2 de xul. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia

(101ª parte) 

Santa María de Wamba: mozárabe e tardo-românico, ancestros do românico e do Císter


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia     

 Xoán Martínez Reboredo, diretor geral de "Residencial Mosteiro de Oia, S.A." disse em abril de 2019 no programa da radio "Hoy por hoy Baixo Miño" que o PSOE e Converxencia Galega comprometeram-se a desbloquear o projeto urbanístico se chegassem à câmara municipal. Isto desarma qualquer um, sendo difícil perceber isso dado fazer muita confusão. Das duas uma, ou meteram na gaveta aquela proposta da Expropriação Forçada do mosteiro dando o dito por não dito, ou "RMO" está a pôr ao nú conluios evidentes naquilo que somente é uma promoção urbana costeira convencional e adensante; além disso, promoção espesante e cancerosa relativamente à paisagem. Lei tijoleira de 2016 do Património Cultural de Galiza faz um exercício de hipocrisia palpável aquando diz ter em conta cartas, convenios e instrumentos internacionais esquecendo-os do dia para a noite e aplicando uma Lei de Proteção da Paisagem própria que fica aquém do esperado mesmo com regulamento na mão. Saiba-se de vez que "RMO" acorda e adormece a pensar na dita urbanização, servindo-se aliás de velhas tretas como aquela de "a construcción de 20 vivendas a 300 metros do recinto" (mentira da grossa). Empresários e políticos fazem das suas na manipulação da realidade, banalizam e bajulam tudo e mais alguma coisa, estando mesmo a criar conformismo entre os vizinhos. Recinto monacal é muito amplo; de facto, futura urbanização dista uns 164 metros da igreja. Outras medições expressam relativamente às pandas do espaço das Laranjeiras uma perigosa aproximação que despoletará o adensamento, a metástase com outras malhas urbanas, o afunilamento e um constrangimento espacial que fica à vista. Servem-se na travessa medições interesseiras que põem de parte aqueles espaços exteriores próprios dos mosteiros. Pano de fundo será quer a extensão da futura urbanização, quer a metástase provocada, quer a proximidade ao âmbito cenobial. Não esqueçam os vizinhos que "RMO" tem a benção do Círculo de Empresarios de Vigo, que se trata de uma promoção urbana na costa e de um manual de práticas anti-paisagem bem vulgar e vulgarizante. Entra-nos pelos ecrãs, radios e "mass media" uma mensagem totalizadora e unilateral que se ergue sem contrapartidas e com muito "pão e circo" urbanoide. Até há bem pouco, mosteiro de Oia estava na Lista Vermelha do Património, ultrapassando a reprovação de "Hispania Nostra" sem merecê-lo. Posteriormente, à arrogância da "RMO" segue-lhe uma fase de autoconfiança e triunfalismo que deve ser contestada com patrimonialismo neutral e troca de dados. Resposta a tanta pressa será insistirmos no conhecimento das boas práticas patrimoniais. Os elementos conformantes do nosso mosteiro, se comparados com outros (sejam do Císter ou não) dar-nos-ão dicas para assentar um discurso verdadeiramente estilista. Isto quer dizer só uma coisa: a arte pre-românica deve ser explicada tim-tim por tim-tim para chegarmos a outros estilos em Oia, por exemplo. Assim sendo, filtraremos lixo e palavras ocas na atual tessitura ou invólucro da "RMO". Mosteiro merece uma outra atenção que a brindada por estes senhores vindos de Vigo. Uma apurada análise pode evidenciar as limitações em que se move um discurso "urbanita" alheio aos considerandos reais da nuclearidade monacal. Vamos fazer citação do mosteiro cisterciense de Huerta (Soria) para poder fugirmos à linguagem de uma "RMO" enfarinhada na contradição. Huerta pertence à Carta Europeia do Císter e, no entanto, nada terá a ver com as pretensões e "brilhos" urbanizadores aninhados pelos tijoleiros danados da "RMO". Eis que aparecem as fissuras todas de uma Carta do Císter envenenada nos seus fundamentos. Princípios reitores e Carta de Valores estão na origem da passada crise da Carta. Quando um dos membros quer fazer, na prática, o que bem lhe apetece, inserindo betão e tijolo ao pé de um mosteiro, obviamente entrará numa lógica turistificadora que nada terá a ver com uma paisagem integrada e equilibrada. Sabe-se a letra pequena dos planos urbanizadores da "RMO" em Maulbronn (Baden-Württemberg)? A independência física e territorial de este mosteiro cisterciense alemão desautoriza tais planos marcando um rumo a seguir gerido pela estrita observância da Carta de Valores e uma certa posta em causa da atividade dos privados no seio da Carta Europeia do Císter. Tal era o miolo da questão que deu afinal num debate aquescido e tenso entre mosteiros. Que Oia esteja nos planos urbanizadores desses privados perfaz caso único e casuística única em Europa, sendo modelo que não pode ter cabimento numa envolvente que só pertence por direito próprio a um mosteiro do Císter, a começar pelos seu território inerente, os seus invioláveis quadros arquitetónicos, a sua hidráulica e, designadamente, o seu espaço isento defensivo. "RMO" converteu mosteiro de Oia em refém de interesses ligados a uma consignatária, mais nada. Propriedade privada (desamortização, exclaustração) constitui herança viva de um passado de sucessivas incompetências. Frisar a condição neutra do espólio patrimonial suporá negar o dito "potencial económico do Património", verdadeiro álibi dos tijoleiros. Estes vêm em força e não querem fazer cedência nenhuma das conquistas obtidas durante os mandatos de Feijóo (vejam Lei do Património Cultural de Galiza de 2016). Feijóo é o verdadeiro "leva-e-traz" das promoções urbanas costeiras.


 Mosteiro de Santa María de Huerta (Soria) é sobejo exemplo de como a Carta Europeia do Císter faz valer os seus valores (polêmica ainda presente no seu seio) visto que alguns aínda não entenderam que a labelização dos bens culturais não comporta urbanização anexa, brutalização da paisagem, embaratecimento das franjas e delimitações ou simplificação propositada dos processos autorizadores (vejam fase desenvolvista). Em   Huerta a vida monástica é um facto. Fraternidade de Laicos assinou a sua Carta o día 20 de junho de 2015. Trata-se de um grupo de cristãos, homens e mulheres laicos, de diversas idades e condição, que aspiram a viver na sociedade de acordo com a mensagem evangélica, baseada na espiritualidade e carisma cisterciense e em comunhão com o mosteiro de Santa María de Huerta. A fraternidade constituida surge como resposta a atração que tem exercido dito carisma vivido nesta comunidade. Os cursos de vida monástica e de oração que se têm realizado no  mosteiro desde 1986 motivará nalguns dos participantes o desejo de manter e acrescentar as ligações espirituais com a comunidade. Para além disso, oferece-se um curso ou estágio para a oração, o estudo e  o trabalho, bem como a possibilidade de ficar sete días no mosteiro junto dos monges e como os monges.   

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