PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(208ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Na análise feita deste corredor minhoto pelo insigne 'Vítor Serrão' ficam suficientemente esclarecidas algumas questões:
● Valor próprio do paradigma seiscentista religioso e militar de Portugal.
● Estabelecimento da Aula de Fortificação e Arquitetura Militar na Ribera das Naus.
● A defesa do Reino num todo que vai concretizar-se na tratadística do engenheiro-mor Luis Serrão Pimentel com o seu 'Mhetodo Lusitanico de Desenhar as Fortificações das Praças Regulares e Irregulares', de 1680.
● Já antes, em 1641, o Conselho de Guerra da Restauração distribuiu POR TODO O TERRITÓRIO AMEAÇADO os seus engenheiros militares.
Vários engenheiros franceses acompanharam Carlos Lassart, por exemplo. A par do flamengo Cosmander, dos italianos Jerónimo Rossetti e Bartolomeu Zenit, citam-se no terreno Nicolau de Lille, Miguel de Lescolle, Manesson Mallet, Pedro de Saint Paul, Pedro de Sainte Colombe, Pedro Pellefigue, Jorge de Ponsel, Filipe Guitau, João Gilot e Nicolau de Langres. Estes verdadeiros especialistas no desenho da fortificação, pagos a peso de ouro pela diplomacia de D. João IV, evidenciam um ponto de inflexão que se coloca aos Habsburgo com caráter definitivo. Minho faz parte, como a fronteira toda, de um novo replanteamento de natureza europeia que iria influenciar os séculos seguintes.
A guerra de Aclamação ou da Restauração será, aliás, um palco absoluto para a prática 'lusitânica' da guerra e da fortificação, ao dizer de 'Paulo Pereira', indicando acertadamente que 'O cartesianismo trazido por insignes mestres de fortificação durante o século XVII haveria de marcar o pensamento dos portugueses, que abandonavam os esquemas italianizantes para adotarem o "geometrismo" duro e radical dos holandeses e dos franceses, retomando sistemas como as grandes cavas, as obras exteriores, projetando as defesas (baluartes, revelins, taludes) para o exterior da povoação a fortificar mediante sistemas compactos, angulosos e perpendiculares'. Um novo paradigma abria-se perante a incredulidade dos espanhóis, obrigados a aceitar a incontornável fronteira lusa, exemplo aliás exportável noutros cenários europeus. Esse pormenor será a 'nuance' ou 'subtileza' portuguesa que instituiu duas linhas de 'pre-carré' vaubaniano no Alentejo mais exposto, mais vulnerável. Acrescenta Paulo Pereira: 'Isto reflecte, igualmente, a revolução da artilharia pesada, que passa a possuir um alcance maior e um preço muito mais acessível, multiplicando-se as bocas e os ritmos de disparo, bem como a entrada em cena das carabinas e dos bacamartes. Entretanto, a própria hierarquização e organização das tropas e a sua disposição no terreno obedeciam já no século XVII a uma visão "barroca", deslocando-se mediante esquemas que pre sumem uma coreografia e um movimento que verte de uma "etiqueta" militar'.
Tratamento unívoco da realidade portuguesa nota-se à partida nas referências de Paulo Pereira: 'O período da guerra assiste, portanto, a uma gradual atualização e modernização das fortalezas de fronteira marítima e terrestre, segundo os novos sistemas introduzidos pelas técnicas francesas e holandesas, sendo particularmente significativos para a defesa do reino os dispositivos "estrelados" montados em Estremoz, Vila Viçosa, Olivença ou Campo Maior, salientando-se de entre todas a espeta cular praça estrelada regular de Almeida, bem como a grandiosa praça-forte de Valença do Minho (1661). Papel de particular destaque devido à sua concentração e inter-relacionamento estrutural foi o desempenhado pelas chamadas Linhas de Elvas, desenhadas por Cosmander e Gilot'.
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