10 de set. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 
(108ª parte)     




ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia

 Com data de 22 de fevereiro de 2020, "La Voz de Galicia" entrevistava ao diretor geral da "RMO", Xoán Martínez Reboredo, conferindo-se más uma vez o relato unidirecional de uma consignatária perante o que viria acontecer vinte días depois, muito embora se soubesse dos pormenores com  grande antecedência. Força dos factos criava aos poucos e poucos o advento dos piores presságios, tudo no meio de um discurso empreendedorista que já não tinha cabimento face a ditadura do bichinho. Reformular pretensões e objectivos seria um salutar exercício da parte de uma "RMO" que acorria impotente ao afundamento de um projeto convencional turistificador nas Rías Baixas. Era urgente fazer uma "nova maquete" da obra; porém, em troca, oferecia-se mais economicismo, mais visão de "resultados" e mais fechamento. Muito se tem dito do mosteiro estes últimos anos; uns mantêm fidelidade às origens, preferindo não se alinhar nesse "ser do contra". Outros, querem ir mais além, invocando um contencioso paisagista que, de ser erguida a urbanização, despoletará a caixa de Pandora posterior. Ainda haverá quem invoque os benefícios do emprego decorrentes deste investimento citadino... Em resumo, temos atores do  mais variado leque (sim?) a darem a sua palavrinha no assunto. Pra já, direta ou indiretamente, puseram a andar a maquinaria dos calendários ("RMO" vaticina dois ou dois anos e meio de tramitação administrativa, mais outros dois ou três de reabilitação). Lembramos que esta entrevista foi realizada días antes de decretada uma pandemia; obviamente, a situação já não é a mesma. Gratuitidade das afirmações foi acompanhada da imagem publicitária do "ganhador" Martínez Reboredo, um homem de sucesso aos olhos dos bajulados universais que por Oia campeiam. Mas não se trata disso, visto que quem perde somos todos nós face à perturbação que se quer introduzir naquela ambiência concreta monacal. 




 Definitivamente, esses vetores da "RMO" (logística/transporte, inovação e desenvolvimento do património) não batem certo se o que se pretende é afirmar o primado da lei e a paisagem. Dito de outra maneira: Xunta galega estabeleceu desde o ano 2016 umas disposições legais abertamente balançadas a favor dos grupos empresariais que sonham com o restabelecimento do tijolo na costa. As constantes paisagistas não são brincadeira nenhuma, dado tratar-se de SALVAR UMA ENVOLVENTE JÁ FERIDA. Passa-se de PAISAGEM JÁ FRAGILIZADA A PAISAGEM AINDA POR FRAGILIZAR MAIS: a ninguém se lhe escapa um pormenor qual é o holograma utilizado como reclame pela "RMO" onde somente focalizam interesseiramente  um território projetado (vilas turísticas, pantalha vegetal urbanoide do Lavandeira e, ao fundo, o mosteiro). Da mesma maneira, na dita memória de sustentabilidade aparece a cores a futura transformação de um espaço propositadamente escolhido para varrer toda pré-existência territorial. Explicando mais em detalhe: se alguém necessitar dessa espacialidade primigénia do mosteiro serão os moradores próximos do cenóbio não incluidos no projeto dos Martínez. Daí estes falarem de "acoplamento físico às moradias das redondezas" (quando isso esconde muito em primeiro lugar uma EXCLUSÃO, para seguir com o consequente ADENSAMENTO, METÁSTASE e AFUNILAMENTO na zona da Riña). Esses adensamentos nunca acompanharam respeito pela paisagem original, nem próxima, nem geral. Em suma, efeito de CONSTRANGIMENTO urbano e de escolha propositada de cota altimétrica em paralelo. Fazem-se de sonsos sabendo sobejamente estas realidades:

        Que compraram ao desbarato terrenos sabendo muito bem o que faziam.

         Que desde a linha de flutuação marinha poder-se-á conferir um empreendimento manifestamente ilegal desde as constantes topográficas, paisagistas e de distância ao mosteiro. 

        Ausência de contrapontos, de um contradictório que envolva atores legitimados. Não se dispõe, aliás, de um historial, de fatores prévios, de uma pré-análise do caso.

       Está claro que o Conselho Asessor da Paisagem (artigo 46 do Regulamento da Lei de Proteção da Paisagem) é limitante e imprestável.

 O comúm dos arquitetos sabe de cor que as promoções urbanas  costeiras deviam era desaparecer. Desenham-se, prévio pagamento, memorias descritivas, de sustentabilidade condicionadas todas pelo mesmo método cansativo,  pelo mesmo patrão. A cantiga é muito velha e faz falta uma nova AFERIÇÃO no caso de Oia. Apregoa-se alegremente uma linguagem mercantilista que protela a sustentabilidade paisagista de mínimos. Podemos referir termos como POLUIÇÃO URBANA, POLUIÇÃO CONTRATUAL DA  PAISAGEM (atores políticos e sociais envolvidos) ou URBANISMO SAZONAL DE COLONATO ou METROPOLITANO. Mais ainda, é obvio que postular uma expropriação forçada  de um mosteiro sem lhe dar uma continuidade e argumentação tem sido um descuramento a todos os níveis. "SOS Mosteiro" tem de sair rapidamente da armadilha em que pôde eventualmente envolver-se sem querê-lo, reagindo atempadamente perante os falsos amigos do passado. Não tem assunto nenhum cacarejar uma expropriação para logo dar o dito por não dito, como tem acontecido fora e dentro do Concelho de Oia.

 Artigo precedente.

Ningún comentario:

Publicar un comentario