PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(149ª parte)
Fecho do mosteiro todo, repentino e arbitrário da parte da Xunta, privou visitantes do direito à livre deslocação (com ou sem medidas de distanciamento). Isso favoreceu um espírito misto, presente quer em turistas, quer nos próprios monges, que em nada ajudou à investigação independente. A perspetiva dum barroco nobilitado, de calculada elegância na cúpula do cruzeiro, abonou essas impressões decorrentes de uma iluminação que já era conhecida pelos seus efeitos de menor peso e ligeireza. Graças a luz, essa leveza entrava na abóbada, cruzeiro e cúpula maior. Costuma-se argumentar o jogo trançado de arquitetura, escultura e pintura de molde a adensar os efeitos do barroco clássico (valido para escenificar visualmente as pretensões da Contra-reforma, num exemplo expresso), mas cá em Sobrado esse efeito sumiu, dando passo a uma não prevista contenção do tumultuoso barroco convencional. Sendo barroco, com efeito, ficava o interior do templo atemperado e sereno. A luz fazia todo o trabalho de acomodação de antigos volumes e esquadrias, ou partes estruturais, por forma a acomodá-los às novas exigências de superfície face ao Renascimento e Barroco. Tal era o mérito de um Císter que, irremediavelmente, se adaptava.
Resultante disso aliviavam-se partes altas da dita abóbada e do cruzeiro com a mesma recorrência à luz. Longe estava o modo do churrigueira compostelán, mais longe ainda qualquer réstia do rocaille. Trata-se de um barroco perfeitamente classicista, embora isto não se possa compreender à primeira. Também em Monfero, as suas naves facilitam uma interpretação serena desse barroco matizado mas bem presente; classicismo luta nos dois casos com aquilo que se pretendia deste novo estilo, ou antes bem, ganha um terreno insuspeito de afirmação deles. Barroco pleno e ao mesmo tempo atemperado por causa de uma luz calculista. A conclusão a tirar disto tudo é aquela que expressa a desnecessidade do ornato constituir carga e sim complemento; linhas classicistas caminham mais além, sendo retribuidas por motivos geométricos, bolbosidades, mais cachos de uvas, arrostados, escudos das ordens militares na abóbada e outros imperiais e do Sobrado, que colmatam nas pechinas, servindo de conduto para essa luminosidade perfazer um efeito aligeirante. Em Sobrado, a planta de cruz latina separa o coro cabeceiro do resto, com vãos convencionais, onde lunetos e duplos pilares aproveitam o comprimento já existente para dar acónchego à cúpula. Fachada do templo e esta cúpula são da autoria de Pedro de Monteagudo, sendo que Domingo de Andrade culmina a cúpula do Rosário. De salientar nesta, o particular do jogo cénico 'planos vazíos/planos ocupados', numa alternância de quatro/ cheio (4- tudo) nas fiadas ascentes. Podem imaginar cómo planos isentos de plantas anteriores, ou livres de servidões românicas e post-românicas, reagiriam às turbulências posteriores, quer do gótico assentado, quer da renascença e o inicial barroco? É mesmo complicado meter num mesmo saco estilos de diferente superfície e conceito. Císter, no entanto, soube-se adatar.
(Continuará)
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