23 de xul. de 2020

GOIÁN (TOMIÑO)

PATRIMÓNIO

Espazo Fortaleza está a possibilitar indiretamente uma desfeita





ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Goián   

 Cientes de esta agressão urbanoide a um âmbito externo militar (tal como em Santa Cruz da Guarda) solicitamos que se atue atempadamente da parte do Concelho de Tominho. Manifestamos a premência do momento presente perante todos aqueles que sintam como próprio o dano  que se está a fazer na envolvente do Forte Novo de 1671. Responsabilizamos à concelheira de Património, Dona Fátima Rodríguez e à presidente da câmara tominhense, Dona Sandra González, pelo presumível embelezamento agressivo e artificial (alcatroado) dos antigos caminhos cobertos e glacis de San  Lourenzo. Nada justifica essa obra deturpadora. Qualquer especialista em arquitetura militar detetaria rapidamente a verdadeira dimensão desta desfeita. É chocante que não tenham surgido no Minho vozes de alerta e avisos premonitórios. Aos olhos de ICOFORT está-se acompanhando oficialmente a destruição da  exterioridade castrense de um forte de dissuasão típico (e de posição). Desconhecimento da arquitetura militar moderna conduz irremediavelmente a estes erros, também atribuíveis à INTERREG ou à Deputação de Pontevedra. Desde a redação dos estudos da CADIVAFOR não se assistia a uma danificação material tal, sendo do foro dos especialistas expor as suas pertinentes queixas. Esta falsa jardinagem complementa erradamente àquela obra premiada de Pablo Gallego Picard, o que vai dimensionar a natureza contraditória de dois espaços que pouco ou nada têm a ver, mas também pôr em causa esse prémio.  





 Vamos fazer citação do CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória) e de um trabalho coordenado por Manuel Joaquín Moreira da Rocha: "História da Arquitetura, Perspetivas Temáticas", cuja Comissão Científica é composta por José César Vasconcelos Quintão, Susana Matos Abreu e o já referido coordenador. CITCEM está ligado à Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), bem como a uma maneira muito nortenha de ver e focalizar as coisas. Assim, esse trabalho faz uma abordagem muito condizente e oportuna entre as arquiteturas civil, religiosa e militar num estudo cofinanciado pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) através do chamado COMPETE 2020 - Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (POCI) e por fundos nacionais através da FCT, no âmbito do projeto POCI-01-0145-FEDER-007460. Nele analisam-se aspetos bem exponenciais da arquitetura civil no norte do país (Casa da Câmara e Paço do Concelho de Guimarães; Escadaria de Aparato no palácio portuense do século XVIII; Casa Nobre no Concelho de Ponte de Lima; Solar de Bertiandos ou Trajetos da arquitetura civil na cidade do Porto do século XIX e primeira metade do século XX). Quanto a arquitetura religiosa refere: arquiteturas ideais para espaços sacros (estudo do projeto de Carlos Gimac para a igreja e coro do mosteiro de Arouca); Caracterização tipológica das fachadas das igrejas paroquiais da antiga comarca eclesiástica da Feira, séculos XVIII-XX. No apartado de arquitetura militar abrange estes títulos: Reais hospitais militares em Portugal; A fortificação no contexto da cultura arquitetónica portuguesa entre os séculos XVI e XVIII. Isto só quer dizer uma coisa, que o barroco e a Ilustração acompanham o devir nacional português desde 1668 junto do urbanismo e as suas diferentes expressões. Não há nada ao acaso, sendo que a casa nobre é continuação do "domus-fortis" medieval, por exemplo. Denominador comúm será o caráter revalidador da praça de guerra contra o inimigo castelhano. Margarita Tavares da Conceição diz no seu estudo coisas basilares que devem ter-se em conta à hora de respeitar os recintos militares modernos e o seu espaço: "Fortificação e arquitetura militar não são exactamente sinónimos, inserindo-se num campo multidisciplinar complexo que envolve arquitetura, engenharia, matemática, arte militar,  artilharia, urbanismo, arqueología, história militar, história da ciência e da técnica, história da arte. Se a arquitetura militar respeita a conceição de estruturas edificadas com uma finalidade quase sempre defensiva, já a fortificação envolve não só toda a atividade de invenção e construção de objectos de arquitetura militar, mas também todos os trabalhos necessários às operações militares, incluindo engenhos e o uso inteligente (e interviniente) do terreno, portanto envolvendo mais profundamente a engenharia (tal  como hoje a entendemos), implicando assim a conceição do próprio sistema de defesa. Nesse sentido, o conceito de fortificação corresponde também à noção de um saber -arte ou ciência de fortificar- que organiza um conjunto de regras para a criação de todo o tipo de recursos para tornar forte um determinado sítio e assim defender um território".    




 Diz também: "Arquitetura militar moderna é uma expressão corrente para designar as construções erguidas apartir do século XV, cujas características se apresentam como resposta a uma nova realidade técnica qual é o progressivo domínio da artilharia pirobalística, isto é, municionada por projécteis propulsados através da combustão da pólvora, as vulgarmente ditas armas de fogo". "Caracterização desta tipologia arquitetónica militar baseia-se na conjugação proporcionada de elementos construídos apartir de uma espécie de módulo, o baluarte. Estrutura construída com planta pentagonal irregular, que se destaca nos ângulos salientes de duas cortinas contiguas, o baluarte é constituído por três partes principais: faces (linhas salientes), flancos (linhas recolhidas onde se colocam as peças de artilharia) e gola (linha de ligação à cortina). O poder de fogo concentrado nos flancos concretiza justamente o princípio do flanqueamento, permitindo o fogo cruzado entre cada baluarte do polígono fortificado. Assim, o sistema abaluartado pressupõe a definição de perímetro a fortificar e a noção de flanqueamento de tiro, adequando os novos tratados ao ideal de não haver um único ponto que não fosse batido pelo fogo de outro ponto do mesmo recinto. Portanto, o baluarte não é um elemento autónomo, mas os seus ângulos (em especial o ângulo flanqueado) dependem do número de lados do circuito onde se encontra inserido, estabelecendo-se uma relação recíproca entre a forma do baluarte e o polígono que encerra o espaço".      




 Não se podem considerar estes textos como uma qualquer enteléquia. O facto dos fortes e fortalezas estarem hoje em día "desarmados" ou serem testemunhos de um passado que a día de hoje não é funcional não habilita ninguém para correr com eles transformándo-os numa autêntica caricatura do que foram. Espazo Fortaleza deu continuidade a um despropósito que priva de autenticidade ao âmbito externo de este forte moderno posterior ao Tratado de Lisboa. Virtudes e defeitos desta obra castrense não podem servir de álibi para colocá-lo ao serviço da indústria do turismo ou em terminal lista de espera.   




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