14 de maio de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações  paisagistas  em  Oia  

(208ª parte)  


 Fortaleza de Monção, de Michel de Lescolles


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   

 Na  análise  feita  deste  corredor  minhoto  pelo  insigne  'Vítor  Serrão'  ficam  suficientemente  esclarecidas  algumas  questões:  

Valor  próprio  do  paradigma  seiscentista  religioso  e  militar  de  Portugal. 

Estabelecimento  da  Aula  de  Fortificação  e  Arquitetura  Militar  na  Ribera  das  Naus. 

A  defesa  do  Reino  num  todo  que  vai  concretizar-se  na  tratadística  do  engenheiro-mor  Luis  Serrão  Pimentel  com  o  seu  'Mhetodo  Lusitanico  de  Desenhar  as  Fortificações  das  Praças  Regulares  e  Irregulares',  de  1680. 

Já  antes,  em  1641,  o  Conselho  de  Guerra  da  Restauração  distribuiu  POR  TODO  O  TERRITÓRIO AMEAÇADO os seus  engenheiros  militares.    

 Vários  engenheiros  franceses  acompanharam  Carlos  Lassart,  por  exemplo.  A  par  do  flamengo  Cosmander,  dos  italianos  Jerónimo  Rossetti  e  Bartolomeu  Zenit,  citam-se  no  terreno  Nicolau  de  Lille,  Miguel  de  Lescolle,  Manesson  Mallet,  Pedro  de  Saint  Paul,  Pedro  de  Sainte  Colombe,  Pedro  Pellefigue,  Jorge  de  Ponsel,  Filipe  Guitau,  João  Gilot  e  Nicolau  de  Langres.  Estes  verdadeiros especialistas  no  desenho  da  fortificação,  pagos  a  peso  de  ouro  pela  diplomacia  de  D.  João  IV,  evidenciam  um  ponto  de  inflexão  que  se  coloca  aos  Habsburgo  com  caráter  definitivo.  Minho  faz  parte,  como  a  fronteira  toda,  de  um  novo  replanteamento  de  natureza  europeia  que  iria  influenciar  os  séculos  seguintes.    

 



 A  guerra  de  Aclamação  ou  da  Restauração  será,  aliás,  um  palco  absoluto  para  a  prática  'lusitânica'  da  guerra  e  da  fortificação,  ao  dizer  de  'Paulo  Pereira',  indicando  acertadamente  que  'O  cartesianismo  trazido  por  insignes  mestres  de  fortificação  durante  o  século  XVII  haveria  de  marcar  o  pensamento  dos  portugueses,  que  abandonavam  os  esquemas  italianizantes  para  adotarem  o  "geometrismo"  duro  e  radical  dos  holandeses  e  dos  franceses,  retomando  sistemas  como  as  grandes  cavas,  as  obras  exteriores,  projetando  as  defesas  (baluartes,  revelins,  taludes)  para  o  exterior  da  povoação  a  fortificar  mediante  sistemas  compactos,  angulosos  e  perpendiculares'. Um  novo  paradigma  abria-se  perante  a  incredulidade  dos  espanhóis,  obrigados  a  aceitar  a  incontornável  fronteira  lusa,  exemplo  aliás  exportável  noutros  cenários  europeus.  Esse  pormenor  será  a  'nuance'  ou  'subtileza'  portuguesa  que  instituiu  duas  linhas  de  'pre-carré'  vaubaniano  no  Alentejo  mais  exposto,  mais  vulnerável.  Acrescenta  Paulo  Pereira:  'Isto  reflecte,  igualmente,  a  revolução  da  artilharia  pesada,  que  passa  a  possuir  um  alcance  maior  e  um  preço  muito  mais  acessível,  multiplicando-se  as  bocas  e  os  ritmos  de  disparo,  bem  como  a  entrada  em  cena  das  carabinas  e  dos  bacamartes.  Entretanto,  a  própria  hierarquização  e  organização  das  tropas  e  a  sua  disposição  no  terreno  obedeciam  já  no  século  XVII  a  uma  visão  "barroca",  deslocando-se  mediante  esquemas  que  pre  sumem  uma  coreografia  e  um  movimento  que  verte  de  uma   "etiqueta"  militar'.      

 Tratamento  unívoco  da  realidade  portuguesa  nota-se  à  partida  nas  referências  de  Paulo  Pereira:  'O  período  da  guerra  assiste,  portanto,  a  uma  gradual  atualização  e  modernização  das  fortalezas  de  fronteira  marítima  e  terrestre,  segundo  os  novos  sistemas  introduzidos  pelas  técnicas  francesas  e  holandesas,  sendo  particularmente  significativos  para  a  defesa  do  reino  os  dispositivos  "estrelados"  montados  em  Estremoz,  Vila  Viçosa,  Olivença  ou  Campo  Maior,  salientando-se  de  entre  todas  a  espeta  cular  praça  estrelada  regular  de  Almeida,  bem  como  a  grandiosa  praça-forte   de  Valença  do  Minho  (1661).  Papel  de  particular  destaque  devido  à  sua  concentração  e  inter-relacionamento  estrutural  foi  o  desempenhado  pelas  chamadas  Linhas  de  Elvas,  desenhadas  por  Cosmander  e  Gilot'.  

 Artigo precedente.

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