27 de ago. de 2020

OIA

PATRIMÓNIO

Considerações paisagistas em Oia
(106ª parte) 
 

ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia

 Propriedade privada do mosteiro de Oia é uma APROPRIAÇÃO que impede o desenvolver oficial de um Bem de Interesse Cultural com todas as garantias. Eis o quid da questão; isto sabe-se,  isto é admitido e atua-se com absoluta incoerência a todos os níveis. Não haverá correlato com aquele ditado de "a propriedade é um roubo", antes bem ligar-se-á ao direito que tem todo monumento a um historial concreto de hipóteses de restauro e de isenção espacial, ou seja, um mínimo compêndio preservador que acautele a verdadeira propriedade deste bem cisterciense: território, herança e paisagem. Os Martínez não têm em conta este considerando e portanto a sua atitude está longe de ser verdadeiramente patrimonialista, tecendo aliás planos de acompanhamento do CEG (Círculo de Empresários de Galicia) na rua viguesa de García Barbón. Desde 1931 este mosteiro anda no meio de nada e na indefinição, sendo vítima propiciatória dos altos e baixos de grupos de atores que só andam a procura de uma ganância palpável. Quantos candidatos já teve o nosso atribulado mosteiro? Será esse o pensamento que garanta, caso não haver rendabilidade económica, a futura ruina deste mosteiro? Meteram na nossa cabecinha a ideia errada de que tudo é negócio na vida e assim vai o mundo. É um problema de hábitos e uma questão que compete resolver a toda pessoa interessada na manutenção de este mosteiro sem aditivos, sem remendos; alteração das pre-existências neste caso constitui uma falta grave passível de ser punida conforme a leis passadas e presentes. Não se metam nessa alhada e não arranjem um trinta e um!, muito embora tenham algúm tipo de complacência da parte da Xunta galega. Deixem em paz o riacho Lavandeira, abandonem a ideia de jardins urbanoides na envolvente, parem com o fecho dos Laranjais e límitem-se a respeitar um monumento que não merece esta instrumentalização tão grosseira. Parte final desta aventura, a urbanização costeira, nem merece comentário. Contudo, interessa comprovar o grau de acolhimento que terá tido este macro-plano nos bastidores do CEG (há também detratores, muito embora os menos). Quê aceitação lhe poderá esperar nas interioridades da Carta Europeia do Císter?.  Com atitude cirúrgica "ACIGAL" parece não querer  ter entroncamento lógico com outras dependências monacais de Leão ou Portugal, à  vista da tendência marcada por uma "RMO" ensimesmada com um projeto turístico de excesso. Alusão à Congregação Cisterciense de Castela é só um sintoma constatável de que "RMO" quer fazer a jogada sozinha, à maneira dela. Na sua total endogamia quer concretizar uma obra que desrespeita atê mais não a integridade física e o espaço íntimo de um mosteiro negligenciado em todas as suas vertentes. Na origem disto tudo estará uma parca aplicação da Lei 8/1995, de 30 de outubro, do Património Cultural de Galiza e outra Lei 5/2016, de 4 de mayo, de Património Cultural de Galiza, marcadas pela crise económica de 2008 e focalizadas a primeira em aplicar o meio gás a tudo e a segunda em recuperar um tempo perdido para o tijolo na costa  galega. 



 Voltando à Congregação de Castela, sublinhar que restavam 7 mosteiros por aceitar a reforma aquando Carlos I. Montederramo adere em  519, A Franqueira em 1521, Armenteira em 1523, San Clodio e Oseira nas duas décadas seguintes, Xunqueira de Espadanedo em 1546 e Oia em 1547. Um dos vetores comuns nestas abadias será a sua simbologia identitária, o escudo da "CCC": "De azur, a la  banda de doble serie de escraques plata y gules, tres lises de oro, brazo de monje, moviéndose del flanco izquierdo, empuñando báculo abacial y una mitra, todo ello al natural". Segundo o seu autor, Fray Alberto Gómez (texto escrito há seis décadas) este escudo pode carregar: Banda ou Barra com dupla série em xadrez ou de escaques; Báculo abacial; Braço de monge com cogula ou capuz a sustentar o báculo; Mitra e até 5 flores de lys. Contabilizam-se escudos desde o ano de 1575 até 1876, adotando-se um modelo que não respondia nem a abadia-mãe de Citeaux, nem a própria ordem do Císter (Capítulo Geral da mesma). Fray Martín de Vargas segue o exemplo de San Bernardo e toma por válidas a dupla banda de escaques de prata e gules em campo de sabre. Temos 42 mosteiros masculinos da Congregação de Castela dos quais, em 32 deles, são visíveis os tais escudos: fachadas, chaves de abóbada, retábulos, órgãos, grades, estando presentes em igrejas, capelas, casas e quintas dependentes, em túmulos de abades, museus ou coleções (cerâmicas, objectos litúrgicos) e bibliotecas. A temática é bem prolixa e concerne a todo o Císter norocidental até o ponto de ser MAIS UM denominador comúm para a pesquisa que reste. Este escudo é valência preciosa que une e dignifica aos cenóbios cistercienses galegos, se dando uma interpenetração com a meseta castelhana  (Galiza dispõe de 74 escudos ao total e Castilla y León tem 57 destes) que somente reforça a universalidade do Císter. A obra do arriacense José Ignacio Rodríguez González, de 2017, é boa primícia para dar um aviso a determinados navegantes que insistem em diluir o Císter, em trucidá-lo ou em moldeá-lo à altura dos seus interesses. Ou pior, se apresentar perante o Císter europeu como uma entidade independente  até… do próprio Portugal! Não há réstia de dúvidas de que o Císter galego está machifemeado, partilhando bons e maus bocados com esse restante monacato ligado quer a São Bento, quer às ordens várias. Mosteiros masculinos e femininos ponteiam pela geografía ibérica sem distinções, sendo que tem percorrido um mesmo caminho nesse rumo histórico cisterciense. Não tem assunto nenhum "singularizar" o caso de Oia para logo lhe atar a corda no pescoço (veja-se futuro fecho dos Laranjais e urbanização), isso é recomeçar do zero e se divorciar do resto do Císter. Acaso não há ligações com o Alto Minho, com Fiães ou Ermelo? Muito embora a simbologia de Tarouca seja um exclusivo de Portugal, tal como Alcobaça, é lhes associada uma pertença internacional ao Císter inegável, como acontece com Lafões, Almaziva, Maceira Dão, Salzedas, Aguiar ou Seiça (façamos citação dos femininos de Arouca, Tabosa, Celas, Lorvão, Cós, Almoster, Cástris ou Portalegre). Faremos também menção resumida desses mosteiros ligados à Congregação Cisterciense  de Castela: os masculinos de Carracedo e Sandoval, em León; os asturianos de Villanueva Oscos  e Valdediós; os samoranos de Moreruela ou San Martín de Castañeda; os de Herrera e San Pedro de Gumiel, em Burgos; os de Matallana, La Espina, Palazuelos ou Valbuena, em Valladolid; mosteiro de Sacramenia em Segovia; mosteiro de Monsalud em Guadalajara; mosteiro de Montesión em Toledo ou mosteiro de Huerta em Soria, este último contabilizando ao total 23 escudos da Ordem de Castela (CCC). De entre os femininos destacam San Clemente de Sevilla e Toledo; Carrizo, Gradefes ou San Miguel de las Dueñas, em León; Santa Ana e San Joaquín e as Huelgas Reales, em Valladolid; Las Huelgas, em Burgos; os de San  Bernardo, em Burgos, Granada ou Alcalá de Henares; Santa Cruz e Santo Domingo, em Toledo. 

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