PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(31ª parte)
Pre-existências delatam com clareza uma deturpação futura que visa fazer desaparecer da memória coletiva um âmbito vegetal primigénio com absoluta gratuitidade
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Poder-se-á chamar de "palimpsesto verde" a um futuro espaço suplantador, feito "ex novo", ao pé do Lavandeira? Com certeza. Esse sinal inequívoco de falso paisagismo pretende amortecer os efeitos da parede translúcida, mas física, colada às asas cenobiais dos Laranjais (projeto, ao que parece, atribuível ao ateliê "Rodriguez + Pintos"). Esta-se de facto a vulnerar uma Zona de Proteção imediata que nunca precisou de arranjos nenhums. Pre-existências delatam com clareza uma deturpação futura que visa fazer desaparecer da memória coletiva um âmbito vegetal primigénio com absoluta gratuitidade. Vamos ao núcleo do problema: É tão indispensável assim "fazer obra" nestes pontos que indicamos? Pergunta nada ingenuista, dado que fica de parte qualquer necessidade dessa obra num monumento outrora religioso; dado que resulta perfeito álibi para o empreendedor misturar alhos com bugalhos e, enfim, aquando obviamente já existe un talaso nas proximidades. Erguer "à mistela" revela uma conceição bem limitada da chamada Significação Cultural dos sítios; alcatifar um terreno com volumes estranhos ou fora de escala é bem pior (ao norte do mosteiro).
Carta de Burra (1979-2013) refere em vários momentos cronológicos a dita Significação Cultural. No seu artigo 1.2. define esta como valor estético, histórico, científico, social o espiritual para as gerações passadas, presentes e futuras. Significação Cultural faz corpo nesse sítio de seu, na sua fábrica, envolvente, uso, associações, significados, registos, sítios ou objectos relacionados. Artigo 3.1. diz, que a conservação baseia-se no respeito pela fábrica, uso, associações e significados existentes. Requer uma aproximação às mudanças tão cautelosa quanto necessário, visando serem as menos possíveis. Salientável pela sua forte singeleza é artigo 1.7. desta Carta de Burra: "restauração significa devolver à fábrica existente dum sítio um estado anterior conhecido, removendo agregados ou reagrupando as componentes existentes sem introduzir novos materiais". Mais ainda, artigo 4.2. indica que "São preferíveis técnicas e materiais tradicionais para conservação da fábrica significativa. Nalgumas circunstâncias pode se fazer apropriação de técnicas e materiais modernos (...). Aprofundando nisto, artigo 8.1. alude a que "conservação requer a manutenção dum espaço visual apropriado e outras relações que contribuam à Significação Cultural do sítio. CONSTRUÇÕES NOVAS, DEMOLIÇÕES INTRUSÕES E OUTRAS MUDANÇAS que possam afetar adversamente à envolvente ou às relações com ela, não são apropriados".
No relativo aos diferentes trabalhos de consolidação, em termos arquitetónicos, há um debate que não acaba e que, DECORRENTE, ALIÁS, DE UMA GRITANTE DISPERSÃO NORMATIVA (da qual tiram proveito promotores e construtores) produz resultados encontrados e desentendimentos. Está provado que a inserção de estruturas metálicas modernas em betão armado, bem como armações "invisíveis", são inconvenientes e prejudicam resultados finais em trabalhos de acréscimo e consolidação. A somar, caso das próteses construtivas fora de alinhamentos pre-existentes, quebrando planos visíveis por causa da sua disformidade aderente. A risco de baralhar aos leitores, resumo que podemos fazer disto tudo é o seguinte:
1) Não saber separar trigo do joio (urbanização de monumento) advém política anti-paisagem.
2) Urbanizações fora de escala desvirtuam outros conjuntos e malhas rurais tradicionais próximas.
3) Turistificações complementares, periféricas decorrem de outras mais centralizadas (Rias Baixas, Porto) e não são menos intrusivas.
4) Estudos de Integração Paisagista (E.I.P.) sobre a paisagem oiense: esclarecimentos.
5) Papel da Xunta galega nesta confusão toda.
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