17 de xul. de 2021

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia  

(158ª parte)   


Símbolos beneditinos em Poio


ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia  

 Mosteiro  de  Poio,  beneditino  e  mercedário,  inserido  numa  envolvência  paisagista  que  admira  mas  acautela,  colocando  interrogantes  e  incertezas  baseadas  em  dados,  deve  ser  digno  de  nota.  Assim  sendo,  Poio  está  no  corredor  da  Alta  Densidade  Turística  (ADT)  cujo  eixo  local  é  Pontevedra/ Sanxenxo/  Portonovo,  um  corredor  antropizado  até  mais  não  e  exemplo  nada  salutar  de  incoerência  paisagista  (facto  reforçado,  aliás,  pela  situação  ainda  não  resolvida  da  'Ence-Elnosa',  pela  desarrumação  de  todo  um  território  e  pela  lógica  perversa  de  uma  turistificação  tresloucada).  Portas  afora,  este  mosteiro  tem  a  sua  fama  e  proveito,  um  'land'  delimitado  (cujos  rebordos  são  às  vezes  ponteados  por  'chalets  e  piscinas'),  mas  em  simultâneo,  um  erro  bombástico  na  planta  geral  que  quere  misturar  os  claustros  genuinos,  do  Cruzeiro  e  das  Procissões  -  barroco  e  renasçenca  respetivamente -  do  lado  do  Evangelho,  com  uma  hospedaria  do  século  XX  francamente  feia  e  de  proporções  anti-escala  visíveis  e  conferíveis.  Conformismo  visual  resultante  é  sempre  isso:  as  asneiras  são  perdoadas ...;  parece  contar  um  volume  geral  desenquadrado  em  perspetiva  e  a  imponência  (volume  à  bruta)  como  regra  face  uma  ría  com  evidentes  disfarces  "paisagistas".  Aquilo  que  a  vegetação  esparsa  ou  concentrada  esconde,  invisibiliza,  serve  de  álibi  perfeito  para  os  mais.  Condicionantes  da  ocupação  humana  estão  sempre  presentes  e  sempre  safam-se…,  sendo  uma  questão  de  hábitos.   

 

Pedro de Nolasco e simbologia mercedária


 Um  mosteiro,  vía  de  regra,  tem  que  apresentar  um  isolamento  espacial,  não  uma  invulgar  e  ordinária  mistura  (acumulada  no  passar  do  tempo).  Poio  tem  coisas  boas  e  más,  estando  o  mosteiro  inserido  num  meio  extremamente  antropizado.  Fachada  do  mosteiro  tem  representação  afigurada  de  São  Bento,  e  dois  escudos:  da  ordem  e  da  congregação  de  Valladolid.  Este  mosteiro  foi  centro  de  um  colégio  maior  de  teologia  aquando  Carlos  V,  conserva  uma  biblioteca  de  uns  80.000  exemplares,  mantém  uma  atividade  centrada  em  jornadas,  congressos  e  eventos,  sendo  que  dispõe  duma  tradicional  escola  de  canto  e  doutras  dois  de  mosaicos  e  de  canteiros.  Advocação  de  São  João  Baptista  está  presente  no  frontal  da  igreja,  com  destaque  volumétrico  para  dois  pares  de  colunas  dóricas  em  baixo  e  outros  dois  pares  coríntios  no  mais  alto;  de  resto,  Poio  não  oferece  nem  a  elegância  de  Samos  (classicismo  da  fachada  do  templo  trava  um  presumível  barroquismo;  um  frontal  elegante,  de  bom  aparato  e  distribuição  de  elementos,  unificados  aliás  com  ardósias  irregulares  no  telhado,  visto  não  existirem  em  Samos  as  duas  torres;  de  resto,  a  escadaria  em  baixo  reflecte  um  ascenso  compensador.  Da  sua  vez,  Monfero  ou  Sobrado  pouco  têm  a  ver  com  Poio;  o  esquema  colossalista  de  ambos  colide  com  uma  verticalidade  poiense  que  se  aproxima  do  barroco  compostelano,  matizado  tudo  por  duvidoso  acréscimo  na  parte  mercedária  da  hospedaria).  Como  particular,  salientar  um  espigueiro  longo  de  123  m2  quadrados  a  competir  com  o  de  Carnota. 

  


 

 A  ordem  mercedária,  nascida  em  Barcelona  sob  impulso  de  São  Pedro  Nolasco  (Pere  Nolasc)  e  Ramon  de  Peñafort  (Raimon  de  Penyafort)  em  1218,  com  o  suporte  de  Jaime  I  (Jaume  Primé  o  Conqueridor),  representa  uma  ascendência  catalã  e  aragonesa  no  advir  das  ordens  religiosas  em  territórios  hispanos.  Relativamente  à  área  histórica  castelhana  temos  a  igreja  e  convento  das  Mercedárias  Descalças  (as  Góngoras) em  Madrid,  junto  do  Convento  de  Mães  Mercedárias  de  D.  Juan  de  Alarcón.  Mais  interessante  seria  elencar  o  convento  da  Mercê,  em  Sarria;  convento  e  colégio  Tirso  de  Molina,  em  Ferrol;  paróquia  Nossa  Senhora  da  Mercê,  em  Conxo;  noviciado,  em  Verín.  Com  maior  abrangência,  citaremos  outros  centros  da  ordem:  basílica  e  paróquia,  em  Jerez  de  los  Caballeros;  colégio  maior  da  Veracruz,  em  Salamanca;  rectoral  e  capelania,  em  Sevilla;  convento  das  Mercês,  em  Valdunquillo  (Valladolid).  Na  área  aragonesa  é  obrigatório  fazer  menção  do  mosteiro  do  Olivar,  em  Teruel;  mosteiro  de  San  Raimon,  em  Lérida  (Lleida)  e  mosteiro  de  Santa  María  del  Pui,  em  Valencia  (València).  Berço  disto  tudo  será  a  basílica  das  Mercês  de  Barcelona.  A  organização  destes  mercedários  distribue-se  em  9  províncias:  Aragão,  Castela,  Perú,  Chile,  Argentina,  Ecuador,  México  e  Brasil.  Dispõe,  aliás,  de  5  vicarias:  Venezuela,  América  Central,  Caraíbas  e  Estados  Unidos. 

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