CINEMA
Sexta-feira, 20/08 Boletim da Sessão nº 458 - "Morte em Veneza" de Luchino Visconti (1971)
Sexta-feira, 20 de agosto às 21:45 no Teatro Valadares
Locus Cinemae / Caminha
“Difícil escrever sobre o imponderável, acerca do que não tem medida. O que Luchino Visconti realizou não foi um filme, foi um milagre. Poucas vezes um filme ousou se aproximar tanto de um universo literário, sem abrir mão de construir sua identidade cinematográfica, quanto Morte em Veneza (Morte a Venezia, 1971).
Toda a transposição do livro de Thomas Mann foi concebida visualmente pelo diretor italiano, sem trair ou adulterar o espírito da obra. É a maneira como a busca da forma e da beleza perfeita é conduzida, bem como a própria função da arte, questões levantadas por um regente em crise emocional e estética, numa Veneza que aos poucos vai perdendo a sua condição paradisíaca para se tornar uma cidade envolta em nevoeiro e medo, em becos sinistros e ruelas, longe da Veneza dos postais.
Quando Gustav von Aschenbach (o personagem de Dirk Bogarde) encontra o jovem que representa esse ideal de beleza, o conceito superior de harmonia, e deseja tocá-lo, não significa uma erotização, uma tendência sexual. A figura de Tadzio, de traços andróginos e ainda em formação, é a representação de uma pureza perdida, a manifestação terrena de um ideal estético que Aschenbach sempre perseguiu e que acreditava poder atingir trabalhando arduamente durante anos no cultivo de sua obra artística. A própria cena em que o maestro encontra o rapaz pela primeira vez, em seu primeiro jantar no salão do hotel, é uma lição de cinema, lembrando que Morte em Veneza é a adaptação de uma obra-prima literária, só que materializada em imagens, escapando da mera transposição da escrita de Mann para a tela grande e da tirania dos diálogos (que são bem poucos no filme, a maioria nos flashbacks). Na sequência, ouvem-se ruídos no ambiente, mas nenhum diálogo perceptível ou que não seja passageiro. A câmara se desloca num travelling (representando o ponto de vista do personagem de Bogarde), observa cada um dos grupos ali reunidos, alcança a figura de Tadzio, passa por ele, mas como uma atracção irresistível, volta e se fixa nele. Pronto! O artista encontrou a forma perfeita, a resposta a todas as dúvidas, naquele ideal de beleza e juventude. Nesse momento ele cava a sua perdição. É preciso ter aquilo para si, para entender o mundo e superar a crise que o assola.”
Vlademir Lazo, http://www.cineplayers.com/critica.php?id=1999
FICHA TÉCNICA:
Título original: Morte a Venezia, 1971, Itália
Estúdio: Alfa Cinematografica
Realização: Luchino Visconti
Argumento: Nicola Badalucco e Luchino Visconti, baseado em livro de Thomas Mann
Produção: Luchino Visconti
Música (não original): Gustav Mahler (Adagietto – 5ª Sinfonia), Franz Lehár, Ludwig van Beethoven
Fotografia: Pasqualino De Santis
Direcção Artística: Ferdinando Scarfiotti
Guarda-roupa: Piero Tosi
Montagem: Ruggero Mastroianni Duração: 130 minutos
FICHA ARTÍSTICA:
Dirk Bogarde …. Gustav von Aschenbach
Romolo Valli …. gerente do hotel
Mark Burns …. Alfred
Nora Ricci …. governanta
Marisa Berenson ….Frau von Aschenbach
Carole André …. Esmeralda
Björn Andresen …. Tadzio
Silvana Mangano …. mãe de Tadzio
Leslie French …. agente de viagens
Franco Fabrizi …. barbeiro
Ciclo Play It Again
20 de agosto, “Morte em Veneza”, Luchino Visconti, Itália / França , 1971, Sessão 458 (M/18)
27 de agosto, “The Goat” e “The Blacksmith”, Buster Keaton, EUA, 1921 e 1922, Sessão 459* (M/6)
*Cinema Concerto
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