PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(195ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
O 'Caminho Português da Via da Prata' é uma alternativa imemorável, surgida da tradicional 'Vía de la Plata', que nasce em Zamora e percorre as terras de Muelas, Alba, Aliste e Tras-Os-Montes em direção a Compostela. Articulada em oito etapas, constitui um complemento paralelo e inegável do 'Camiño Sanabrés' (ou 'Camiño Mozárabe'), bem mais potenciado turisticamente da parte da Xunta, designadamente no troço Ourense-mosteiro de Oseira. Xunta galega incorpora nesta 'Vía da Prata' todo o tipo de recursos (alguns deles francamente ridículos, com a presença de 'influencers' e famosos). Isto não acontece do lado português por duas razões: um caminho carregado de tradição e espiritualidade não o precisa e, do lado galego, andam necessitados prontamente de uma reflutuação do dito caminho ourensan. Em 2021, o 'Camiño Mozárabe-Vía da Prata' somava somente 4.046 peregrinos, apenas um 2,26 % de todos aqueles que realizaram algumas das vias para Santiago, sendo este um dado exponencial.
'Caminho Português da Via da Prata' parte de Zamora (cidade do Românico) e entre romarias tradicionais e hermidas ou igrejas monumentais, em Valderrey ou La Hiniesta, chega, por Almendra e Valdeperdices, à visigótica igreja de San Pedro de la Nave, salvada das águas do Ricobayo no seu novo emprazamento. Logo após atravessar Muelas del Pan e Ricobayo o percurso bifurca-se, indo apartir das Encruzadas ou para Villaflor/ Villanueva de los Corchos/ Videmala/ Castillo de Alba e Samir de los Caños, ou para Cerezal de Aliste/ Bermillo de Alba e Fonfría. Este duplo roteiro está regado de arquitetura tradicional, de casas sem arquiteto, obras anónimas do povo sem maiores pretensões, verdadeira manifestação da arte popular. Além disso, salientar o sistema de delimitações próprio, a base de 'cortinas' em granito ou 'fincões' em xisto. Terra de Verracos, de ungulados trabalhados também em granito e de Castros numa linha continua até Portugal, conformando e validando uma cultura ancestral e comum. Estas manifestações todas são nexo de união que esquece fronteiras e engrandece este Caminho.
Uma terceira etapa passa por Ceadea, Arcillera e Vivinera (boa olaria tradicional) para chegar por Alcañices (vila do Tratado) à última etapa antes de entrarmos em território português. Assim, sucedem-se Sejas de Aliste, Trabazos (Travassos, antigamente), San Martín del Pedroso, a Ponte Internacional e finalmente Quintanilha. Uma sucessão de pontes medievais, de museus, de arquitetura vernacular, salpicam este roteiro já desde Quintanilha: Réfega, Palácios, Babe, Gimonde até chegarmos ao ponto final desta V etapa em Bragança. Numa VI etapa desde Bragança, com variado património patente, atingimos o mosteiro de Avelãs (arquitetura do tijolo que lembra o 'mudéjar' espanhol) e entroncando com Lagomar, Portela, Castrelos, Soeira, Vila Verde e Vinhais perfazemos esta etapa com as mesmas manifestações de arte no caminho para Santiago. Sublinhe-se que a componente paisagista também participa destas etapas do 'Caminho Português da Via da Prata'. Na VII etapa, portuguesa em cheio, temos esse roteiro que une Vinhais com Segirei: Soutelo, Sobreiro, Aboa, Candedo, Edral, Sandim e Segirei, com iguais hermidas, fontes chafurdas ou de mergulho, capelas e romarias. Apartir de Segirei entra-se em território galego, concretizando-se esta passagem lusa da Via da Prata geral, que deve ser lembrada e que revela sem réstia de dúvida a versatilidade dos caminhos portugueses para Santiago.
Última etapa, a VIII°, é plenamente galega e percorre desde Portugal uma considerável distância (que indica, aliás, a sua protelação). Assim, desde Vilardevós, Verín ou Monterrey, passando por Xinzo de Limia, Sandiás, Allariz chegamos à capital Ourense, união de caminhos que vão parar em San Cristovo de Cea, Oseira, Lalín, Silleda, Ponte Ulla, Pico Sacro e finalmente Santiago. Um fértil caminho jacobeu, monacal por demais, que resta argumentos aos senhores de Oia. Fazer uma comparativa entre o mosteiro de Oseira, por exemplo, e o que se pretende materializar no mosteiro de Oia é suficientemente revelador da FRIVOLIDADE EXPRESSA em que nos movimentamos.
(Continuará)
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