6 de ago. de 2019

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 
(41ª parte)


 ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia    

 Supondo que projeto da "Kaleidos" seja o mesmo daquele que foi apresentado em tempos  publicamente, vamos nos cingir ao pormenor de tal, aos seus particulares e às suas características, tentando esclarecer "tim-tim por tim-tim" tudo o que sugere uma fratura e desavença paisagistas. Caráter centrípeto desse projeto já é um mau começo. Será que urbanização liga ou integra alguma coisa? Não, visto estar dando "negas" permanentes à envolvente e ao próprio mosteiro. Essa antes citada FRATURA já se produz no miolo do projeto, pondo em causa a falsa ideia dos proprietários de que não há mosteiro sem urbanização e viceversa. Tal situação paradoxal  é contemplada interesseiramente pela "Kaleidos" como algo possível, como algo fatível. Este "remédio santo" poderá se servir eventualmente duma varinha mágica chamada jardim de suplantação em redor do rio Lavandeira. Para além disso, AINDA NÃO APRESENTARAM UM PLANO RELEVO EM TRÊS DIMENSÕES desse disparate. Não se têm conferido nem as curvas de nível, nem a tumorização dum espaço, nem a desfeita paisagista decorrente disso; como também não o dano  subsequente causado ao imediato âmbito arquitetural vernacular. 

 Esquematicamente acontece, pode acontecer, o seguinte: 

1.- Os vinte volumes ou prédios provocam algumas coisas: ADENSAMENTO GERAL ESPACIAL, decorrente da SERIAÇÃO/PADRONIZAÇÃO das ditas "vilas turísticas" (padronização claramente anti-paisagem). Outros empreendimentos em Oia com base também padrão, pelo facto de ficarem mais longínquos do cenóbio, ficam também mais amortecidos. A envolvente é fagocitada por uma inevitável TUMORIZAÇÃO que já não faz distingos. Assim,  integram-se forçadamente estes volumes com, segundo a "Kaleidos", "edifícios adjacentes similares" (isto não é certo, Centro Cultural ou Hotel A Riña têm outras plantas que não aquelas aberrações cubicistas). Resultado final será implicar aos outros numa desfeita consistente na apropiação de espaços sob o álibi duma pretensa homogeneização. Para já, seis desses volumes fazem de RECHEIO nesses âmbitos-limíte, ajudando à colmatação daquela área. Afinal temos a grande NÓDOA URBANA a nossa frente (ou a "condizer" com o mosteiro violentamente). Não há hipótese de paisagem integrada. Haverá, aliás, uma incompatibilidade visual com o mosteiro, apenas disfarçada com o badalado e enganoso "corredor fluvial" do Lavandeira. Espaços chocam, colidem uns com os outros; manifesta-se a dualidade.      

 2.- Não há volta a dar. Ou paramos este projeto ou daremos luz verde a outros malentendidos urbanos Consumar-se-ão  generalização de erros sob a desculpa da "empregabilidade", do "turismo", etc. Nega-se provavelmente a última oportunidade a uma centralidade paisagista em redor do mosteiro ainda espaçada, intocável, intrinsecamente cenobial e militar, onde o dito espaço comanda regras mínimas de bom tom e onde tal condiz de verdade com a regra monacal comumente aceite. É assim  que paisagem em Oia pede passo e respeito. Âmbitos outrora religiosos são ocupados, preteridos e postos de parte sem o mais mínimo decoro. Afinal, impõe-se um paganismo estranho e alheio, citadino, gentrificador e claramente  mercantil.     

 3.- Mas o pior estará por vir: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL ficará em maus lençois, estando como está relegada ao critério de ateliês e opiniões de conveniência. ACEITAÇÃO ÓTICA de  resultados conduz irremediavelmente ao FUTURO CONFORMISMO VISUAL destes. Nunca houve um respeito pelo mosteiro; antes bem, manteve-se o assunto como se de um comatoso se tratasse. Revitalizar resposta dos oienses é clamorosa urgência, manter paisagem primigénia é dever geracional. São essas as verdadeiras "Conversas no Mosteiro".  

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