4 de abr. de 2022

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(195ª parte)    



  'Caminho Português da Via da Prata'


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia   

 O  'Caminho  Português  da  Via  da  Prata'  é  uma  alternativa  imemorável,  surgida  da  tradicional  'Vía  de  la  Plata',  que  nasce  em  Zamora  e  percorre  as  terras  de  Muelas,  Alba,  Aliste  e  Tras-Os-Montes  em  direção  a  Compostela.  Articulada  em  oito  etapas,  constitui  um  complemento  paralelo  e  inegável  do  'Camiño  Sanabrés'  (ou  'Camiño  Mozárabe'),  bem  mais  potenciado  turisticamente  da  parte  da  Xunta,  designadamente  no  troço  Ourense-mosteiro  de  Oseira.  Xunta  galega  incorpora  nesta   'Vía  da  Prata'  todo  o  tipo  de  recursos  (alguns  deles  francamente  ridículos,  com  a  presença  de  'influencers'  e  famosos).  Isto  não  acontece  do  lado  português  por  duas  razões:  um  caminho  carregado  de  tradição  e  espiritualidade  não  o  precisa  e,  do  lado  galego,  andam  necessitados  prontamente  de  uma  reflutuação  do  dito  caminho  ourensan.  Em  2021,  o  'Camiño  Mozárabe-Vía  da  Prata'  somava  somente  4.046  peregrinos,  apenas  um  2,26  %  de   todos  aqueles  que  realizaram  algumas  das  vias  para  Santiago,  sendo  este  um  dado  exponencial.      

 'Caminho  Português  da  Via  da  Prata'  parte  de  Zamora  (cidade  do  Românico)  e  entre  romarias  tradicionais  e  hermidas  ou  igrejas   monumentais,  em  Valderrey  ou  La  Hiniesta,  chega,  por  Almendra  e  Valdeperdices,  à  visigótica  igreja  de  San  Pedro  de  la  Nave,  salvada  das  águas  do  Ricobayo  no  seu  novo  emprazamento.  Logo  após  atravessar  Muelas  del  Pan  e  Ricobayo  o  percurso  bifurca-se,  indo  apartir  das  Encruzadas  ou  para  Villaflor/ Villanueva  de  los  Corchos/ Videmala/ Castillo  de  Alba  e  Samir  de  los  Caños,  ou  para  Cerezal  de  Aliste/  Bermillo  de   Alba  e  Fonfría.  Este  duplo  roteiro  está  regado  de  arquitetura  tradicional,  de  casas  sem  arquiteto,  obras  anónimas  do  povo  sem  maiores  pretensões,  verdadeira  manifestação  da   arte  popular.  Além  disso,  salientar  o  sistema  de  delimitações  próprio,  a base  de  'cortinas'  em  granito  ou  'fincões'  em  xisto.  Terra  de  Verracos,  de  ungulados  trabalhados  também  em  granito  e  de  Castros  numa  linha  continua  até  Portugal,  conformando  e  validando  uma  cultura  ancestral  e  comum.  Estas  manifestações  todas  são  nexo  de  união  que  esquece  fronteiras  e  engrandece  este  Caminho.    




 Uma  terceira  etapa  passa  por  Ceadea,  Arcillera  e  Vivinera  (boa  olaria  tradicional)  para  chegar  por  Alcañices  (vila  do  Tratado)  à  última  etapa  antes  de  entrarmos  em  território  português.  Assim,  sucedem-se  Sejas  de  Aliste,  Trabazos  (Travassos,  antigamente),  San  Martín  del  Pedroso,  a  Ponte  Internacional  e  finalmente  Quintanilha.  Uma  sucessão  de  pontes  medievais,  de  museus,  de  arquitetura  vernacular,  salpicam  este  roteiro  já  desde  Quintanilha:  Réfega,  Palácios,  Babe,  Gimonde  até  chegarmos  ao  ponto  final  desta  V  etapa  em  Bragança.  Numa  VI  etapa  desde  Bragança,  com  variado  património  patente,  atingimos  o  mosteiro  de  Avelãs  (arquitetura  do  tijolo  que  lembra  o  'mudéjar'  espanhol)  e  entroncando  com  Lagomar,  Portela,  Castrelos,  Soeira,  Vila  Verde  e  Vinhais  perfazemos  esta  etapa  com  as  mesmas  manifestações  de  arte  no  caminho  para  Santiago.  Sublinhe-se  que  a  componente  paisagista  também  participa  destas  etapas  do  'Caminho  Português  da  Via  da  Prata'.  Na  VII  etapa,  portuguesa  em  cheio,  temos  esse  roteiro  que  une  Vinhais  com  Segirei:  Soutelo,  Sobreiro,  Aboa,  Candedo,  Edral,  Sandim  e  Segirei,  com  iguais  hermidas,  fontes  chafurdas  ou  de  mergulho,  capelas  e  romarias.  Apartir  de  Segirei  entra-se  em  território  galego,  concretizando-se  esta  passagem  lusa  da  Via  da  Prata  geral,  que  deve  ser  lembrada  e  que  revela  sem  réstia  de  dúvida  a  versatilidade  dos  caminhos  portugueses  para  Santiago.    

 Última  etapa,  a  VIII°,  é  plenamente  galega  e  percorre  desde  Portugal  uma  considerável  distância  (que  indica,  aliás,  a  sua  protelação).  Assim,  desde  Vilardevós,  Verín  ou  Monterrey,  passando  por  Xinzo  de  Limia,  Sandiás,  Allariz  chegamos  à  capital  Ourense,  união  de  caminhos  que  vão  parar  em  San  Cristovo  de  Cea,  Oseira,  Lalín,   Silleda,  Ponte  Ulla,  Pico  Sacro  e  finalmente  Santiago.  Um  fértil  caminho  jacobeu,  monacal  por  demais,  que  resta  argumentos  aos  senhores  de  Oia.  Fazer  uma  comparativa  entre  o  mosteiro  de  Oseira,  por  exemplo,  e  o  que  se  pretende  materializar  no  mosteiro  de  Oia  é  suficientemente  revelador  da  FRIVOLIDADE  EXPRESSA  em  que  nos  movimentamos.  

 (Continuará)

 Artigo precedente.              

Ningún comentario:

Publicar un comentario