24 de maio de 2021

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia 

(149ª parte)     



ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia     

 Fecho  do  mosteiro  todo,  repentino  e  arbitrário  da  parte  da  Xunta,  privou  visitantes  do  direito  à  livre  deslocação  (com  ou  sem  medidas  de  distanciamento).  Isso  favoreceu  um  espírito  misto,  presente  quer  em  turistas,  quer  nos  próprios  monges,  que  em  nada  ajudou  à  investigação  independente.  A  perspetiva  dum   barroco  nobilitado,  de  calculada  elegância  na  cúpula  do  cruzeiro,  abonou  essas  impressões  decorrentes  de  uma    iluminação  que  já  era  conhecida  pelos  seus  efeitos  de  menor  peso  e  ligeireza.  Graças  a  luz,  essa  leveza  entrava  na  abóbada,  cruzeiro  e  cúpula  maior.  Costuma-se  argumentar  o  jogo  trançado  de  arquitetura,  escultura  e  pintura  de  molde  a  adensar  os  efeitos  do  barroco  clássico  (valido  para  escenificar  visualmente  as  pretensões  da  Contra-reforma,  num  exemplo  expresso),  mas  cá  em  Sobrado  esse  efeito  sumiu,  dando  passo  a  uma  não  prevista  contenção  do  tumultuoso  barroco  convencional.  Sendo  barroco,  com  efeito,  ficava  o  interior  do  templo  atemperado  e  sereno.  A  luz  fazia  todo  o  trabalho  de  acomodação  de  antigos  volumes  e  esquadrias,  ou  partes  estruturais,  por  forma  a  acomodá-los  às  novas  exigências  de  superfície  face  ao  Renascimento  e  Barroco.  Tal  era  o  mérito  de  um  Císter  que,  irremediavelmente,  se  adaptava. 

 


  

 Resultante  disso  aliviavam-se  partes  altas  da  dita  abóbada  e  do  cruzeiro  com  a  mesma  recorrência  à  luz.  Longe  estava  o  modo  do  churrigueira  compostelán,  mais  longe  ainda  qualquer  réstia  do  rocaille.   Trata-se  de  um  barroco  perfeitamente  classicista,  embora  isto  não  se  possa  compreender  à  primeira.  Também  em  Monfero,  as  suas  naves  facilitam  uma  interpretação  serena  desse  barroco  matizado  mas  bem  presente;  classicismo  luta  nos  dois  casos  com  aquilo  que  se  pretendia  deste  novo  estilo,  ou  antes  bem,  ganha  um  terreno  insuspeito  de  afirmação  deles.  Barroco  pleno  e  ao  mesmo  tempo  atemperado  por  causa  de  uma  luz  calculista.  A  conclusão  a  tirar  disto  tudo  é  aquela  que  expressa  a  desnecessidade  do  ornato  constituir  carga  e  sim  complemento;  linhas  classicistas  caminham  mais  além,  sendo  retribuidas  por  motivos  geométricos,  bolbosidades,  mais  cachos  de  uvas,  arrostados,  escudos  das  ordens  militares  na  abóbada  e  outros  imperiais  e  do  Sobrado,  que  colmatam  nas  pechinas,  servindo  de  conduto  para  essa  luminosidade  perfazer  um  efeito  aligeirante.  Em  Sobrado,  a  planta  de  cruz  latina  separa  o  coro  cabeceiro  do  resto,  com  vãos  convencionais,  onde  lunetos  e  duplos  pilares  aproveitam  o  comprimento  já  existente  para  dar  acónchego  à  cúpula.  Fachada  do  templo  e  esta  cúpula  são  da  autoria  de  Pedro  de  Monteagudo,  sendo  que  Domingo  de  Andrade  culmina  a  cúpula  do  Rosário.  De  salientar  nesta,  o  particular  do  jogo  cénico  'planos  vazíos/planos  ocupados',  numa  alternância  de  quatro/  cheio   (4-  tudo)  nas  fiadas  ascentes.  Podem  imaginar  cómo  planos  isentos  de  plantas  anteriores,  ou  livres  de  servidões  românicas  e  post-românicas,  reagiriam  às  turbulências  posteriores,  quer  do  gótico  assentado,  quer  da  renascença  e  o  inicial  barroco?  É  mesmo  complicado  meter  num  mesmo  saco  estilos  de  diferente  superfície  e  conceito.  Císter,  no  entanto,  soube-se  adatar.    

(Continuará)  

Artigo precedente.

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