (garantes  a  toda  prova  da  viabilidade  de  um  alçado).  Peritos  em  durabilidade  da  ardósia  datam  em  150  anos,  no  mínimo,  a  "vida"  destas  láminas  piçarrosas  aderidas  aos  alçados  de  fachadas  e  não  só.  Esquistos  mantêm  a  bom  resguardo  granitos  expostos  demais,  ainda  que  resistentes,  a  todo  o  tipo  de  humidades  e  imponderáveis.  Neste  caso  a  lousa  aparece  amaciada  nas  placas  na  maioria  dos  casos,  sem  clivagem,  dizendo  muito  em  favor  de  um  aprimorado  trabalho  de  apuramento,  seja  qual  fosse  a  sua  data  de  implantação,  de  forro.  São  ao  total  324  placas  distribuidas  simetricamente  nas  ruas,  entrerruas  e  laterais  de  pilastras  ligeiramente  remetidas  (o  que  vai  favorecer  ainda  mais  esse  esquema  barroco).  Estas  pilastras  apresentam  cinco  caneluras,  afigurando-se  enchidas,  maciçadas,  em  baixo. Temos  outros  pormenores  nesta  fachada:  mútulos  e  gotas  bem  classicistas  acima  do  friso,  por  exemplo. 

 


  

 Este  território  monacal  está  na  íntegra  quanto  a  limites,  parecendo  com  certeza   uma  estrutura  murada,  quase  que  defensiva.  Nos  seus  panos  da  parte  sul  temos  pormenores  interessantes:  alvenarias  em  xisto  a  condizerem  também  com  silhares  graníticos  nas  partes  nobres  e  estruturais;  arcos  de  descarga;  vãos  capialçados;  ménsulas  a  modo  de  matacães;  contrafortes,  etc...É  urgente  fazer  uma  chamada  de  atenção  sobre  o  abandono  que  sofre  atualmente  Monfero.  Um  espaço  mínimo  de  acolhimento  na  própria  igreja  serve  para  justificar  o  expediente  (muito  embora  seja  justo  dar  um  desconto  à  gente  da  Associação  de  Amigos  de  Monfero).  Lá,  poucas  pessoas  conhecem  a  ACIGAL;  nem  sequer  sabem  da  família  Martínez  ("Vasco-Gallega de Consignaciones",  "RMO",  "Kaleidos",...)  nem  do  que  pretendem  concretizar  em  Oia.  A  tal  urbanização  simplesmente  pareceu-lhes  mal.  

Artigo precedente.              

Ningún comentario:

Publicar un comentario